quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Tempo perdido

 A incerteza da vida é algo que vem me causando conflito há algum tempo. A velocidade com que tudo acontece num estalar de dedos.A cronometragem de cada segundo das nossas vidas me tira do sério. O tempo é meu maior desafeto por isso, porque eu não consigo acompanhar essa reviravolta frenética e incessante dos ponteiros. Sempre para frente e a todo tempo. Essa coisa louca que me faz escrever com pressa porque só tenho até às 23:59h. E essa coisa mais louca ainda que me faz viver com urgência porque não sei quanto tempo me resta. 

Talvez eu nunca entenda essa coisa do tempo de às vezes durar um milênio e às vezes um milésimo de segundo. Nunca o perdoarei também por fazer noites em lágrimas durarem tanto e os momentos bons passarem num instante. Parece que as tempestades são sempre mais demoradas que os dias ensolarados.

Muito pior que acordar no meio da noite e ser incomodado pelo tic-tac irritante do relógio é estar acordado vendo cada segundo passar na sua frente. Uma vida inteira sendo resumida a cumprir prazos com breves vislumbres de felicidade, é assim que me sinto. Provavelmente agora mais do que nunca eu sinta minha juventude sendo roubada, e sem devolução de um tempo que não vivi, que não aproveitei.

 É sempre sobre correr atrás do prejuízo, “nunca é tarde demais para correr atrás dos seus sonhos” eles dizem. “Sempre em frente / Não temos tempo a perder”, nossos pais já cantavam. Sempre correr, correr e correr. Mas às vezes é tarde demais sim, para dar aquele abraço, para dizer aquele “eu te amo”, para mais um passeio com seu pet, para comer aquela comida gostosa de novo. Quantos momentos de felicidade nos são roubados, e não adianta de nada correr porque o tempo não volta atrás. 

Os lugares se transformam, as pessoas deixam de estar aqui, as oportunidades passam, as relações acabam,os bens envelhecem, tudo muda, menos a constância do tempo. 

Falta tempo para estudar, trabalhar, viajar, namorar, se exercitar, se ajudar... tantos infinitivos e infinitas vontades. Sempre queremos ter mais tempo, mas quando é que de fato a gente tem? Será que temos todo tempo do mundo ou realmente não temos tempo a perder?

 Essa areia escorrendo pela ampulheta ainda vai nos sufocar. 

                                                                                                                 Maya

13 comentários:

  1. Adorei sua visão do tempo como vilão, me lembrou Alice Através do Espelho. E sim, essa positividade tóxica e a expectativa de queiram que a gente viva tão intensamente cansam as vezes, mas é sempre bom lembrar que é importante passar pelos momentos ruins para que os bons brilhem ainda mais na nossa memória.

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  2. Bom texto. As vezes, me pego pensando no mesmo. Infelizmente, não há tempo para lamentar. Se gastarmos nosso tempo lamentando, são possíveis tempos em que poderíamos estar sendo felizes, que estão sendo desperdiçados.

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  3. Belo texto! O tempo , de fato, é fascinante e ao mesmo tempo cruel e, com diz Caetano Veloso, "não temos tempo de temer a morte".

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  4. Eu entendo 100% a sua mensagem. É irritante o fato de as coisas poderem mudar de uma hora para outra e nós não termos absolutamente nenhum controle sobre isso. O tempo é nosso maior inimigo, mas não podemos nos lamentar, apenas viver

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  5. O barulho do tic-tac do relógio irrita até quando não tem relógio por perto, porque na nossa cabeça sabemos que o tempo está passando. Você falou tudo! Obrigada por esse texto e parabéns! Adorei!

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  6. Parabéns pelo texto, Maya! Amei o tema diferente que escolheu, e a forma como abordou ele!

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  7. Muito legal seu texto, maya. Curti muito sua raiva ser direcionada a algo que não temos controle e mesmo assim nos trás esse sentimento, parabéns pelo texto.

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  8. Que texto brilhante, Maya! Uma coisa que sempre me incomodou, mas eu nunca consegui colocar em palavras. Obrigada por isso, tenho certeza que não sou a única que se identificou com o seu texto.
    A linha entre o "temos todo tempo do mundo" e "não temos tempo a perder" é muito tênue", ainda mais pra nós, jovens. Espero que com o tempo (que ironia, não? rs) consigamos entender como como (con)viver com isso.

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    1. Sim. também me identifiquei muito.
      "Essa areia escorrendo pela ampulheta ainda vai nos sufocar", eu acho que ela já está.

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  9. Maya, que texto incrível! Me identifiquei muito com suas palavras e talvez essa seja uma das reflexões existenciais que mais mexa com minha cabeça: a relação com o tempo e o "e se", as possibilidades. Isso me mata. Parabéns!

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  10. Algo que sempre me desconcerta é perceber o tempo passando. Tudo o que fazemos é dentro da realidade do tempo, mas quanto mais ele avança, mais escapa de nós. Obrigado por usar suas palavras com tanto brilhantismo e produzir esse texto com que tanto me identifiquei. Adorei o jogo que você fez com as palavras no infinitivo e as infinitas vontades. Parabéns, Maya!

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  11. Maya, lindo texto. Ontem mesmo me peguei pensando a mesma coisa. Gostaria de culpar o capitalismo por dar tanto valor ao tempo e ao trabalho. O dia começa e acaba e você "tem" que fazer alguma coisa durante esse tempo para a tal da "produtividade". Sinceramente, meus melhores dias são os que fico deitada e lendo. Enfim, adorei sua reflexão sobre o tema e que me fez, mais uma vez, refletir também. Um abraço bem apertado!

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  12. Nossa, adorei a metáfora que fez da ampulheta, achei genial! As vezes também me pego querendo mais tempo para conseguir realizar as minhas tarefas do dia, principalmente, agora na faculdade. É coisa de louco, e quando nos dizem que temos todo tempo do mundo, parece brincadeira, mas ao mesmo tempo que tempo todo o tempo do mundo para gastar, já estamos o gastando, o negócio é escolher o que vale a pena gasta-lo mesmo, é o que acho.

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