sexta-feira, 17 de junho de 2022

 Por isso, eu digo


Posso dizer que falar sobre sexo em sua mais pura exência ainda é um tabu, para nós que somos mulheres é pior. A pele na pele, arrepio na espinha, suor compartilhado e troca de olhares famintos.  Senti desejos sendo negligenciados ao ler seu poema, vi que parte dos meus desejos também estavam ali. Principalmente aqueles que não compartilho por medo, vergonha ou ingenuidade. Aliás Patrícia, você tem medo de contar seus anseios? Não posso agir como se fossemos íntimas e falar: "Ei amiga, fala tudo, sem vergonha. Compartilha comigo!” Não posso dizer. Por isso, não digo. 

 Não nego, desejo é algo bom e eu gosto. Gosto mais do que eu admito gostar. Acho que o prazer é necessário para uma pessoa, assim como água e consciência de classe. Temo não ser tão delicada quanto você foi ao descrever um ato tão descarado, não costumo ser assim e nem sei se consigo alcançar sua delicadeza. Confesso que ao conhecer a Patrícia que o Pena citou, fiquei admirada. Não pude deixar de te procurar no instagram para ver quem era essa moça que fez meus olhos brilharem com uma poesia. Admito, esse é um péssimo hábito que o dinamismo das redes sociais me fez ter. Mas  pulando esse papo digital, vamos falar do que não foi dito. 

Sexo. Existem muitas formas de fazer e outros tantos fetiches. Alguns mais difíceis de falar em voz alta, outros nem tanto. Não sou fã de anunciar aos quatro ventos tudo que gosto e não gosto na cama, mas sempre que tenho a chance, deixo escapar em uma conversa entre amigas. Em alguma época da minha vida o sexo não era algo bom pra mim porque não sabia o básico. Ninguém conversou comigo sobre esses atos, fui aprendendo sozinha algumas coisas simples como não ter medo de chegar lá. Por isso, sempre que tenho a chance de falar para uma ou outra colega, falo. Digo que transar é compartilhar. Não é justo estar lá só para saciar o desejo de outrem. Elas precisam saber. Por isso, eu digo.

Acho que esse é o meu erro, Patrícia, por que não compartilhamos com os homens também? No que esse silêncio ajuda quando pensamos que falar sobre sexo é um problema para as mulheres? Tenho a resposta: não ajuda em nada. Precisamos que saibam que desejamos estranhos sobre nós, que gostamos da força, do sufoco, dos olhos sufocantes, gostamos dos corpos expostos e ainda mais dos movimentos bárbaros. Podemos dizer, temos que dizer. Por isso, eu digo.


Com amor, Dandara dos Palmares.

Por Dandara dos Palmares

4 comentários:

  1. "Acho que o prazer é necessário para uma pessoa, assim como água e consciência de classe". Querida Dandara, essa sua frase é tão cirúrgica quanto cômica. Seu texto também é necessário. O diálogo, o ato do dizer e compartilhar os desejos é a parte mais importante das relações porque a própria ideia de relação envolve o entendimento mútuo entre dois indivíduos, do contrário não é relação, é apenas ruído. Não devemos nos segurar, devemos nos permitir sentir e extravasar o que nos inunda por dentro para com os nossos companheiros e daí construir algo. Devemos, dizer, gritar, devemos amar!

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  2. Dandara, querida, seu texto acima de tudo é necessário. Falar, ainda mais sobre o prazer feminino no sexo, é importante, é urgente, todas tem o direito de sentir o que há de melhor. Beijos, Manu.

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  3. Querida Dandara, concordo totalmente quando você diz que transar é compartilhar. Precisamos compartilhar experiências umas com as outras, também precisamos conversar mais abertamente sobre isso e, principalmente, com nossos parceiros. Já passou da hora da nossa sociedade conservadora entender que falar sobre sexo é questão de saúde pública.

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  4. Querida Dandara, concordo totalmente com cada palavra. Que texto extremamente necessário! Sexo e prazer são tabus e, por isso, acabam sendo privados das mulheres. Viva a liberdade sexual e liberdade na escrita. Que a sociedade possa se livrar dos tabus inadequados.

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