Essa semana foi naturalmente tensa. Quantos eventos nos rodeiam? Para começar, o principal, o segundo turno da eleição eleitoral que por si só já é o pleito mais importante desde a redemocratização – levando como critério as votações recordes nos candidatos. Para os amantes do futebol, há uma final continental entre dois rubro-negros brasileiros no próximo sábado. Para quem se interessa por mundo, vejam só, Liz Truss renunciou recentemente depois de apenas 45 dias e o Reino Unido tem um novo premiê, Rishi Sunak. Sem falar em hardnews. Que semana tumultuada! E ainda nem acabou.
Decidi me posicionar fora destes assuntos que elenquei. Quero falar sobre algo diferente que me chama a atenção e me imputa a possibilidade de gerar uma narrativa interessante. Pois bem. Depois da Holanda, Uruguai, Malta, Canadá, Nova Iorque – única cidade citada porque os Estados Unidos têm um funcionamento diferente – e outros lugares, foi a vez da Alemanha iniciar um projeto para a legalização do uso recreativo da maconha.
Veja bem, enquanto em alguns países, como no nosso amado Brasil, se discute factoides eleitorais, falsas informações e discussões que têm como objetivo vil o retrocesso social, moral e ideológico, em uma nação, que já experimentou ser a mais odiada do planeta há oito décadas, há uma discussão absurdamente progressista em costumes. Acho muito relevante e exemplar!
Não quero dar aula de História para ninguém. Mas, além das atrocidades humanas cometidas, há um quesito econômico nas guerras do século passado. Não à toa, Alemanha e Itália haviam sido as últimas nações europeias a fazer a transição para a unificação do Estado, mais ainda, foram impactadas pela grande atuação da Igreja Católica na Modernidade. Uma cadeia de fatos e acontecimentos depois, ilustra bem o papel econômico que eles buscavam.
E aí vem o meu ponto: a Alemanha é um país que tem uma capacidade de recuperação completamente diferenciada. De sua unificação tardia para um levante que resulta na Primeira Guerra, do tombo nesta para a organização de suas tropas – e o terror nazista - que culminou na Segunda Guerra, depois seguem os anos até a década de 90 com a queda do muro de Berlim até sua reunificação, para no século XXI comandar a União Europeia após a crise de 2008. Que histórico de tombos e levantes. E isso tudo falo de um espectro econômico.
Outra coisa que me ajuda com o meu ponto. A Alemanha tem maioria de sua população cristã. Herança histórica que seja, o puritanismo e o catolicismo representam mais da metade de sua população. Apesar disso, o laicismo lá é real – sem crucifixos no seu Congresso – e respeita a separação entre Estado e Religião, se aparentando como fuga desse julgamento falsamente moralista que tentam impetrar para não se debater políticas sociais necessárias e importantes para o bem-estar da população.
Imagine você. Te mandam para 1939, na Alemanha nazista de Hitler, para contar que 80 anos depois, apenas 80, a Alemanha vai estudar a liberação da maconha. O que te aconteceria? Eu não gosto nem de pensar. Talvez pensar isso só me deixasse com mais raiva ao saber que há pessoas de carne e osso como eu que diziam que o nazismo é de esquerda. Obra dos bolsominions.
Eu não consigo expressar tão mais ferozmente o quanto acho que uma política de descriminalização e legalização das drogas como a cannabis é tão mais necessária no Brasil do que na Alemanha. Aqui, essa institucionalização poderia, não somente, quebrar a roda que gira hoje e favorece o narcotráfico, que tanto sobem BOPEs no morro para combater. Ou seria para assassinar pobres majoritariamente pretos?
A descriminalização e legalização aqui só faria o deputado que detém influência sobre fronteiras perder seu dinheiro sujo, só faria justificativas moralistas como subir favelas para frear as vendas se extinguirem. E isso não favorece quem manda.
E tem pobre que compra esse discurso. Não só. Grande parte o compra. É ser Lama e torcer para a Bota que o pisa, achando que é Bota. Consciência de classe, consciência de classe...
Talvez seja a primeira escrita minha que eu não tenha tematizado com o Inferno. Será? Pare para pensar quantos Infernos possíveis foram contados até agora. O Inferno da Alemanha do século XX, o Inferno do Brasil de Bolsonaro, o Inferno econômico do Reino Unido, o Inferno rubro-negro que tenta ser campeão, o Inferno que é viver nas comunidades periféricas (principalmente as do Rio de Janeiro). Nada é por acaso.
E a marcha continua.
por Dante Alighieri II
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