Ressoava pelo quarto o barulho do
ventilador velho. Incomodada, a garota se levantou e caminhou até o espelho que
ficava escondido no canto do cômodo. Pôde observar o seu reflexo e, em desespero,
se enxergar como há tempos não fazia. A primeira coisa que viu foram seus olhos.
Estavam caídos e inchados de tanto chorar, não possuíam aquela paixão de
antes. Ela se lembra como ele costumava dizer que seus olhos eram expressivos e
se permitiu sorrir. De repente, sentiu-se enjoada e quis se esconder de
si mesma. Mirou de novo seu reflexo, ou então, a parte de si que restou depois
de tudo.
Andou de um lado para o outro e, por fim,
sentou-se. Descansou o corpo na cadeira antiga e observou, com pesar, uma única
rosa murcha que repousava no canto do batente da janela, como fazia todos os
dias. Ela mesma havia posicionado a rosa naquele lugar, era um lembrete
doloroso de coisas que ela preferia abandonar, mas não sabia como. Continuou
olhando a rosa, e percebeu, como estava murcha. A única coisa que restou eram
os espinhos no caule e pétalas murchas. Um dia essa rosa foi um símbolo do amor
inalcançável, da luxúria e do romantismo. Agora, jazia em
um canto do quarto, assim como a garota, murcha e morta.
A
jovem sentia-se numa prisão naquele quarto mofado. Estava presa em
memórias e lembranças. Tudo naquele lugar exalava morbidez: as roupas reviradas,
as paredes descascando e a cama desarrumada. Tomou a flor em suas mãos, sem se
importar com os espinhos, e caminhou até o espelho e relembrou a sensação do
buque de rosas vermelhas nas suas mãos. As malditas rosas que haviam levado sua
individualidade e seu desejo. E, mesmo assim, ainda guardava uma
única flor daquele buquê.
Com passos rápidos, foi até o espelho de
novo. Dessa vez, pôde perceber no seu reflexo suas razões. A rosa sem
vivacidade pesava em suas mãos. A rosa murcha que ela guardava era um lembrete
de si e daquilo que lhe foi levado. Era um lembrete daquilo que ela poderia ter
sido se conseguisse se pertencer e se conseguisse sentir-se individual, assim como era
aquela única rosa murcha no canto da janela.
Palavras não
utilizadas
Perseverança-
sexo- tensão sexual- desejo carnal- fluidez- vontade- medo- pavor
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