quinta-feira, 18 de abril de 2019

Conversando com a Lua

  Eu não sou muito boa em falar de traumas, consigo contar quantos foram esses na palma da minha mão. Pra falar a verdade, tenho uma vida extremamente tranquila, meus pais sempre me deram uma educação de qualidade e faziam minhas vontades (na medida do possível) e sou grata por tudo isso. Porém um desses traumas é algo que marcou profundamente minha vida, formando problemas que tive que enfrentar por anos e de certa forma ainda enfrento. 
  Bullying. Algo por muitas vezes banalizado. "Ah na minha época todo mundo se zoava e ninguém reclamava" é o que muitas pessoas pensam acerca desse tópico. Tudo começou aos meus 11 anos, quando decidi me declarar a um garoto da minha turma. Lindo, amigável, engraçado, um pouco introvertido mas conversava com todo mundo e gostava das mesmas coisas que eu. Já quem vos escreve era uma menina cheia de amigos e super comunicativa (graças à minha querida mãe, que lia o clássico "Pinóquio" comigo e me fez ler e escrever mais cedo). Era uma combinação perfeita. Foi então que eu resolvi botar uma carta em seu armário da escola. A pior ideia possível. Na mesma semana todo mundo descobriu que era eu a "admiradora secreta" e fui feita de chacota o resto do ano letivo. Excursões e dinâmicas em grupo eram infernais. Eu comecei a me sentir cada vez mais sozinha e sempre chorando ou gritando pros outros pararem de me zoar (o que apenas aumentava a zoação).
  Então cheguei ao ano seguinte, um pouco mais renovada. Era meu sétimo ano do ensino fundamental (infame por ser um dos mais difíceis) e me via com um pouco mais de auto-confiança. Mas o que eu não esperava é que na minha sala haveriam três garotos repetentes (um inclusive repetiu duas vezes) que iriam transformar aquele ano no pior da minha vida. Não podia abrir a boca na sala que me tornavam alvo de zoações. Era chamada sempre de "gorda". Falava algo errado ou que apenas eu julgava engraçado e era caçoada. Eram abusos físicos, psicológicos, morais e sociais. Tudo que você pode imaginar, caro leitor. Tudo mesmo.  Minhas únicas companhias eram minhas músicas melancólicas do Bruno Mars e o livro distópico da Suzanne Collins, "Jogos Vorazes".  Chegou a um ponto aonde eu queria simplesmente não ir mais às aulas pois eu não tinha amigos e me sentia socialmente incapaz de conversar e me expressar. E quando um deles faltava, era motivo de comemoração, eu me sentia aliviada de verdade. Sempre que eu tentava falar com um professor, ele simplesmente ignorava ou me mandava junto com os delinquentes para a diretoria. Nunca tomei tantas advertências na vida, foram umas oito.
  No próximo ano, dois desses meninos iriam para outra escola. Mas o dano já estava feito. Só era capaz de conversar com dois ou três amigos, perdi a capacidade de me defender, de conhecer novas pessoas, me senti numa total solidão. Inexplicável. Demorei anos pra me recuperar. E por muito tempo, mesmo após me sentir "recuperada", uma certa neurose me assolava ao pensar que todos que cochichavam perto de mim estavam falando mal de algo que eu falei e fiz ou comentando algum aspecto físico meu. Era uma tortura.
  Hoje me vejo convivendo com a ansiedade, porém muito mais sociável e confiante do que jamais fui. É, até que sou bem feliz, mas sempre lembro que a vida me encheu de chutes até quando estava no chão. Literalmente.
Viúva Negra

Um comentário:

  1. Oi! Parabéns pela coragem de expor isso aqui, e um abraço virtual. <3

    Seu texto tá ótimo, só acho que em alguns poucos lugares estão faltando algumas vírgulas, mas nada demais.
    " estavam falando mal de algo que eu falei e fiz ou comentando algum aspecto físico meu. " ---> Nesse trecho, por exemplo, acho que podia ter uma vírgula antes do "ou".
    Tem alguns outros lugares, mas esse foi o que me chamou mais atenção.
    Só isso mesmo.
    Beijos <3

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