Eles costumavam ser comuns, nada fora da curva, não muito agressivos. Mas ao encontrar um representante de todos os seus preconceitos, que aflorava neles a perversidade, o desamor e o desprezo pelo diferente, suas vidas mudaram, suas falas mudaram.
"Os cidadãos de bem, religiosos" mostram uma nova face, algo que talvez nem eles soubessem que era presente. Frases como "pobre adora uma praia", "esse povo da favela vem pra cá pra poluir a vista", "hoje em dia todo mundo é viado", começam a ser mais frequentes.
Não há mais pudor, não existe medo ou qualquer cuidado com o que pode ser ofensivo (e até criminoso). Eles vestem a camisa, a do preconceito, da intolerância, da ignorância, a camisa verde-amarela. O casal veste a mesma camisa de seu presidente, "Brasil acima de tudo" é repetido sem ao menos uma pequena reflexão, o que é o Brasil? Quem é o Brasil?
Para o escritor que vos fala, o Brasil não pode ser retratado apenas com moradores de Arraial do cabo indo fazer compras com seu carro popular. Mas os personagens dessa história não se importam com a visão de Brasil "esquerdista" e "canalha". E assim eles vivem e sobrevivem, julgando e condenando o diferente, se recusando a dividir seu ambiente, por que eles iriam tentar entender? Por que ter empatia? Por que colocar em risco o que tem? Por que ajudar? Por que permitir que pessoas "inferiores" estejam no mesmo patamar que eles?
Esses indivíduos estão muito mais perto do que eles desprezam, e infinitamente mais distante da classe dominante. Mas preferem acreditar, até mesmo sonhar que um dia vão chegar e finalmente ter o poder de dominar, ao invés de se acostumar com a ideia de que lá não é o seu lugar.
Por Carol
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