Quase.

Ensino fundamental, minha mãe veio me buscar mais cedo na escola.  Penso ser uma surpresa, algo bom. Saio alegre da aula de inglês, até que tenho a pior quebra de expectativa da minha vida.

– Sua avó foi atropelada por um ônibus, vamos para o hospital – Foi como se o meu mundo tivesse acabado. Ali, naquele momento, eu estava pensando mil coisas. Será que eu ia perder a minha metade? A mulher que me espelho. Minha companheira. Aquela que sempre me apoia. Por um momento eu quero rir, “mãe por favor me diz que é uma piada de mau gosto”. Eu suplico. Não era. Foi real. Muito real.

Três costelas quebradas e várias queimaduras de terceiro grau. Ela está viva. Viva. Mas eu sou muito nova para entrar na UTI e não a vejo, então lembro de esperar rezando nos corredores do hospital.

Até que um dia, ela voltou. Ficou lá em casa para cuidados mais próximos. Nunca vou tirar da minha cabeça a cena de vovó chegando, com suas queimaduras na face e corpo. Chorei. Minha mãe chorou. Ela chorou.

Um mês depois, em uma aparente normalidade, minha avó se levanta a noite se sentindo tonta. Não era difícil de acontecer. Mas o desmaio não, esse é incomum. Por ser muito pequena, eu fui para a casa da vizinha. De short e blusa azul, cabelo em um rabo de cavalo. Muito confusa e esperando notícias.

–      Mas ela não estava melhorando? – Não obtive resposta.

Erro médico. Não eram três, e sim oito costelas quebradas. Uma perfurava o baço. Meu Deus. Hemorragia interna e uma cirurgia de emergência.  “Não a leve” – era tudo que eu pensava. Minha parceira, minha segunda mãe. Como a amo. O maior trauma da minha vida não aconteceu comigo, mas com uma parte externa de mim, que quase se foi. Duas vezes.

Austen dos Anjos