quinta-feira, 18 de abril de 2019

Niterói, abril de 2019.


As nuvens escondem o sol de uma forma melancólica hoje e a chuva cai fraquinha do lado de fora da cafeteria. Sentei-me ao lado da janela de vidro para tentar, pela milésima vez, escrever sobre meus piores pesadelos, ou melhor, sobre o protagonista deles.  
Fazem aproximadamente 3.407 dias desde que nossos caminhos se cruzaram pela primeira vez.  Aproximadamente 487 semanas desde que tocou minha pele pela primeira vez com a faca. Aproximadamente 112 meses que acordei com chutes e vi uma sombra levantar a mão e ouvi minha mãe me implorando para correr. Sombra da subversão, que causa o caos, dissol vendae em latim, meu medo. O senhor.
O senhor que não tem meu sangue nas veias, mas possui muitas das minhas lágrimas ao cair da noite. Dissol, que amarga as minhas memórias e descoloriu meu livro azul para preto e branco. Azul após a ida do meu pai ao mercado para comprar cigarro, preto e branco porque depois que respiramos o mesmo ar em alguns metros quadrados por três anos, eu não sei mais quem eu sou. Após nove anos, eu ainda não me reconheço. Não porque a vida está em constante mudança, mas sim porque Vendae me envolveu em sua escuridão e sugou toda a minha essência, antes de sua presença, pura.
Caos, fonte das tormentas das madrugadas que a mim deveriam pertencer, que faz com que minha progenitora se arrependa de ter casado uma segunda vez. Minha sombra, que persegue e destrói.
Preso em marcha ré, quando as lágrimas começam a rolar pelo seu rosto. Quando você perde algo que não pode substituir.”
Quão certo estava Coldplay ao cantar essa música? Volto constantemente ao passado para colocar meu antigo eu para dormir, sussurro em seu ouvido que no futuro ela não terá que se preocupar com isso. Que o sol nascerá e iluminará sua vida com o seu tom alaranjado tão pacífico e aquecerá seus sentimentos.
Mas como disse no começo, hoje é um dia nublado e cá estou eu, relembrando o passado, fingindo (não tão bem) que passou. Ainda estou presa em marcha ré, ainda minto para a minha criança interior. Ainda sinto as consequências da margem de erro que fez o meu destino cruzar o de Dissol Vendae. Ainda sinto minha alma sangrar.
Eleonor Dummont

4 comentários:

  1. Puta que pariu! Não sei nem por onde eu começo esse comentário, de verdade! Um abraço virutal pra você, porque infelizmente não vai ser possível dar o de verdade que eu quero dar em todo mundo que tá se expondo e escrvendo aqui.
    E, CARALHO, ELEONOR! Não li todas as crônicas ainda, mas até agora você foi a pessoa que conseguiu expressar o trauma da forma mais poética e "bonita". Eu sofri, apanhei MUITO pra escrever, e mesmo assim ainda tenho a sensação de que saiu muito crú, muito ruim, muito "não literário".
    A linguagem, o latim, a citação de Codplay (que por sinal eu AMO), ficou PERFEITO. Não tenho realmente nenhuma crítica a fazer. Você cumpriu com maestria a tarefa de transformar o trauma em arte, porque se isso não é arte, eu não sei o que é. Sinceramente, eu preferia que você não tivesse o feito. Preferia que você não tivesse esse trauma, assim como todon mundo aqui. Mas não consigo parar de elogiar o seu trabalho. O Pena que me desculpe, mas eu vou dar biscoito, SIM! Não tem como não dar.
    A contagem, as analogias sobre cores e sobre o tempo, o que você fala sobre a criança interior...CARALHO! Você não tem ideia do quanto isso me tocou.
    Sou sua fã, de verdade!
    Bjs <3

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    1. Obrigada pelo biscoito e por ter notado esses pequenos detalhes que eu temia que passassem batido! Agradeço também suas críticas em outras crônicas (e na minha anterior) pois são extremamente uteis. Força a todos nós que travamos batalhas diferentes todos os dias!

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  2. Sinto muito pelo que aconteceu. Sinto mais ainda por você ter que fingir que tá tudo bem. Se precisar dar uma desabafada, chama no probleminha (e-mail que fala). Quanto ao texto, nenhuma crítica.


    Desculpa, professor, a gente tem que reconhecer...

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    1. Muito obrigada e sinta-se abraçada (imagine um emoji de coração aqui)

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