sexta-feira, 10 de junho de 2022

 querida eu que nunca existiu...

quando tinha 12 anos achava que alcançaria uma fase da minha vida em que seria 100% feliz e plena. Nos meus planos isso estaria agendado lá para os meus 18 anos (que já se foram). Essa versão 2.0 de mim mesma não seria só mais feliz, na verdade, achei que conseguiria ser a mais inteligente e teria um corpo parecido com os das minhas barbies; feito muitas viagens, inclusive internacionais, e teria várias aventuras dessas viagens para contar. Nesse mundo paralelo, eu seria a pessoa mais bem resolvida, não teria traumas, seria só risadas, amada por todos e sem excessões, um namorado legal, uma nova personalidade: um tanto mais responsável, um tanto mais divertida.

Haviam tantos outros ideais que deixei para essa minha versão futura e inexistente. 


Então, querida eu que nunca existiu, por muito tempo achei que você seria a melhor versão de mim, mas tudo que você fez pela versão real, foi afoga-la em expectativas. 

Como você era a versão mais importante, a evolução de todas “eu”, desprezei a jornada das anteriores, que contribuíram para minha chegada até aqui. 

Essa carta, agora, me soa mais como uma despedida. Estou me libertando de tantas idealizações que me vestiram e me vestem, porque elas são pesadas demais para carregar. Vou sendo o que posso e dando o melhor de mim para a minha atual “eu”. Não sei se um dia conseguiria ser você, de qualquer jeito, estou em constante mudança. 

Consegui enxergar beleza nas imperfeições, e você não tem nenhum defeito, se lembra? Um dia me pareceu bom ser você e você era meu ponto de conforto quando as coisas não estavam indo bem. Obrigada por isso. Agora, preciso ir, porque não sou perfeita e são 9:58h, estou em eterna construção e ainda não aprendi a escrever a crônica com dias de antecedência. 

Por Mrs, Dalloway

Um comentário:

  1. Mrs Dalloway, gostei bastante do tema que você escolheu abordar. A leitura que fazemos do mundo em diferentes fases da nossa vida nos instiga a projetar uma imagem quase sempre inalcançável de nós mesmos. Você também foi muito feliz em estabelecer uma relação de proximidade com o destinatário e, consequentemente, com o leitor.
    Parabéns pelo texto!

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