Ciro Gomes e filmes franceses

Caro Ricardo,
O sol tem brilhado intensamente no meu céu, e como você bem sabe, nunca fui de estar
atento, nem forte como você. O sol tem brilhado intensamente pra ti? Vejo que sim,
pois sua pele brilha e seu sorriso também é largo. Vejo sempre em você um pleno
retrato de quem sabe exatamente quem é. O que quer. Pra onde vai. É belo mesmo
quando não sabe, pois vejo sua liberdade tão viva, sempre tão decidida. Talvez um
defeito meu que sempre te incomodou foi a minha indecisão. Eu não conseguir escolher
um prato, um filme, um destino, um candidato... Eu ser tão fundo, ao mesmo tempo tão
raso. Você entrou de forma repentina na minha pintura mais íntima, você bem sabe
Ricardo, tudo o que dizem que sou, eu não sou. Até mesmo essas bobagens que te falo
agora. E como diz aquele filme que assistimos juntos, no dia em que você foi embora:
“estragar a própria vida é um direito inalienável”. Eu deixei você ir, porque estragar a
sua vida é um crime que eu jamais poderia cometer. Peço perdão por ser tão errado.
Realmente não acredito que meu voto possa reparar ou estragar qualquer coisa que já
não esteja estragada ou irreparavelmente errada, no nosso mundo tão cruel. Realmente,
outro defeito que sempre te incomodava era minha incapacidade de sonhar. E são
tempos difíceis até para nós, os não-sonhadores. Imagina só pra você. No dia 7 de
outubro vou descer a ladeira da minha rua, vou lembrar de todas as coisas que você já
me disse enquanto eu apenas me concentrava na sua voz doce e no vento nos seus
cabelos curtos demais. Vou entrar na sessão eleitoral e me lembrar do seu sorriso largo e
do seu céu. Vou me lembrar dos seus sonhos, e dos que eu quis ter contigo. Vou votar
por você. Por eles. Por tudo. Também te desejo saúde. Também te desejo sorrisos
maiores que os meus. Te desejo mais sonhos e sim, que seu candidato ganhe as eleições.
Leonardo.

Ricardo Reis