sábado, 6 de outubro de 2018

Sete dias

Filhinha,
Estou preocupada com você. O mundo caminha cada vez mais para o abismo. O mal
dos homens é latente. A mídia mente. E as pessoas estão cegas e mudas. Você viu o
vídeo que te passei? Lá explica tudo direitinho. Não podemos mais aceitar esse caos,
imagina ficar igual a Venezuela. É um risco muito grande ter essa gente no poder. Essas
ideias são antigas. Não é brincadeira, filha. Depois vejo seu comentário, agora preciso
trabalhar.
Você nunca respondeu. Nunca disse o porquê. Engana-se quem pensa que o silêncio não
diz nada. Na sua concepção é melhor não falar. Passa o sal. Deixa esse assunto para lá.
Falou com seu avô hoje? E eu permaneço do outro lado da mesa, inventando palavras.
Suas palavras. Numa tentativa de dar sentido ao absurdo. Talvez fora sua criação.
Talvez os anos calejaram a esperança. Talvez você realmente tenha isso como verdade.
As pessoas estão surdas, mãe. Estou ficando rouca. E talvez também calejada. Contudo,
sobretudo, por isso continuo a bradar. Preciso. Para não esquecer. Já não quero mais
absolvição. Hoje, te perdoo. O mundo não acaba no domingo, ele começa.

Brás Cubas 171

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