sexta-feira, 30 de março de 2018

Mestre Azulão

Quem frequentasse a Feira de São Cristóvão aos domingos certamente encontraria, logo à entrada, uma figura emblemática. Desde antes da fundação do espaço, era aquele idoso baixinho, com óculos fundo de garrafa e um chapéu de cangaceiro quem recepcionava, com seus cordéis, os visitantes locais. Em abril, completam-se dois anos da morte daquele que é relembrado como um dos cordelistas mais respeitados do Rio de Janeiro.

Foi na cidade paraibana de Sapé, terra do poeta Augusto dos Anjos, que nasceu, em 1932, José João dos Santos, mais conhecido como Mestre Azulão. O apelido foi conquistado ainda na infância, quando o garoto aprendera a recitar de cor os versos do cantador pernambucano Sebastião Cândido dos Santos, o Mestre Azulão “original”.

Filho de João Joaquim dos Santos e Severina Ana dos Santos, Azulão se afastou cedo dos estudos por conta do trabalho na roça. A sua formação, no entanto, continuou em sua vizinhança, onde eram promovidas rodas de repente. Os eventos fascinavam o jovem que, aos 11 anos, ganhou sua primeira viola e, pouco depois, se arriscava nos cordéis.

Aos 17 anos, a vida difícil do Nordeste encaminhou Azulão à sina de retirante e o paraibano desembarcou em um dos paus-de-arara que chegavam repletos de nordestinos no bairro carioca de São Cristóvão. Ali, o paraibano trabalhou como peão de obras e porteiro, sem abandonar suas rimas. Ao recitar poesias em canteiros e feiras, o repentista tornou-se reconhecido. Em 1949, apresentou-se na rádio Tupi e, em três anos, iniciou a venda de cordéis, sendo fundador da prática no que seria a Feira de São Cristóvão.

Com mais de 300 obras em sua biografia, Azulão viajou o mundo e teve a oportunidade de conhecer grandes personalidades de sua época, como Juscelino Kubitscheck e Getúlio Vargas. O envolvimento com a política, aliás, o levou ao posto de secretário de cultura do município de Japeri, na Baixada Fluminense, para onde se mudou tão logo conheceu sua esposa, a baiana Celina Lima. Mestre Azulão terminou a vida ao lado de sua segunda mulher, Maria das Neves, que ainda hoje propaga orgulhosamente seu legado.

Por Peripatético Peri.

4 comentários:

  1. Texto muito bem construído e escrito, gostei!

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  2. Não conhecia ainda essa figura, fico feliz por ter conhecido por esse texto!
    Gostei bastante :)

    Mary-Louise Paris

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  3. Muito bom conhecer pessoas novas através dessas leituras, bom texto!

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