Uma criança de oito anos está
ainda menos preparada para a morte. Ainda mais de sua mãe. Se adultos enrolam-se ao falar sobre a
concepção da vida, quem dirá sobre o seu esfacelamento. Dois dias depois de
versões estapafúrdias, entre protocolares salgadinhos servidos no cemitério do
Caju e balbucios de familiares que não faziam ideia de como consolar o meu pai,
lá estava eu no velório da nossa Cotinha. Atônito, eu entendia, só não
acreditava. Porque se ela sabia o que era o mundo sem mim, o contrário não
procedia. Quem me faria cafuné durante os filmes da Disney? Meu pai não sabia fazer
canjica. Mas me mirava compenetrado, como se abraçasse de longe apenas com seu
olhar de piscadas vagarosas. Nunca tive coragem de perguntar se era só o
Rivotril, se era por desespero de criar um filho sozinho dali em diante, talvez
a grana apertada em casa, provavelmente por seu peito agora órfão. Mas sinto
que também era por não saber o que dizer pra mim. A tampa do caixão sendo
fechada e minha mãezinha ali, de olhos cerrados, como a dormir um sono
tranquilo, com um inquietante sorriso sutil. Tão vívida quanto vazia. Era e não
era ela.
Vivi amores de lá pra cá. Numa
referência fantasiosa do que deveria ter sido o amor deles, desconsiderando
todos os defeitos que a saudade é capaz de apagar. Também vivi desamores. E a
sensação é de que a gente perde uma parte do corpo. Mesmo que fique algo, a
verdade é que sempre passa. Menos no caso da Dona Lourdes, da Tia Lu, a
Cotinha, minha mãezinha. Sabe, é como se eu sentisse a dor no membro fantasma.
Ao partir, criou uma régua cujo limite nenhum sofrimento alcança. Todo o resto
é secundário.
Sempre que vejo um amor partir,
sinto que me despeço de mim mesmo. De uma versão de mim que só existia diante
daquele determinado encontro. Quebra-cabeças que perdem o encaixe porque as
bordinhas esfarelam. E é terrível no teu caso, guria, porque você está aí viva.
No dia que a gente se esbarrou por Itacoatiara, foi como o velório da minha mãe:
um sorriso de canto de boca, teu corpo intacto, mas a tua frieza retratava que
a alma já tinha partido.
Traumas são ssinaturas
escarificadas em nossa pele. Você passou, me mudou e deixou cicatrizes. Ninguém
é substituível, mas só há um vazio sem escapatória. De todos os amores, a única
ferida que não cessa é o sonho irrealizável com o dia em que vou recostar no
sofá, sentir o cheiro que vem da cozinha, aquelas mãos suaves deslizando no meu
cabelo, quando posso finalmente dizer: minha Cotinha, ainda bem que você
voltou!
João Cadeado
Não sou fria. Eu tô chorando, tô querendo te abraçar e dizer o quão corajoso você é por dividir isso aqui, além de mil outras coisas que eu nem consigo pensar.
ResponderExcluirApesar disso, minha missão é comentar, criticar. Puta que pariu, sem palavras pra comentar o quão difícil é bancar o crítico quando os assuntos são tão delicados.
Vamos lá, né...
ALi no final, você esqueceu o A de assinaturas.
Acho que a crônica poderia estar mais bem organizada estéticamente, com uma paragrafação melhor e tal, além de que só o primeiro parágrafo tá centralizado, o que deixou meio estranho.
Foi muito interessante o paralelo que você fez entre o fim de um amor e o fim de uma vida, muito criativo e bem construído.
Nem sei o que dizer sobre esse final. Impactante é um eufemismo, mas foi a única palavra em que eu consegui pensar agora.
Você escreveu muito bem, transferiu o sentimento muito bem. Parabéns <3
Quero aproveitar esta oportunidade para agradecer ao Dr. Padman. por me ajudar a recuperar meu amante depois que ele me deixou alguns meses atrás. Enviei amigos e meus irmãos para implorar por mim, mas ele recusou que tudo acabasse entre nós dois, mas quando conheci o Dr. Padman. ele me disse para relaxar que tudo vai ficar bem e realmente depois de apenas dois dias eu recuperei meu homem. muito obrigado Dr. Padman. aqui está o e-mail desse grande homem, se você precisar da ajuda dele, pode entrar em contato com padmanlovespell@yahoo.com
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