sexta-feira, 3 de junho de 2022

Quando, meu Deus, ficaremos livres da burguesia?!


É a indagação de Lima Barreto na crônica O Jardim Botânico e suas palmeiras, publicada em 26 de junho de 1919. A partir do exemplo do jardim, que parecia fadado ao ostracismo, ele demonstra seu horror por uma elite inepta, sem gosto, que galga posições que não merece ter e desfruta dos louros comprando tudo o que for maior e mais caro. 


Enquanto lia o texto, imediatamente lembrei de uma publicação que vi essa semana, sobre uma blogueira famosa que “deixou escapar” nos stories do Instagram sua programação do dia, cuidadosamente planejada por uma equipe de marketing. Transcrevo a lista:



“Script básico do dia a dia:


Acordar com xícara de café, duas boquinhas e colocar horário;


Story único de 15 segundos dando bom dia e falando algo motivacional;


Repostar story de frase;


Mostrar algo fofo do neném em no máximo três stories;


Se maquiar nos stories;


Boomerang orgânico da make;


Repostar somente o que vale muito a pena;


Foto estilo Pinterest com hora e localização;


Repostar uma análise de mkt;


Boa noite com frase de pensamento”



Sinto muito, Lima Barreto, mas devo dizer que a burguesia continua como era há 100 anos: ignorante, preconceituosa, artificial e cada dia mais cafona. E a consequência disso, que recai sobre todos nós, é o estado em que nos encontramos. Nesse estágio do capitalismo neoliberal, até a vida foi terceirizada. Viramos escravos de nós mesmos. 

Pense comigo: quanto tempo você perde manipulando seu cotidiano para que ele pareça mais instagramável, e por quê?

Por Karmen Chameleon

Um comentário:

  1. Querida Karmen, concordo plenamente com você:" Viramos escravos de nós mesmos."

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