Futebol, racismo e biologia: Crônica “Macaquitos” de Lima Barreto
Como um bom militante de questões raciais, Lima Barreto propôs assuntos de discriminação social em suas obras. Em “Macaquitos” o autor conta sobre episódios de racismo dos argentinos contra os brasileiros em uma partida de futebol em 1921. Porém, sua abordagem vai além do campo literário ganhando um caráter de investigação biológica e ao mesmo tempo social.
O jornalista não estava satisfeito com o fato daquele desprezível acontecimento não ter virado uma notícia, pois a atenção pública estava voltada para uma festa de aniversário de sei lá quem (pois é Lima, existe uma coisinha chamada gatekeeping que às vezes faz isso). Como ele mesmo diz, se o povo soubesse “estou certo que haveria irritação em todos os ânimos.”
Não sei até que ponto Lima Barreto foi irônico, ou melhor, genioso ao falar que “precisamos nos convencer que não há nenhum insulto em chamar-nos de macacos [...] o macaco é um dos mais adiantados exemplares [...] primo do homem.” Ele não estava querendo legitimar o ocorrido, ao contrário, vejo que ao escolher essa abordagem Lima mostrou que idiotas são aqueles que usam “macaco” como um termo pejorativo, racista e afim de desmerecer uma pessoa. O animal em si é inteligente, “quase todas as nações, segundo lendas e tradições, têm parentesco ou se emblemam com animais. Os russos nunca se zangaram por chamá-los de ursos brancos; e o urso não é um animal tão inteligente e ladino como o macaco.”
Os racistas, seres inteiramente egoístas e desprovidos de empatia e inteligência, não consideram o desenvolvimento cerebral dos macacos, tampouco se eles são “pelo menos primo do homem”. Eles usam esse animal por pura questão estética. Como o racista é vazio e desatento, tenho pena de pessoas incapacitadas assim.
Por Dandara dos Palmares
Querida dandara, seu texto e seu debate são de uma importancia singular. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluir