Ele ou eu?

              Dissonância cognitiva, para falar a verdade nunca tinha ouvido falar. Por isso, esse texto é um pouco mais difícil de escrever. Quando ouvi a definição, logo me lembrei de um tio meu. Posso até dizer que é a personificação da expressão. A principio, ele é uma homem da igreja, que diz seguir as regras e os seus ensinamentos.

              Parece até clichê, mas todo domingo ele reza e faz suas orações enquanto de segunda a sábado sua presença no bar é incontestável.

–      Tio, adultério é pecado, sabia? – eu tento ajudar, mas não adianta. Sua resposta é sempre:

–      O que acontece no bar, fica no bar.

Enfim, eu poderia julgar ele a vida toda,  mas eu sei de tudo e nunca disse nada. Será que eu sou tão hipócrita quanto? Pode ser apenas apenas uma omissão. Seria isso uma dissonância cognitiva? Me digo feminista, por isso seria uma quebra de valores quanto minto sobre algo do tipo para uma mulher? Pensar A e falar B. Ok. Eu me rendo.

Sendo assim, eu penso que com dizeres como “Não desejar a mulher do próximo” o mínimo que se espera de um homem dito como integro e moral seria o respeito. E sobre mim, tenho e tento melhorar. Um pouco de coragem e talvez da próxima vez eu conto. Ou depois. Ou talvez eu tenha que trabalhar um pouco mais esse meu lado.

Dissonâncias cognitivas, por todo lado, o errado e o certo. Hipócritas e sem valores ou coniventes e mentirosos? De toda forma, tento buscar uma coerência, e vou me adaptando para um dia minhas ações condizerem com meus pensamentos. Quanto ao meu tio, sinceramente, não vejo saída. Talvez ele ame ao próximo demais. Ugh.

Austen dos Anjos