sexta-feira, 10 de junho de 2022

 O término


Querida Ansiedade, às vezes você me assusta. Temos que conversar, estou achando que nosso relacionamento é abusivo. Não te quero mais, por favor, pare de insistir. É estranho te sentir aqui, tomando conta de tudo que me pertence, me enchendo pouco a pouco, me paralisando, fazendo com que eu tenha dificuldade em respirar. Como você consegue controlar meus pulmões? 

Eu vou ser breve, mas temo que você não me escute. Para com isso! Eu não vou deixar de confiar nas pessoas porque você está com o pé atrás em tudo, agora não consigo confiar nem em mim mesma. Tem mais, acho um absurdo quando você me acorda no meio da noite querendo me fazer chorar. Isso dói, dói muito, sabia? Você nunca sabe, não é mesmo? Sua incerteza ainda vai me enlouquecer. Ultimamente você tem arrancado meus fios de cabelo e roído minhas unhas, nunca te senti tão presente, me machucando e usando minha mente como abrigo. Será que algum dia você vai me deixar? Me avisa antes, insisto, quero comprar vinho e queijo para brindar sua partida. 

Confesso, talvez eu já tenha usado nosso relacionamento para legitimar uma ou outra crise minha, mas será que não era você? Sei lá, estou sozinha e do nada você surge atrás da porta implorando que eu abra. Aliás, eu sei que você tem chave, pode parar de tentar me enganar, você roubou-a de mim faz tempo. Não estou no comando, você entra, quebra minhas coisas, faz bagunça e se esconde de mim. Quero terminar, está tudo acabado entre nós. Sinto muito.

Por Dandara dos Palmares

3 comentários:

  1. Querida Dandara, meus parabéns! Você conseguiu passar muito bem a sensação de opressão e desespero em decorrência da ansiedade. Ler seu texto me causou a sensação de que de repente o ar da minha sala não era suficiente. A sucessão de frases mais curtas e perguntas diretas foram essenciais para esse efeito. Parabéns! Gostei demais do seu texto!

    ResponderExcluir
  2. Dandara, esse seu texto fez com que eu me sentisse representado e tocado. "Sua incerteza ainda vai me enlouquecer": essa frase me tocou de um jeito diferente e muito profundamente. No fim, a ansiedade é isso, esse misto de incertezas que não são nossas, mas também não são dos outros. Gostei de como seu texto pareceu, no fim, uma carta para suas próprias sensações e não para a ansiedade em si.

    ResponderExcluir
  3. Querida Dandara, o seu texto conseguiu transmitir muito bem a oralidade proposta pelo professor! Além disso, também me identifiquei bastante com as sensações vividas por você. Confesso que, em certos momentos, a ansiedade também invade o meu quarto e me perturba à noite.

    ResponderExcluir