sexta-feira, 30 de março de 2018

Dilma Rousseff

        O ano é 2016.

Seu rosto estampa todos os jornais. As notícias bombardeiam as redes sociais. Elas aumentam seus crescentes rótulos. Burra. Irresponsável. Corrupta. Como deixaram nas mãos de uma mulher, a responsabilidade de uma nação?

Porque você é protagonista de uma história que não é exclusivamente sua. Ministros, deputados, governadores, vices-presidentes, mas a culpa é de quem recebe o maior cargo. Um país desenvolvido sob corrupção e desonestidade se torna culpa apenas sua. É sua a acusação.

"Podem me derrubar, quem é que pode tomar o meu lugar?"... "Quem poderia esquecer o peso na consciência?"... Pessoas que estiveram ao seu lado. Não monstros, não desconhecidos, não inimigos. Parceiros. Com interesses próprios, interesses de outros, disfarçados de interesses nacionais, não cabe a você julgar. Mesmo com tudo desmoronando, sente que pelos menos parte de seu papel foi cumprido.

A primeira presidente do país. Julgada de ser muito durona, muito "masculina". Mas você não liga. Nasceu uma mulher forte, uma líder. Seu interesse logo cedo pela leitura e pela militância mostraram que você não era como as demais jovens. Estudar, se tornar professora, não pertencia aos seus planos. Tinha maior interesse em devorar a biblioteca da sua casa e atuar na Política Operária.

Burra. É o que dizem.

Mas você se lembra da sua trajetória para conseguir o diploma de Economia. Os dois anos de estudos perdidos na UFMG, jubilada por ter sido acusava de subversão. Então finalmente a conclusão na UFRGS, que abriu novo caminho para sua caminhada política.

Caminhada, essa, nascida de sua militância, passou por tão distintos momentos. A dor é sentida, aguda e horripilante, ao voltar em certos momentos do passado. Voltando para as lembranças da ditadura. Lembranças de tortura e resistência. O escuro, as palmatórias, a nudez, o sangue, os choques.

E no dia de ser deposta, são lembranças ressuscitadas com homenagens à seu torturador.

Homenagens. Nenhuma para você.

Porque você não quer e não vai se fazer de coitada para conseguir homenagens. Você é mais do que uma mulher que sobreviveu à tortura, você é mais que uma mulher que venceu o câncer, que se impôs em um cenário machista e misógino. Você foi e é amante, amiga, mãe, avó. Mas tal complexidade nunca entenderão.

Você se tornou a sua política. O seu partido. Um número. Mais uma que deu errado, mais uma que fez merecer o impeachment. Condenada ou não, criminosa ou não, você é só mais uma voz silenciada. Como as vozes de tantas mulheres que são silenciadas dia a dia. Mas essa é só uma tentativa.

O ano é 2016. Você é Dilma Rousseff. E acaba de sofrer um golpe.

Por Mary-Louise P.

4 comentários:

  1. NÃO EXISTE UM MEME PARA EXPRESSAR O GRITO QUE EU DEI! Parabéns, isso ficou incrível!!!!

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    1. Tem alguns probleminhas de revisão, mas é um texto esplêndido.

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  2. achei interessante a desconstrução que você fez da imagem perversa que criaram da Dilma. Eu não gostei tanto da divisão de parágrafos que você fez. Ficou exagerado. Fora isso, parabéns!

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  3. QUE TEXTO, QUE TEXTO MEUS AMIGOS!!!!! Parabéns! Arrepiei durante a leitura

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