sexta-feira, 3 de junho de 2022

TODO CARNAVAL TEM SEU FIM


Não esperava escolher uma crônica de João do Rio para analisar aqui, mas parece que “Cinzas” acabou por conquistar o meu súbito interesse, e irei explicar meus motivos.

Cinzas traz à tona a conversa entre duas pessoas, provavelmente dois homens. Bom, não tenho certeza se podemos chamar de conversa, uma vez que só um deles fala, como várias pessoas das quais conheço, inclusive eu mesma. A tal não conversa ocorre em uma Quarta-Feira de Cinzas, e é sobre o carnaval de tal sujeito, que parece ter sido agitado, uma vez que ele fala que ficou doente por não ter dormido de sábado a quarta-feira, pois queria aproveitar o carnaval.

A crônica em si não parece ter nada de especial até o momento em que chego ao parágrafo final, onde um texto que me atingiu como uma bala é visto: “ -Que ganhei? Não sejas idiota, pelo amor de Deus. Diverti-me, ouviste? Diverti-me,
gritei, berrei, bebi, ri, corri, não dormi! Estraguei a saúde, estraguei a algibeira. Achas
pouco? Se o Carnaval não existisse era preciso inventá-lo. Porque ao cair da cinza é que a
gente vê o que o fogo da alegria foi de lucro só para os que não se divertem no carnaval...”

E talvez eu não esteja me referindo ao Carnaval...

Ou talvez eu esteja, afinal, o tempo que eu passei com ela foi como um carnaval, como aquela música do Geraldo Azevedo: “Dona da minha cabeça, ela vem como um carnaval, e toda paixão recomeça, ela é bonita, é demais”. Mas há um porém, como é dito no texto, todo carnaval tem seu fim, e eu me sinto em uma quarta-feira de cinzas, assim como o personagem principal do texto.

E aqui entra a frase final, o que eu ganhei com esse tempo que eu passei com ela? Me diverti, gritei, berrei, bebi, ri, corri, não dormi! Mas e agora? O que eu faço nessa quarta-feira de cinzas? Algumas pessoas me dizem para esquecer tudo, e lembrar também dos momentos ruins que levaram ao término, como se fosse algo possível, mas não é. Também não consigo ficar feliz pensando que o carnaval foi bom e ano que vem tem mais, talvez eu tenha desperdiçado o carnaval mais importante, talvez eu tenha desperdiçado o carnaval da minha vida, e não posso fazer nada quanto a isso.

Eu ainda tenho boas lembranças desse carnaval, e elas trazem a minha insônia a tona,  e eu quero me libertar. Falam que eu não posso sonhar com um novo carnaval, e devo me contentar com outras festas, já que o carnaval pode nunca voltar, mas eu amo o carnaval, e não quero me contentar com outras festas. Sinto como se parte de mim fosse embora junto com ela e sem nossa relação me sinto... como um grão de areia na praia, e não mais ao lado da estrela mais brilhante do universo como eu me sentia no carnaval.

Bom, espero que essa dor de não ter mais ela ao meu lado passe, e que eu possa ver a beleza em outras festas, mas sei que é um processo longo e louco, no qual vou me perder e me achar diversas vezes, mas sei que com a ajuda dos meus amigos, e através da produção de textos melancólicos irei me sentir melhor.
Por Ânima Bardot

Um comentário:

  1. Ânima Bardot, me senti tão tocada e representada em seu texto... Carnavais vem e vão... Mas olhe por outro ângulo, todo ano temos a chance de entrar na "folia" novamente...

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