quinta-feira, 22 de março de 2018

6:01 nas montanhas

Caminhar até o topo da montanha não estava sendo uma tarefa fácil, porém, para ele tudo iria valer a pena quando a visse. Seu esforço para ascender era louvável, já que não mais tinha a destreza e sagacidade da juventude ao seu lado, suas palmas, agora rubras, estavam enrijecidas e emanavam um característico odor ferrífero. A dor se tornara sua companheira naquele momento. Mas isso não importava, faltava pouco para ele chegar até seu destino final, ela. Tão pouco, que já podia enxergar sua forma sugerida entre o emaranhado de rochas acinzentadas.

Sua imponente estatura, sua forma irregular, seus cortes bruscos e brutos, não havia quem negasse a beleza peculiar daquela cadeia de montanhas, era realmente espetacular. Para ele, entretanto, nada mais eram do que vários caminhos diferentes para unicamente admirar a beleza de sua amada, que sempre vinha de encontro a ele, envolta de toda sua glória, potência e ardor de uma vida marcada pela reciprocidade emocional. Ele acreditava apenas em sua beleza e nenhuma outra. Ele a amava.

Adiantado como sempre, chegou ao topo e olhou ao redor, foi nesse instante que ele notou não estar mais sozinho, ela estava próxima. Sentou-se à sua espera, e com todo seu esplendor, ela se mostrou presente. Com seus longos cabelos louros e dedos mágicos ela tocou o céu, antes escuro e sem vida, e com perfeição o encheu de cores. Com os olhos envoltos de lágrimas exclamou seu nome: AURORA!

Ele se apaixonara novamente, com igual intensidade e beleza do espetáculo que ela carregava em si. Ele agora em sua presença possuía face corada, olhos brilhantes e sangue fervendo de amor e admiração. A efemeridade de seu amor se renovara mais uma vez, mais um dia, mais uma manhã.

 Ela já havia terminado, e ele sabia que essa seria a hora dela o deixar novamente. Entretanto, já havia passado por isso por toda sua vida. Ele podia não entender muito sobre amor e o mundo, mas sabia que quando ela se desse por satisfeita, caminharia rumo ao horizonte que lhe convidara, mas deixaria novamente a ele, a promessa do amanhã.

Por Aurora Munds.

13 comentários:

  1. Seu texto foi escrito muito bem ao meu ver, achei muito bem escrito porém para mim parece um pouco mais como um poema e não uma crônica. Mas enfim quem disse que uma crônica não pode ser também um poema? belíssimo seu texto sim.

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  2. Concordo com a Lívia Calvant. Porém, ele não deixa de ser totalmente cativante, pois há uma ânsia em saber o que o personagem está buscando. Aurora, por algum acaso, você escreve ficção?

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    1. Fico feliz que tenha sentido a mesma ânsia da personagem! E não escrevo uma ficção faz certo tempo, mas estou pensando em voltar! :)

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  3. O estilo foge do modelo mais cultivado da crônica, entretanto possui uma poética lindíssima!
    Gostei do personagem construído e consegui sentir a emoção que ele carrega.

    Mary-L. P.

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    1. Agradeço pela crítica e fico feliz que a história tenha te cativado!

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  4. Também acredito que foge ao estilo de crônica, mas vai saber. Enfim, eu leria um livro seu de ficção Aurora!

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    1. Não tenho muita experiência com o gênero, porém as críticas estão me ajudando! E quem sabe publico uma ficção daqui algum tempo?

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  5. Que texto incrível, a forma como você foi exata na caracterização me prendeu completamente, mas também achei que não é muito o estilo de uma crônica. Como já disseram anteriormente, se escrevesse uma ficção ou romance, seria a primeira a comprar!!

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  6. Amei o texto, mas infelizmente acredito que não se encaixou nos parâmetros de crônica. Contudo, sem stress! Você mandou muito bem na escrita, parabéns!

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  7. Se pode ser tudo, menos chata, você obteve êxito!

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