imaginava isso nem nos meus mais lindos sonhos de criança lá em Honório Gurgel.
Queria ser rica e famosa, mas ainda não sonhava conhecer o mundo.
O J. havia acabado de me acordar. Dormi um pouco no final do voo, depois de
passar horas tentando me distrair com os filmes e séries disponíveis, mas estava mesmo
inquieta lendo comentários sobre mim na internet: “Nossa, vai precisar voltar para o
cursinho de inglês se quiser realmente seguir carreira internacional”; “Ela nunca vai
fazer sucesso lá fora, o que ela faz muitas lá já fazem: rebolar e mostrar a bunda”. Ainda
não havia me acostumado completamente com esses comentários, mas procurava
sempre focar nos meus fãs e na minha carreira.
Assim que cheguei à cidade, fiquei maravilhada com aquele lugar incrível.
Quando passamos de carro pelo Central Park, gritei para o meu produtor: “Vamos lá,
por favor?”. Mas já sabia que tínhamos que ir direto fazer check-in no hotel, porque a
entrevista na Billboard era às 11.
Enquanto esperava para começar, andava de um lado para o outro: “Será que vão
criticar o meu inglês de novo? Eu melhorei tanto desde a última entrevista. Vai, Larissa.
Você consegue”. “É verdade que você contratou um pajé para que tudo desse certo na
gravação do clipe de Is that for me?”, me perguntaram, em Inglês. “Do you know what
a favela is?”, perguntei explicando de onde eu vim. Como ele não sabe o que é uma
favela? Tive que pedir para ele procurar. Amanhã, já vão reclamar porque eu me
coloquei como representante do Brasil, do funk e da favela de novo. Quer saber?
Sempre vão me criticar. Ainda falam sobre o caso com a Pitty, no Altas Horas. É sinal
que cheguei onde eu queria, e ainda quero mais.
Após chegar ao hotel, meu telefone tocou. “Larissa, meu show ontem foi ótimo,
estava lotado. Tudo isso eu devo a você. Não vejo a hora de você voltar, para a gente
comemorar”. Era meu amigo me agradecendo pela ajuda que dei no início de sua
carreira. Fico tão feliz com isso. Pena que nem todos são agradecidos. Depois falam que
eu que não sou humilde, só porque sou provocativa no palco e até já falei que sou a cura
gay. Era uma brincadeira (rsrsrs).
“Larissa, Larissa”, o Poo gritou, enquanto batia na porta. “Vamos logo ao
Central Park, porque amanhã você já vai embora. Brasileiro em Nova Iorque é f#”.
Por Kunta Boyd.
Gostei da ideia da primeira pessoa e de não usar o nome "Anitta" para construir o personagem. A leitura trouxe realmente outro ponto de vista sobre a figura.
ResponderExcluirCaramba, Peri, você tem razão! Li a crônica inteira com a imagem da Anitta em mente, mas não me dei conta de que Kunta não usou a palavra "Anitta" em momento algum. Muito interessante!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO texto revelou uma perspectiva sobre a Anitta que, infelizmente, majoritária parte da população brasileira se recusa a enxergar. Parabéns por resgatar os valores dessa cantora.
ResponderExcluirGostei que você trouxe um lado da personagem que realmente não pensamos no dia a dia
ResponderExcluirMe surpreendeu mesmo