Sensatez

A página de facebook “Fora, Eduardo Paes!” resolveu se posicionar sobre o
segundo turno da eleição para governador do Rio de Janeiro. Sem titubear, declarou
apoio à candidatura de... Eduardo Paes!

Seria um contrassenso suficientemente tragicômico para entrar em um
FEBEAPÁ, caso ainda houvesse tal coleção. Contudo, o horror do cenário eleitoral
vigente no Brasil trata de justificar tal posicionamento - do outro lado, há um candidato
que promete truculências de toda sorte caso chegue ao posto de governador. Ainda que
sejam conhecidas as derrapadas da trajetória política de Paes, admite-se com facilidade
que ele seja minimamente democrático. Para quem está prestes a se afogar nas águas do
autoritarismo, Paes é o jacaré transformado em tronco – não duvide das soluções
encontradas no realismo fantástico da política brasileira.

Aceitar que o recuo é a melhor das opções não costuma ser óbvio. Com o peito
cheio de certezas políticas, o cidadão impávido tende a avançar contra os seus
adversários, não raras vezes agressivo qual um vândalo entrando em Roma. É possível
parar a fúria de quem se sente tomado de razão? É difícil, mas há uma chance:
enraizando a humildade desconfiada no mesmo peito em que se encontram as certezas
apaixonadas.

Diante da complexidade do mundo em que vivemos, em especial no que diz
respeito ao quadro político, convém não abrirmos mão da cautela que nos leva ao
raciocínio mais sofisticado. Saber conter-se, ouvir, refletir e, assim, caso necessário,
reposicionar-se, não deve ser entendido a priori como uma postura vacilante. Pode ser
tão somente sensato – e, dada a conjuntura, cada gota de sensatez que recaia sobre o
país é imprescindível. Ainda que ela se materialize em um desagradável dizer entre os
dentes: vote em Eduardo Paes.

Jamir Ávila