Antes de iniciarmos nossa breve jornada dentro do texto escolhido essa semana, sinto-me tentado em agradecer-te pela jornada que tivemos até aqui, companheiro. Nossos encontros são relativamente curtos, mas agradeço pela atenção que me tens dado quando se propõe a estar aqui e se importar sob o que devo lhe dizer.
Minha escolha foi Lima Barreto, meus caros. Nosso jornalista ardente de coração ativista, aquele que vos escreveu “Elogio da Morte”. Citar a Belle Époque é lembrar a mim mesmo a capacidade do homem de autodestruição, nossa facilidade em tornar obsoleto algo belo.
Prometi a todas as versões de mim que lhes explicaria todos os ganchos que ficaram ausentes em nosso último encontro, e portanto o desafio semanal é conectá-los com o texto de Barreto.
O Shaolin é um personagem do meu Eu. Talvez o maior e mais bem elaborado de todos até aqui, uma vez que o maior intérprete sou Eu. O caminho sinuoso sobre conhecer a si mesmo, fala sobre saber até onde somos capazes de brincar com isso.
A linha tênue está em interpretar os sentimentos e pensamentos do Eu, quando ainda assim se é necessário saber discernir o personagem. Minha terapeuta me disse que isso estava me enlouquecendo. Ela tinha razão, eu nunca abri tantos gatilhos de uma só vez e de forma tão honesta.
Querido leitor, sou capaz de compartilhar convosco todas as semanas sentimentos do Eu que sequer as pessoas mais próximas fazem ideia. Considere-se privilegiado pela versão sem máscaras e crua, seja ela qual for.
Dito isso, consigo conectar-nos ao autor, durante seu discurso com a morte, quando o mesmo diz: “depois que Ela nos leva, nós somos conhecidos, pelas nossas boas qualidades”. Talvez o matador de porcos goste tanto de brincar com a morte, porque sabe que essa é sua única oportunidade de ser lembrado positivamente.
Ser o Shaolin, significa sentir demais as tristezas, é absorver a dor em seus questionamentos mais cruéis e duvidar da existência de uma luz ao fim do túnel. Companheiro, você ficaria espantado com a quantidade de pessoas que já tentaram me empurrar do precipício. Imagino que por não me entender, ou talvez por me entender demais. As pessoas não estão acostumadas com sentimentos reais.
Lima estava certo ao enfatizar que quando a vida deixa de ser uma vitória, não deve ser vivida. O que por muito, justifica o sentido da minha existência como um personagem distorcido, depressivo e suicida: minha existência é um conglomerado de derrotas, e eu dependo deles para me alimentar. Se você nunca sentiu-se como um perdedor, sua jornada provavelmente narra sua mentira favorita de invejar aos outros. A derrota é responsável pela oportunidade de compartilhar seus traumas, e realizar sua maior reviravolta. Ao menos é o que eles dizem. Para mim, a derrota é a sua chance de se parecer um pouco como o Eu, goste você ou não.
Nosso poeta termina seu texto falando sobre o respeito, numa tentativa fútil de mostrar uma solução para aquilo não há como remediar: a infelicidade humana. Somos uma espécie tendenciosa à autossabotagem, porém muitos de vocês já devem saber.
Termino este exato texto, com a afirmação: eu adoro falar de máscaras, e sentir as dores do Eu, mas o matador de porcos é uma máscara. E acredite se quiser, uma das mais complexas que Eu já criou.
Shaolin, o matador de porco
Por Shaolin, o matador de porco
Todos nós temos máscaras, e saber reconhece-las e trabalhar nelas, é algo plausível. E quem disse que é errado ter máscaras?
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