quinta-feira, 18 de abril de 2019

Apenas mais uma

 Agora pouco estava revendo nossas fotos, relendo as cartas. Foram muitas ao longo desses seis anos. Algumas triviais, de aniversários, dias dos namorados. Outras dos nossos inúmeros términos e reconciliações. Em todas, mesmo traduzindo momentos distintos, fica nítido a admiração que temos um pelo outro e a gratidão por nossos caminhos terem se cruzado. Mesmo na última que me entregou. Quando decidiu pôr um ponto final.

 Ponto final esse que não foi por acaso. Eu, principalmente, não estava bem. Me desculpe por esse defeito de não conseguir externar os problemas e agir como se andasse tudo bem. Não andava. Me escondi, guardei as mágoas, tive medo de enfrentar o que me destruía. No fundo eu sabia que estava doente. Mas não consegui admitir. Nem pra você, nem para mim.

 Foi compreensível a sua decisão. Eu não reagi. Não tive argumentos. Nem ao menos discordei. Você, coerentemente, confirmou a tese de que eu não me importava mais. Hoje, sabe que não é verdade.

 Ao longo desses meses, muita coisa se passou. Busquei forças, deixei de lado o orgulho. Voltamos. Brigamos. Terminamos de vez - agora vai -. Voltamos.
Porém as marcas ficaram e, pela primeira vez, tive coragem de encarar o que a poucos meses era impensável. Decidi seguir sozinho e tentar apagar a falsa ideia de que dependíamos um do outro. 

 Porém histórias complexas, como nossos sentimentos, não possuem finais simples.Você acabou se arrependendo por algo que não teve culpa. Eu me obriguei a seguir um caminho que não gostaria de ter seguido. Estamos aí. Perdidos. Nos acostumando com o que parecia um devaneio. Esperando que isso tudo passe. Ou não.

 Não sei se estamos no final de uma longa história, ou apenas no início. Porém, tenho a certeza de que o sentimento ainda está presente e suas raízes, mesmo com tantas tentativas de serem arrancadas, resistem com grande paixão ao solo em que as plantamos. 

 Te escrevo isso, para que depois de tudo o que vivemos, aquela carta que li a alguns minutos, a do ponto final, não seja a nossa última recordação. Porque enquanto ainda houver sentimento, haverá cartas a serem lidas.
Ana Thaís Matos

Um comentário:

  1. Oi! Gostei muito do seu texto! Pontuação bem certinha, estética bem bonita...Tá de parabéns!
    Tô aqui me perguntando seriamente se a parada das cartas é real, ou se você usou isso só pra dar um ar mais literário, mais poético - risos -. Quem, em pleno 2019, ainda escreve cartas?! Se é real, uau! Você é realmente um ponto fora da curva kkk

    O único errinho que não pude deixar de notar foi ali no final, na parte do "aquela carta que li a alguns minutos". Nesse caso, o certo seria HÁ alguns minutos. "Há" a gente usa pra passado, e "a" pra futuro.
    Um beijo <3

    ResponderExcluir