DO NADA

 2007, Rio de janeiro, o sol quente agita a tarde das crianças no subúrbio carioca. Com todo mundo da  rua de férias, a única preocupação de todos era não chutar a bola em alguma janela. Bom, lá estava eu, eu e meu primo Rodrigo claro, afinal de contas, aonde ele estava eu ia atrás- no alto dos seus 11 anos , Rodrigo era minha referência, minha inspiração. A noite caiu, e com ela, vinha um chinelo empunhado na mão esquerda e um cinto na mão direita com um bem mal humorado:'' Vemm pra casa agooooora". Diante disso, cada um para as suas respectivas moradias.

   O jantar estava servido: arroz, feijão e frango. Tudo que uma criança precisava depois de um dia de correria. Toca o telefone fixo, os olhares rapidamente se cruzam, são 21 horas, quem tá ligando a essa hora e por que? Meu pai desaba, a desesperadora mistura do choro com sua voz rouca era algo completamente inédito pra mim. Rodrigo está morto, brutalmente assassinado com sua mãe Renata, por uma briga de vizinhos. Do nada, né? Pois bem, foi assim que eu recebi a noticia também, do nada.
   Então lá estava eu, perdido, no nada, lidando com a morte de meu melhor amigo como qualquer criança de 7 anos lidaria. Sem entender, quase que como uma ação instintiva, eu fixo o olhar na pessoa que sempre tinha uma resolução lógica pra tudo, minha mãe certamente saberia como resolver essa situação. Não dessa vez, com 12 tiros o mundo me ensinou que nem sempre haveria solução pros meus problemas, a morte não negociava, não barganhava e muito menos pedia licença.
   Passei anos tentando entender, buscando sentido na morte de meu primo. Na rua, as histórias eram as mais absurdas possíveis, minha família tinha virado quase uma lenda urbana. Incompreensão, a palavra que mais se aproxima do sentimento que nasceu naquele momento e vive entalado no meu peito até hoje, vive assim como eu e você vivemos, mas não como Rodrigo, Rodrigo está morto.

Rato Guaraná