quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Egoísmo nas trincheiras

 Todos os dias a história transcorre em seu passo ininterrupto. Mas esses tempos, no calor do presente, em que escrevo são daqueles que sabemos, com certeza, marcarão presença num capítulo das obras didáticas de amanhã. Falo sobre uma guerra em que a única trincheira entre nós e o inimigo é uma máscara. Abrir a porta de casa é entrar em território hostil. Um inimigo invisível, que não deixa pegadas, nem armadilhas aparentes. Me sinto Ethan Hunt, fazendo malabarismos para cumprir uma missão, que nesse caso é fugir de um microscópico vilão que usa coroa, ou corona no erudito latim científico e quer ir além do micro, conquistando o reino macro da vida. A trilha sonora do intrépido agente do filme toca no pensamento, enquanto higienizo mãos, e pertences ao entrar. Mas o inimigo ainda espreita. Um cenário de perigo, como nos filmes de catástrofe.

O navio afundando. Enquanto a água bate pelos tornozelos, alguns procuram a proveniência do iceberg. Outros preferem ignorar o mar invadindo o salão. Não há nada acontecendo para estes. Toca o barco, se naufragar, e daí? Que os músicos não parem de tocar! Que comemoremos com os sobreviventes, num banquete regado a tubaína. É o que dizem com a água nos joelhos, mas quando chega no pescoço correm aos botes. A diferença é que nossos botes são pequenos frascos, frágeis e limitados. Mas assim como no navio de outrora, empurram quem está na sua frente, para furar a prioridade da fila, condenando outras vidas, num afã egoísta.

A fórmula. A arca perdida dessa história, a qual os corajosos caçadores de jalecos brancos encontraram em árdua tarefa. Mesmo depois de tê-la em mãos, precisam ainda enfrentar os nefastos servos da negação, que promovem festas, que mais parecem tributos ao intangível inimigo; recepcionam-no de braços abertos, tornando-se súditos de um reino de destino trágico. Numa corrida nada divertida, sabotam o carro da imunização, tal qual Dicks Vigaristas às avessas. Digo às avessas pois até o atrapalhado personagem age tentando ganhar. Nesse caso não ganham. Apenas deixam o corredor invisível tomar a dianteira, levando em seu rastro mais de 200 mil, contando só aqui no nosso Brasil.

O Náufrago

11 comentários:

  1. Texto incrível! Metáforas e referências maravilhosas, confesso invejei seu intelecto e habilidade. Parabéns, Náufrago.

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  2. Parabéns pelo texto! Gostei muito da forma como você passou essa mensagem de uma maneira diferente. Sua escrita foi linda!

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  3. Amei suas analogias! Seu texto está impecável. Parabéns!!

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  4. Adorei o texto, muito criativo e cheio de referências!!

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  5. Parabéns, Náufrago! Fiquei um pouco perdida em alguns momentos do texto mas amei a forma com você escreveu! Consegui sentir seus sentimentos!

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  6. Náufrago, adorei a ideia do texto com as analogias e metáforas, porém como a letra x, também me senti um pouco perdido em alguns momentos.

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  7. Náufrago, quantas metáforas incríveis e que texto bem construído! Parabéns!

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  8. Náufrago, que texto maravilhoso. As referências, a escrita e a fluidez. Muito bom mesmo. E uma situação que nos deixa totalmente abalados. Meus parabéns. Ansiosa para ler seus próximos textos! Um abraço bem apertado!

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  9. Ótimo textos e ótimas referências, realmente a analogia dessa pandemia de Covi-19 com o Titanic até parece viável, se vermos o quanto as pessoas já estão desistindo e se jogando do barco ou, pior, pulando e empurrando quem esta perto junto. Sinistro!

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