sexta-feira, 7 de outubro de 2022

A rosa

 

    Ressoava pelo quarto o barulho do ventilador velho. Incomodada, a garota se levantou e caminhou até o espelho que ficava escondido no canto do cômodo. Pôde observar o seu reflexo e, em desespero, se enxergar como há tempos não fazia. A primeira coisa que viu foram seus olhos. Estavam caídos e inchados de tanto chorar, não possuíam aquela paixão de antes. Ela se lembra como ele costumava dizer que seus olhos eram expressivos e se permitiu sorrir. De repente, sentiu-se enjoada e quis se esconder de si mesma. Mirou de novo seu reflexo, ou então, a parte de si que restou depois de tudo.

    Andou de um lado para o outro e, por fim, sentou-se. Descansou o corpo na cadeira antiga e observou, com pesar, uma única rosa murcha que repousava no canto do batente da janela, como fazia todos os dias. Ela mesma havia posicionado a rosa naquele lugar, era um lembrete doloroso de coisas que ela preferia abandonar, mas não sabia como. Continuou olhando a rosa, e percebeu, como estava murcha. A única coisa que restou eram os espinhos no caule e pétalas murchas. Um dia essa rosa foi um símbolo do amor inalcançável, da luxúria e do romantismo. Agora, jazia em um canto do quarto, assim como a garota, murcha e morta.

     A jovem sentia-se numa prisão naquele quarto mofado. Estava presa em memórias e lembranças. Tudo naquele lugar exalava morbidez: as roupas reviradas, as paredes descascando e a cama desarrumada. Tomou a flor em suas mãos, sem se importar com os espinhos, e caminhou até o espelho e relembrou a sensação do buque de rosas vermelhas nas suas mãos. As malditas rosas que haviam levado sua individualidade e seu desejo. E, mesmo assim, ainda guardava uma única flor daquele buquê.

    Com passos rápidos, foi até o espelho de novo. Dessa vez, pôde perceber no seu reflexo suas razões. A rosa sem vivacidade pesava em suas mãos. A rosa murcha que ela guardava era um lembrete de si e daquilo que lhe foi levado. Era um lembrete daquilo que ela poderia ter sido se conseguisse se pertencer e se conseguisse sentir-se individual, assim como era aquela única rosa murcha no canto da janela. 

                                                                                               Por Vênus. 

 


                                             Palavras não utilizadas

Perseverança- sexo- tensão sexual- desejo carnal- fluidez- vontade- medo- pavor

Nenhum comentário:

Postar um comentário