Como todo bom aluno, estudo a semana inteira em busca de chegar o mais rápido possível no final de semana, e acordar 12h sem ter preocupação nenhuma com horário, nem com matéria, nem mesmo com ninguém, somente comigo. Porém, aqui em casa temos um velho costume de família que é almoçarmos todos juntos no domingo, e vocês nem vão acreditar quem é que sempre vem almoçar aqui em casa … é ele mesmo, tio Flávio, aquele troglodita que só fala asneira, e fica querendo que todo mundo ria das suas piadas racistas e misóginas. Lembro de uma vez que ele disse " Negro tem que ficar limpando privada mesmo, onde ja se viu querer sentar em uma mesa em um restaurante caro? Esse mundo tá perdido! ", eu olhei bem no meio dos olhos dele e respirei fundo para não respondê-lo, mas me recordo de cada resposta que veio em minha mente, como: " você não tá vendo que está sendo racista, seu troglodita", ou até mesmo, "quem não deveria poder ocupar mesas em bons restaurantes são pessoas como você, misóginas e vagabundas". Todo final de semana é a mesma coisa, tenho que sentar ao lado de uma pessoa que é desprezível, e muitas vezes, até que tenta ofender minha mãe, dizendo que lugar de mulher é na cozinha ou que ela não pode trabalhar, no máximo de doméstica, e logo fico pensando, até que ponto laço sanguíneo vale mais que consciência? Ou será que seria melhor arrumar logo um racha na família para excluir ele de minha vida? Por isso, fico sempre naquele discurso clichê, entretanto, muito verdadeiro, que é mais fácil ser resistência do lado de fora, do que em meio a um cenário caótico de convivência em sua própria casa.
Autor: sobrinho do tio Flávio. (JB)
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