18 de março de 2020, 9:20 da manhã. Quarto de visitas.
Mamãe,
Na maioria das vezes, escrevo só para mim. Escrevo em inglês para você e papai não
entenderem, mas dessa vez é diferente. Quando era mais nova, comecei um diário -
puro para uma criança de 8 anos - e você leu. Quebrou a confiança para te pedir
conselhos e para falar dos meus sentimentos. Nunca te contei sobre os garotos que
gostei, os meus encontros, o meu primeiro beijo, a minha primeira vez, as minhas
brigas e as outras coisas que considero importante na minha vida. É difícil me abrir
com você. As coisas que te conto viram fofoca ou você acha que é bobo. “Ah, Tessa”.
Você fala a mesma coisa quando choro. Não precisa me perguntar o motivo, só me
abraçar. Chorar me liberta, assim como escrever. Agora mesmo escrevo chorando com
medo de você entrar no quarto e me ver com olhos vermelhos e inchados. Não sei o
motivo de escrever para você. Senti que era o momento. Queria ter uma relação
melhor com minha mãe. A pessoa que me carregou por nove meses, que tem uma
cicatriz por minha causa, que me alimentou, que trocou minhas fraldas, que me viu
crescer. Não atingir suas expectativas foi e é frustrante. Mãe, eu sei que todos os pais
querem o melhor para os seus filhos. Eu reconheço todos os seus esforços, mas a
verdade é que eu não consigo mais fazer as coisas para te agradar. A briga entre a
razão e o coração veio e o coração venceu. Sempre gostei das letras, das palavras, da
leitura. Ler. Amo ler. Se pudesse seria aquela menininha do oitavo ano que sempre
tinha um livro diferente nas mãos. Moraria naquele ano. Gosto de pensar que você
sentia orgulho. Lembro de você no salão de beleza falando para desconhecidos que
“essa menina só fica lendo” e pensar internamente que você adorava falar isso para
escutar que ler é bom e que eu deveria continuar lendo. Os anos passaram, as leituras
diminuíram e os assuntos mudaram. As provas se tornaram uma tentativa falha de
validação. O estresse e a ansiedade vieram. As brigas voltaram. O choro voltou. Tantas
coisas eu gostaria de te falar. Meus sonhos. Meus planos. Todos esses anos passados
e os futuros que não cabem aqui. Espero que você leia essa passagem algum dia.
Mãe, eu te amo.
Sua filha.
Tessa Gray
Oi Tessa,
ResponderExcluirMe identifiquei demais o seu texto, sei como é difícil ter que se fechar pra pessoas que você deveria ser aberta.
Admiro a forma leve e aberta como vc tratou algo tão traumático, gostaria de ser mais como você.
Parabéns por ser tão sincera consigo mesma e transmitir seus sentimentos de forma tão bonita.
Maria Antonieta, obrigada pelo lindo comentário. É complicado passar por uma situação como essa, eu entendo. Eu tive muito tempo livre para pensar, principalmente ano passado. Mandando energias positivas para você. Mil beijos e forças, minha amiga!
ExcluirTess, honey.
ResponderExcluirHug you :(
Uma escritora com talento a ser descoberto nesse brasil
Obrigada pelo comentário, Rihanna. O que é esse elogio comparado a essa musicista tão talentosa. Esperando o novo álbum. Beijos, darling!
ExcluirAi, Tessa... eu já estive nessa situação e sei como é sufocante, não ter o seu espaço e seus sentimentos respeitados.
ResponderExcluirEu espero DEMAIS que um dia você e sua mãe possam se entender e que possam viver em um ambiente mais saudável. Tô mandando muito amor pra você daqui.
Paty maionese, obrigada pelo comentário. A situação é complicada, mas a gente se adapta e nos tornamos mais fortes. Espero que tenha dado tudo certo para você! Só energias positivas para nós. Beijos!
ExcluirTessa, eu achei seu texto muito bom. As palavras muito bem colocadas.
ResponderExcluirVejo sinceridade e esperança!
Espero que um dia vocês possam reconstruir essa relação.
Estrela Téte, obrigada pelo comentário. Fico feliz que tenha gostado do texto. Agradeço pela mensagem de otimismo. Mil beijos e abraços!
ExcluirForças, Tessa. Ela pode não te entender hoje, mas espero que um dia entenda e vocês possam ficar 100% bem.
ResponderExcluirModo Anônimo, obrigada pelo comentário. O futuro vai nos dizer a verdade. Agradeço pela positividade. Mil beijos!
ExcluirAssim como disse para Elipse, digo para você: muitas pessoas devem compartilhar sua dor. Inclusive eu.
ResponderExcluirContinuo achando que a melhor forma de resolver esse problema é conversa.
Tenho certeza que sua mãe ainda tem muito orgulho de você e que ela ainda te ama com a mesma intensidade, se não mais.
