Segundo Ato

 Não tinha nada de errado no começo  Eu não sentia nenhuma culpa ou remorso. Precisava fazer aquilo, meu dinheiro no banco já estava acabando. Culpa da minha família, é claro. Além de “chefes”, eram também o motivo de ter sido criado como alguém que faria de tudo pra continuar sustentando suas regalias. Tudo o que  precisava  fazer era enganar uma mulher, herdeira de uma empresa concorrente a nossa, e me infiltrar a ponto de saber o suficiente para os ferrar. 

 Foi rápido conquista-la, tinha certa ingenuidade quando o assunto era amor. Não precisei mentir muito, na verdade. A única coisa que me exigia uma bela atuação era fingir ama-la. E, pra melhorar, eu gostava de sua presença. Ela era extremamente adorável e tinha uma risada gostosa de ouvir. Quando eu perguntava de sua empresa, não se incomodava de responder. Tudo caminhava como o planejado.

 Entretanto, começou o segundo ato da farsa em que eu atuava.

 Em algum momento eu confundi a realidade com o roteiro que deveria seguir. Os olhos pequenos começaram a me prender cada vez mais, assim como a vontade de ouvi-la contar sobre seu dia. Meu trabalho era conquista-la, mas, de modo importuno, ela também me conquistou.

 Eu a amava, mas começamos como uma mentira. Ainda éramos uma mentira. Se era amor de verdade, eu deveria contar a verdade, certo? Contar que tudo não passava de um plano para ferrar com sua empresa, independentemente de ter me apaixonado por ela no final. Ou deveria manter a mentira? Era a opção mais cômoda, pois teria meu dinheiro e ela ao meu lado.

 Deveria colocar um fim nisso. Encerrar o espetáculo e sucumbir ao final trágico. Mas eu escolhi seguir o roteiro, e abraçar a farsa satisfatória em que vivia.

Nix