quinta-feira, 22 de março de 2018

Vou-me embora pra Tristão da Cunha

Moro em uma rua estreita. Tão apertada que era até possível ouvir os batimentos cardíacos
dos vizinhos ecoando... Antes fosse apenas isso. Muitos dizem que o Mal do século é o
câncer, outros afirmam que a culpa é da tecnologia, já a minha teoria é de que o grande
problema humano é a fofoca.

Frustrações, conquistas, viagens, tudo é passível de se escutar na vizinhança. A verdade é
que morando em um ovo fica fácil saber todos os passos alheios e julgá-los, isso não requer
grandes esforços. Na falta de uma privacidade digna, a rua inteira fica sabendo quando a dona
Joana está recebendo os amigos do marido em casa (de novo) ou quando o seu Zé está
jogando na loteria pela milésima vez.

No ramo das fofocas bem quitadas, as de cunho negativo sempre parecem ser as preferidas.
Não sou nenhum pesquisador do IBGE, muito menos banco de dados, mas sei que o ser
humano tem prazer ao ouvir a desgraça alheia. Boas notícias, na maior parte das vezes,
passam despercebidas por aqui.

É por esse motivo que pretendo me mudar. Preciso de ares novos na minha vida. Chega de
ouvir relatos dessa vizinhança invejosa e infeliz. Quero um tempo só para mim, sem
interferência externa. Não sei por quê, mas acho que o melhor lugar para ir é Tristão da
Cunha.

Por Lilac Sky.

2 comentários:

  1. boa reflexão! gostei muito da observação que você fez dizendo: "Boas notícias, na maior parte das vezes, passam despercebidas por aqui". Parabéns!

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  2. Lilac, amo seus textos e as contradições que você traz. parabéns!

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