Um dia, você prometeu que seriamos inseparáveis. Acho que o problema foi ter colocado expectativas demais. Durante muito tempo, você era a única pessoa que eu realmente tinha. Quando perguntavam sobre você, dizia que era a minha primeira amizade. Me pego lembrando das rotineiras gargalhadas e percebo como o tempo pode ser tão cruel às vezes. De verdade, como as coisas podem ter chegado a esse ponto?
A relação que antes invejada por alguns olhares a quase desconhecidas. Acho que simplesmente aconteceu. Ou talvez tenhamos falhado em ter tentado um pouco mais. Novos ciclos, mudanças, e até mesmo a distância marcada pela pandemia, acreditei que nada seria capaz de quebrar algo que aparentava ser tão duradouro. Infelizmente, tive que aprender da maneira mais dura possível, já que os adultos me pouparam em avisar de que nada costumava ser para sempre.
De repente, encontro você em tal lugar no mesmo dia do meu aniversário. Um segundo. Você me cumprimenta. Dois segundos. Respondo de volta. Três. Anseio em desenvolver uma conversa. Quatro. No entanto, apenas sorrimos brevemente e seguimos vida a diante. Chega a ser um tanto incômodo imaginar que, exatemente nesse mesmo dia, anos atrás, estaríamos nos entupindo com pedaços de bolo de chocolate e brincando de queimado na rua.
Apesar de tudo, e ainda sentir falta, tenho muito respeito por tudo que passamos lado a lado. Você sempre será uma das minhas primeiras referências de alguém determinado e confiante com suas próprias ações. Até mesmo aquelas bastante questionáveis, onde eu precisava dar um puxão de orelha no final. Obrigada. Graças a você, também percebi que os relacionamentos se assemelham com a temperatura de um termômetro. Na mesma medida que crescem até chegarem ao mais alto pico, brilhando tal qual um florescente amarelo de felicidade, podem esfriar a qualquer momento, até se tornarem o mais escuro azul.
Palavras não utilizadas: vermelho, tentação, moral, cansaço, morno, reprimir, cinza.
Beca Rodrigues.
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