Carta de desabafo

 Querido Dindo( se é que posso te chamar assim , já que “dindo”, para você, sempre foi

“coisa de viado”),

Essa carta pra você começa há uns 10 anos ( por volta de 2010,2011, não lembro

exatamente),quando eu, um garoto de uns 8 anos de idade, um tanto quanto afeminado,

confesso, ouvi o senhor me chamar de “ futuro viadinho” na frente de todos da família,

em pleno natal. A partir dali, padrinho, minha vida nunca mais foi a mesma.

A começar pelos conflitos internos que passei a enfrentar diuturnamente. Eu era uma

criança , que não tinha a menor noção de sexo, gênero e sexualidade, e que se deitava

diariamente com diversas perguntas na mente: “Eu sou viado?”;” O que é ser viado ?”;

“ E se eu for ?”. Você imagina o que é isso na cabeça de uma criança criada em um

ambiente extremamente conservador ? Acredito que não , afinal , isso não são

preocupações de macho , provavelmente diria o senhor.

Além disso, dindinho, a minha vida passou a ser constantemente monitorada, por onde

andava, com quem andava e até mesmo meu celular, meus pais olhavam toda noite. Eu

nunca pude pintar o cabelo e muito menos usar brincos( afinal, se já falavam que eu era

bicha antes, imagina de brinco, né? ).

Porém , dindo, não escrevo essa carta apenas pra trazer essas lembranças , mas também

para lhe dizer que o senhor estava certo. SIM, eu sou viado, bicha, viadinho, bichinha,

invertido e todos os outros os adjetivos que já me chamaram, mas, hoje, com a

maturidade que eu tenho, só tenho orgulho de ser muito diferente do senhor e de todos

que me atacaram e atacam . E, por fim, gostaria de dizer que sou muito mais “macho"

que você ( e que todos da família, aliás). Quantos aguentariam passar por tudo que

passei? Mas, esses são assuntos para uma possível futura carta, quem sabe?

Jubiabá