Para você que existe em algum lugar no mundo,
Aguardo ansioso a tua chegada em minha vida. Faço jogos imaginativos,ora divagando,ora baseando-me em parâmetros que absorvo da realidade circundante.
Olho-te sentada na cadeira, as costas um tanto curvadas,os cachos soltos, o sorriso magicamente suave, que não vejo, mas que sinto pelas vibrações que emanas ao meu redor. Escuto o som da tua voz, ela enche meus ouvidos, invade a minha mente, causa-me vertigem. Eu me sento milimetricamente equidistante, nem muito perto que não consiga suportar o impacto que a tua presença me causa, nem muito longe que me faça olhar para outra pessoa que não seja para ti. Querer-te e não te ter é o motivo da minha loucura. Não porque sejas relutante em me corresponder, mas por seres tu pura criação de minha mente.
Embora sempre diga a mim mesmo que amo o irreal, que nada do que amo em ti existe, porque tu não existes, eu não consigo parar de pensar no teu rosto, no teu perfume, no balanço do teu cabelo. Às vezes, pego-me pensando qual seria a sensação de sentir o teu suor na minha pele, de tatear os teus lábios com as pontas dos meus dedos. Às vezes, imagino que estamos nos encarando por dez minutos ininterruptos, como um pacto pré-beijo, em um não ser pulsante e selvagem. Mas eu sequer sei a cor dos teus olhos, eu não sei o formato da tua boca, eu não consigo sentir o gosto do seu beijo. Minha mente tem falhas incorrigíveis.
E, talvez por isso, não consiga parar de pensar em ti. Vivo a minha vida, sigo os meus projetos, contudo, sempre me volto para essa mulher de mando fácil, espírito desenvolto, de movimentos bruscos. Não quero ver o teu rosto, quero invadir a tua alma, conquistá-la às cegas, pelas minhas palavras, pelo som da minha voz, assim como fizestes comigo. Não, já me engano. Na verdade,quero conquistá-la pelo meu silêncio, isso sim é o que sou, o não dito, o escondido, o presente deixado debaixo da árvore para ser desembrulhado por último. Não o esquecido, mas aquilo deixado intencionalmente para ser conhecido mais vagarosamente. Eu gosto da lentidão, de sentir o tempo roçando nos pelos e poros.
Tu, com certeza, estás lendo uma edição da Ilíada recentemente comprada em um sebo, porque gostas de coisas antigas, estranhas, fora de moda. Não que a Ilíada seja estranha ou fora de moda, mas porque gosta de coisas parecidas comigo, mesmo sem ter me encontrado ainda. Não quero parecer um Ted e escrever mais do que uma carta para ti. Mesmo achando que tu serias a minha Robin, o encontro imperfeito para o qual passarei anos tentando voltar antes da minha morte.
Perdoe-me se não tenho tantos detalhes, é que tu não me deixas ver o teu rosto, aproximar-me alguns metros,fingir costume e intimidade. Só transmito distância. Porque eu sou o outro, criando-te à minha imagem, amando-te pelo o que quero e não pelo o que tu és.
Com amor,
Liev.
Por Liev Vitorino
Ótimo texto, Vitorino! Gostei muito da construção de uma cena e do caráter altamente descritivo do texto como um todo. Parabéns!
ResponderExcluirConheço essa sensação como ninguém, Liev. Achei muito interessante como você construiu cada frase com um propósito de idealizar um cenário para você e essa pessoa, também já fiz isso em todos os meus pensamentos quando quis muito alguém.
ResponderExcluirExcelente texto, Liev! Desejo que você possa viver esse amor no tempo certo e desfrutá-lo em toda sua intensidade. Só lhe peço uma coisa: não se feche às pessoas reais, combinado? Às vezes o amor está escondido onde menos esperamos: atrás de um defeito, uma mania... Faz parte da vida.
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