Uma pornografia depressiva
Querida autora, confesso ter ficado intrigado somente com a ideia de escrever para você. Talvez isso se deva ao desejo do Eu de habitar o audiovisual também, um dia. Enquanto Felipe narrava sua trajetória, humanamente pensei que gostaria de ser lembrado de mesma forma em um possível futuro.
Juntamente com a leitura veio minha confusão, podemos culpar minha empolgação por aqui. Dado a escolhas de palavras, imaginei ser um relato jornalístico poético sobre a cobertura de um assassinato. Até futuramente perceber que se tratava sobre o mais puro ato carnal do sexo, o que me fez questionar: por quê não estamos prontos para discutir sobre a obscenidade e obscuridade presente em atingir um ápice orgasmático? O Shaolin certamente estaria pronto para ganhar essa discussão.
Não pretendo ser poético sobre algo tão viril ou muito menos tentar convencê-lo sobre a reflexão dentro de algo que é apenas instinto humano. Transar. Movimentos repetitivos e prazerosos que tendem a nos mostrar o paraíso, suspiros ofegantes, mãos entrelaçadas, olhares ritmados e quentes. A oportunidade de conectar dois caminhos em um toque só. A questão abordada é: o que acontece quando tudo isso se perde?
O que acontece quando os momentos desejados são apenas aspirações? Quando os instintos são deixados de lado e tudo se torna o breu? Quando a dor da lembrança é pior do que o arrepio e choque do orgasmo? O que acontece quando uma essência se perde e se transmuta em um monstro?
A morte de uma memória, de forma turbulenta, violenta e sangrenta. Não literalmente, e por muitos talvez esse fosse o desejo, mas a sua eterna falta de cor. Um assassinato, talvez não estivesse tão equivocado na gênese de meu pensamento. Quando Pedrosa decide expor sua impossibilidade de relatar seu desejo, imagino sua sensibilidade por detrás das lembranças sexuais e selvagens relatadas. Um instante de pura vida que passa a simbolizar a morte de uma narrativa: o que poderia ter sido se estivéssemos falando do “poema do bem dito”?
Não sei. Muito provavelmente a querida Patrícia também não. No entanto, entendo-te como uma pobre alma sedenta por doses de sua favorita droga. Aquilo que mais nos sacia costuma ser o nosso maior veneno. Encontramos a autossabotagem e a tornamos uma perfeita companheira em uma jornada decadente e sem possíveis caminhos para a paz.
Perdoem-me por minha falta de linearidade, companheiros. Minha confusão precisava ser exposta de alguma forma. Prometo ser mais fiel a uma narrativa concreta, tentarei. Além disso, não descaracterizem minha máscara por sua ausência de tristeza e decepção inabitual. O sofrimento dramático e exagerado ainda pertence meu ser, sempre pertencerá.
Apesar de toda narrativa e peso exposto em suas palavras, através de enormes metáforas, meu espírito cru e vil enxerga apenas a essência uma pornografia depressiva. Você não pode dizer, Patriciar. Entendo você, eu também não posso. Em um universo de possibilidades finitas, o não dizer nos permite a oportunidade de abraçar aquilo que se pode ser dito, nos momentos perfeitos em que se podem ser ditos. Mesmo que seja um gemido ou um suspiro antes de alcançar o seu ápice sexual.
Diga. Fale. Pense. Exista. Seja.
Com carinho,
Shaolin, o matador de porcos e o Eu.
Por Shaolin, o matador de porcos.
"Em um universo de possibilidades finitas, o não dizer nos permite a oportunidade de abraçar aquilo que se pode ser dito, nos momentos perfeitos em que se podem ser ditos". Querido Shaolin, confesso que seu texto me instigou a pensar na beleza do que é de fato "não dito", fazendo com que valorizemos cada pequeno sentimento, grunhido, ou pensamento elaborado que é transmitido através das palavras. No momento que a euforia de um orgasmo é substituído pela dor da perda e da lembrança, toda mini palavra, gemido, grunhido, ou pseudo-sentimento exposto ganha significado espetacular. Devemos valorizar os pequenos momentos, devemos valorizar a beleza das pequenas coisas e pequenos gestos da vida! Obrigado pela reflexão, Shaolin!
ResponderExcluir"Aquilo que mais nos sacia costuma ser o nosso maior veneno". Shaolin, e Eu, meus queridos, que habilidade, a forma como vocês conseguiram expressar exatamente o sentimento do prazer sexual me encantou, a frase que destaquei, principalmente, me causará reflexões por um bom tempo, obrigado por isso, é sempre bom refletir sobre nossas ações. Beijos, Manu.
ResponderExcluirShaolin, excelente leitura e reflexões feitas sobre o poema da Patrícia! Compartilho com você a minha estranheza pela sociedade não estar pronta para discutir sobre obscenidade e, principalmente, sobre sexo.
ResponderExcluirInfelizmente, a nossa sociedade conservadora ainda condena a literatura pornográfica. Uma pena, pois ainda há muito a ser explorado nessa temática riquíssima!