sexta-feira, 19 de abril de 2019

Sem Título

Minha mãe me disse para eu não aceitar nada de estranhos na rua. Mas ela não disse o que eu deveria fazer se eu achasse que fosse a única solução. Era um desses dias em que se sai com amigos e é preciso voltar de ônibus para casa. Tudo poderia ter terminado perfeitamente normal se eu não fosse tão avoado. Mas eu era.

Eu estava perdido por ter soltado um pouco antes do meu ponto (uns 30 pontos antes) e comecei a vagar aleatoriamente às 3 da manhã, com medo e procurando alguma pessoa de aparência inocente para pedir dinheiro. Não tinha. Cheguei em um senhor em um bar e pedi dois contos. E então eu peguei uma pistola e atirei nele. Na verdade, eu não fiz isso. Mas a questão é que eu poderia ter feito. E ele não tinha como saber se eu faria ou não.

Contudo, ele confiou em mim. Acreditou na minha história e me deu dois reais para voltar para casa. Então eu peguei o dinheiro e fui comprar drogas. Na verdade, eu não fiz isso. Eu poderia ter feito, mas ele acreditou na minha história e me deu dinheiro. Isso me comoveu.

Eu voltei para casa e contei a história para minha mãe. Ela me repreendeu, é claro. E a sua justificativa foi: “O senhor poderia ser um homem do mal e te bater ou algo parecido.” E ele poderia. Ele poderia mesmo. Eu também. Mas nenhum de nós dois o fez. Me pergunto se ele foi dormir naquele dia pensando ser uma pessoa de bem que ajudou um jovem. Ou se simplesmente não mudou nada na vida dele. Eu não sei se ele saiu dali e foi agredir uma jovem. Eu não sei se ele saiu dali e foi atropelar cachorrinhos. Eu sei que ele foi bom comigo e poderia ter feito milhares de coisas horríveis comigo. Mas, na verdade, ele não fez!

Eu acho isso importante. Eu discuti mesmo com a minha mãe quando ela me repreendeu. Não quero viver num mundo em que você não pode confiar nas pessoas. Eu estava certo. Eu quero poder confiar nos outros e eu vou lutar por isso. A discussão terminou comigo de castigo por algumas semanas, mas o meu consciente seguiu limpo. Eu acredito que podemos ser melhores, então eu vou ser!
Festa Intensa

Um comentário:

  1. Oi, Festa! Caaaara, que texto diferente! Achei super interessante essa estratégia de você dizer uma coisa e depois "não, não foi isso". Foi super legal e me deu mais vontade de continuar lendo.
    Tenho que dizer que eu SUPER concordo com você. Nunca tive coragem de discutir com minha mãe sobre isso - e nesse momento me envergonho totalmente em dizer isso -, mas já chorei várias vezes depoiis de engolir o que tinha pra dizer e ficar com as broncas dela na minha mente kkkkk
    Não tenho nem palavras pra dizer o quanto o último parágrafo representa o que eu penso, de verdade. Um dia ainda quero bater um papo com você sobre isso, vai ser bem legal falar com alguém que entende o que eu penso kkkk

    A única crítica que eu tenho pra fazer é que você deveria ter botado um título. Eu vim aqui com zero espectativas e acabei me surpreendendo? Sim, mas ao mesmo tempo você tem um texto do qual daria pra extrair vários títulos legais. Asim como eu dei uma chance e vim aqui ler mesmo sem um título, muita gente pode fazer - ou ter feito - o exato oposto: não ter lido porque não tem título e por isso não chama atenção. Pensa nisso aí!

    Um beijo <3

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