Cresci em uma família complicada que tinha em suas entranhas preconceitos, comentários maldosos, brincadeiras humilhantes contra os outros. Procuravam se diferenciar das pessoas em coisas mínimas, se necessário - núcleo familiar, dinheiro (a menos), cor de cabelo, penteado e, tendo vezes chegado à cor da pele mesmo que de forma velada . Quando me vi sendo agarrado pelas mesmas questões, fugi. E, quando fugi, me tornei o outro, que não era suficiente para estar ali. Até hoje eles não percebem que os comentários e as críticas são todas a eles.
vou dar uma festa na minha casa de campo que fulano não tem
mas que mal consegue manter
fulana é burra, nunca fez faculdade
isso depois de terminar a sua no dobro do tempo e porque o pai pagou
Poderia listar muito mais aqui, coisas até muito mais cretinas, nojentas, complicadas de lidar, de ouvir, mas isso não seria possível nem se fizesse uma coletânea enciclopédica com atualizações mensais.
Lembro-me de uma vez, era verão, época de férias e o tópico da conversa era como ㅌ., esposa de ㅍ. era uma ótima pessoa, ela desdenhava do alheio “mas era de brincadeira, no que precisasse ela ajudava”. Quando ㅍ. traiu ㅌ., ela passou a ser “aquela lá que tirava dinheiro dele, falava de todo mundo pelas costas e queria acabar com a vida de ㅍ.” - falava de todo mundo pelas costas, diferente de mim que falo dela e de todo mundo.
Quando apareceu no cenário político contemporâneo uma figura que, se não fosse real, seria a mimese deles, achei que as coisas ficariam piores. Deus, pátria e família estariam acima de tudo e de todos. Me surpreendi quando ouvi comentários negativos sobre a tal figura que era um mal e iria contra ela e que não o representava. Quando disseram que era abominável as coisas que dizia e que alguém assim perseguiria tudo que fosse seu oposto - embora eles não fossem.
O que os levou a serem tão firmes contra esse mal? Culpa? Remorso? Identificação naquilo que foi dito mas, movidos pela ruína de Narciso, se puseram contra porque mesmo que falemos as mesmas coisas ele é mau? Não sei. Não sei se saberei algum dia.
Nisso tudo, uma coisa eu percebi: somos todos infectados por essa ruína em algum(ns) momentos da vida. É como um espelho d’água. O deles só está poluído de mais pelo fel de seus próprios fígados e eles sem se importam em tratar.
Afinal, o do outro está pior.
Vincenzo Carlo DellaVoce Rizzo Mancini
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