sexta-feira, 30 de março de 2018

Edir Macedo

O pouco espaço disponível para esticar as pernas lhe era estranho, fazia muitos anos que não ficava restrito a tão pequeno espaço. Lembrar que, há cinco dias, estava na catedral apenas passando a palavra de Deus para fiéis parecia uma memória tão distante quanto seu tempo de garoto. Era quase irônico, mas seu destino nunca pareceu passar longe de grades, e agora ele se encontrava atrás delas.

Filho de pais pobres, Edir precisou largar os estudos diversas vezes para ajudar a sustentar a família. A responsabilidade de ter seis irmãos pesou em seus ombros, que nunca reclamaram do fardo. Seu primeiro trabalho foi ao lado do pai, em um bar. Então, conheceu o vício. Via clientes voltarem todos os dias para suportar a rotina sufocante, mas percebia que o álcool enrolava cordas nos pescoços de cada um deles. Logo, os clientes voltavam para chorar pelas famílias destruídas, os sonhos mortos. Edir decidiu voltar aos estudos.

Terminar o ginásio e conseguir entrar numa faculdade tiveram o sabor delicioso de comida boa, feita pela mãe. E assim foi comemorado o acontecimento: a família toda reunida ao redor de uma mesa simples, mas preparada com muito amor. Rezaram, comeram e conversaram. Era possível ouvir o burburinho de dentro da pequena casa. Relembraram momentos de quando moravam em Petrópolis e escutaram a história de romance dos pais. Mas também houve pesar e o silêncio decaiu sobre eles ao pensarem nas tragédias que também viveram. Puderam dizer, quando já estavam bocejando e colocando pijamas, que eram uma família abençoada por Deus. Edir sentia isso em seu coração, mas não conseguia compreender porquê suas conquistas não traziam o mesmo brilho nos olhos que traziam para sua família.

Meses depois, Elcy, sua irmã mais velha, adoeceu. Edir ajoelhou ao seu lado na cama e pediu a Deus que livrasse sua irmã de tanto sofrimento. Ele foi à Igreja Católica todo domingo, rezou todo dia antes de dormir e se confessou com frequência. Nada parecia surtir efeito, e sua mãe recorreu a diferentes tipos de fé. Edir conheceu o Candomblé e o Espiritismo, porém sua irmã continuava a tossir e ter febre alta. Todos os métodos haviam falhado, então ele passou a deixar a irmã sozinha, ouvindo rádio. Elcy ouvia um pastor evangélico o dia inteiro e, anos depois, continuou afirmando que foi a palavra daquele homem que a havia salvado. Então, Edir entendeu porque a faculdade não despertava alegria em seu espírito. Agora ele sabia sua vocação.

Anos pregando a palavra de Deus trouxeram grandes alegrias. Edir fundou uma grande igreja evangélica. Mas via que em seu caminho ainda haveriam desvios. Não compreendia sua estadia na prisão em Brasilândia e sabia que havia chances de voltar a viver em alguma cadeia, porém também conhecia sua determinação e sua fé em Deus. Confiava que sairia dali para honrar sua promessa perante o Senhor e esperava não decepcioná-Lo. Então, para ele, só restava se sentar na pequena cama e ler a Bíblia como fazia todas as noites quando ainda era apenas um garoto. Novamente esperando que Ele mostrasse o melhor caminho.

Por Jaci Roman. 

3 comentários:

  1. Interessante, porém senti falta de mais informações sobre a sua prisão (motivos, consequências), de resto ficou bom :) (não fazia ideia dessas lutas da vida dele, aplaudi aqui)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Adorei o fato de você ter pego a imagem bárbara criada pela mídia sobre Edir Macedo e ter nos mostrado um outro lado de sua história. Contudo, assim como Aurora, também senti falta do relato sobre sua prisão. Não se pode desconstruir um lado sem deixar de apresentá-lo por completo. Por fim, a escrita está muito boa, parabéns!

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