Aos poucos vocês duas vão recuperar a intimidade e o tempo perdido.
Espero que tudo dê certo para vocês duas. Amor de mãe é único e espero que você saiba disso um dia também.
Seu texto foi escrito maravilhosamente bem. Parabéns.
Ellis Bell, obrigada pelo comentário. Fico alegre que gostou do texto, mesmo que o tema tenha sido uma de suas dores. A conversa sempre é o melhor caminho, concordo. Afinal, brigas para que? Mil beijos para você e estou enviando energias positivas!
ExcluirSeu texto foi emocionante e lindo. Espero que tudo fique bem entre vocês com o tempo. Parabéns, Tessa!
ResponderExcluirMaya, obrigada pelo comentário! Que bom que gostou do texto. Espero que goste dos próximos também. Agradeço a mensagem de esperança! Mil beijos para você, minha cara!
ExcluirSeu texto ficou muito bom , Tessa! Imagino o quanto deve ser difícil não ter uma relação tão aberta com sua mãe , mas, vai melhorar!!!!!
ResponderExcluirJubiabá, obrigada pelo comentário e fico muito contente que tenha gostado do texto. É difícil, mas são com essas situações que a gente fica mais forte. Agradeço! Abraços, meu caro!
ExcluirCaramba, sentir que precisamos nos fechar das pessoas que mais amamos desse jeito deve ser bem difícil mesmo. Eu senti e imagino o tamanho do amor e vontade de se sentir válida perante a sua mãe, mas saiba que por mais desacreditada esteja, nunca será possível saber como ela se sente também se não perguntar. Eu sei agora como se sente, e imagino como sua mãe posso se sentir, mas só perguntando a ela que você terá a certeza do que aconteceu todo esse tempo com vocês duas. O diálogo salva muito, eu recomendo.
ResponderExcluirobs: tenho certeza que sua mãe te ama muito, você merece.
Estrela do Mar, obrigada pelo lindo comentário. A situação é complicada, mas com o tempo a gente aprende a lidar. Concordo com a parte do diálogo. Acho super importante. Contextualizando, minha mãe é uma mulher fechada, principalmente com sentimentos. Agradeço pela mensagem! Beijos e abraços, estrela!
ExcluirEntendo, difícil mesmo essa situação. Mas foi como você disse, vamos aprendendo a lidar aos poucos e com tempo. Beijos!
ExcluirTessa, me emocionei muito com seu texto pois pude sentir cada palavra. Imagino o quão chateada essa situação deve te deixar e pude sentir isso lendo. Espero que tudo fique bem, ótimo texto.
ResponderExcluirAsas de Ícaro, obrigada pelo comentário. Fico muito feliz que conseguiu sentir as palavras, era a intenção. Agradeço a mensagem! Mil beijos e abraços, meu amigo!
ExcluirTessa, muito emocionante o texto, o formato de carta se encaixou perfeitamente. Espero que você fique bem <3
ResponderExcluirSarah da KGB, obrigada pelo comentário. Ainda bem que você gostou! A carta é uma passagem do diário endereçada a mãe - a única coisa que ela conseguiria ler provavelmente. Agradeço o carinho. Fique bem também!
ExcluirMuito bonito o seu texto!! Espero que você possa ter a oportunidade de falar tudo isso á ela pessoalmente, acredito que ela se sentiria muito feliz em saber e vc aliviada, Parabéns Tessa !!
ResponderExcluirÍris M, muito obrigada pelo comentário. Creio que essa passagem é a "conversa" com a mãe para aliviar a dor - "Chorar me liberta, assim como escrever". No fim, a filha tem esperança que a mãe vai bisbilhotar o diário e encontrar a única coisa escrita em português - a carta. Fico muito feliz que tenha gostado! Beijos!
ExcluirTessa, muito emocionante seu texto. É bem triste essa situação de nao poder se abrir com pessoas tao importantes. Espero que um dia uma conversa ou a força do tempo mudem o rumo dessa história. parabéns pelo texto
ResponderExcluirRato guaraná, muito obrigada pelo comentário. Realmente é uma situação complicada. Só o futuro sabe. Fico contente que tenha gostado. Beijos e abraços!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTessa, seu texto chegou para mim de uma forma muito tocante pois compartilho desse sentimento de querer ter uma boa relação com a minha mãe. Me vi em quase todas as situações que você narrou e sei o quanto dói. Muito obrigada por compartilhar com a gente e parabéns por essa escrita linda! Forças e luz no seu caminho!
ResponderExcluirOi Elipse! Obrigada pelo comentário. Tive a mesma sensação quando li o seu texto. Fico feliz que conseguiu se identificar e triste ao mesmo tempo pela situação. Agradeço a mensagem. Um abraço bem apertado!
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