REPRIMIDOS, SEXUAIS E REVOLTOS
“Tudo nesse mundo é sobre sexo, exceto sexo. Sexo é sobre poder”. _ Oscar Wilde
Poema do mal dito, escrito por Patrícia Pedrosa certamente é um poema confuso, o que não é algo ruim, uma vez que os melhores poemas são difíceis de entender. Ainda assim, algo evidente é que se trata sexo, logo, fala sobre poder.
A relação sobre sexo e poder é óbvia, o ser humano é regido pelo prazer, e isso é engrenagem fundamental para fazer nossa sociedade girar. No entanto, é um tema complexo que não tenho tanta experiência para abordar. Esse tema foi muito estudado pela psicologia, sociologia e filosofia, o que nos mostra que é um ponto extremamente importante para se debater.
A sexualidade pode se mostrar como prazer, liberdade, conexão e criatividade, mas também pode ser opressão e repressão, e eu acho que é isso que o texto aborda. O Poema do mal dito, nos mostra uma pessoa que se reprime a todo momento, seja por não poder falar que deseja um estranho sobre ela, seja por não poder dizer que um sexo com “força animal” saciaria o seu “anseio revolto”. Essa sua repressão certamente se deve a cultura judaico-cristã, influente no mundo ocidental, que mudou a perspectiva que olhamos para o sexo, o vendo como um instrumento de procriação, e não necessariamente de prazer, o que é extremamente perigoso.
Tal ação se torna evidentemente perigosa quando a ligamos com a frase que eu disse antes, o ser humano é regido pelo prazer, e por isso, se reprimir sexualmente é quase igual a mutilar um pedaço de si mesmo. Segundo Freud, considerado o pai da psicanálise, a repressão sexual exercida por uma moral específica como a judaico-cristã, é uma grande fonte de doenças neuróticas.
Além disso, vemos que práticas sexuais não tão comuns, como as experimentadas pelo eu-lírico, como o sadomasoquismo, ou até mesmo um sexo mais violento, são julgadas como pecaminosas e estranhas pela nossa sociedade, ainda mais para grupos que não sejam o homem, branco, cis e hétero, e para esse grupo em específico, é considerado inaceitável estar em uma posição de submissão, uma vez que ele deve ser “macho” o suficiente.
Por isso, acredito que o eu-lírico do poema esteja se condenando por ter condutas sexuais não convencionais, como fazer sexo com estranhos e gostar de um sexo considerado violento, e mais do que isso, acredito que o poema nos leve a uma reflexão que é: Todos temos fetiches, por que não podemos simplesmente aceitá-los, ao invés de ficar nos reprimindo ou os fazendo escondido?
E eu sei o porquê disso. Isso ocorre porque sexo é poder, e mais do que isso, admitir que tem condutas sexuais diferentes das estabelecidas pela nossa sociedade é como lutar contra uma ditadura, um sistema opressor que nos atinge dia a dia, e é muito difícil lutar contra ele sozinho.
Mas o ponto é exatamente esse, devemos nos unir nesse processo, sexo é algo a ser discutido, sim! E mais, não seguir esse modelo opressor sexual deve ser motivo de orgulho, e não de algum tipo de vergonha. Devemos sim nos tocar, nos conhecer, fazer sexo com quem quisermos (desde que seja recíproco), experimentar tudo na cama, no quarto, na cozinha e onde mais quisermos, para assim, nos desvencilhar de qualquer coisa que nos reprima ou oprima, como a moral vigente em nossa sociedade.
Sexo é poder, e fazer sexo maneira que se quer, é revolução!
Por Ânima Bardot
Ânima, adorei a sua interpretação do poema da Patrícia! Concordo totalmente quando você diz que sexo é prazer, liberdade, poder e opressão. Infelizmente, a nossa sociedade conservadora insiste em impor um padrão de sexualidade e de se fazer sexo. A nossa luta é para transgredir essa bolha e, como você mesma disse, fazer a revolução!
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