domingo, 28 de outubro de 2018

Divagação

Parei pra ler cada parte das linhas que continham uma enxurrada de lágrimas que eu escondia no travesseiro todas as noites. Compartilhei-as como num surto, e talvez quisesse pensar em algo melhor pra compor o quadro que sou. São tormentos que me engajei em tornar leitura. Tempos em que me sinto desprotegida e não sinto o afago das palavras que tentam me guardar. Sonhos turbulentos sobrepondo os dias, sonhos esses que me guiam a um ciclo vicioso, onde não sinto pernas, mãos nem face.  
Nessa madrugada que vos escrevo, tenho a leve impressão de desapontamento. Levantei disposta a me permitir mostrar que não sou eu quem está descontente, é o entorno, e esse descontentamento tem me rodeado. Não sei se faço parte de lugar algum, nem se o que escrevo é o que tanto sangra aqui. Meu caderno de poemas que fica trancado, sente minha falta, e talvez, por ter perdido toda minha vontade de redigir, eu tenha esquecido.  
Estamos correndo perigo, aqui, lá. O período é sombrio, mensagens de ânimo chegam como abraços mal dados, proposições que ignoram os dias que fingimos dormir pra não ver o tempo passar. Falta verdade para sorrir além da boca, atingir os olhos e recordar sem horror dos sombrosos dias. Este dia me faz pensar nos próximos que virão, que tranquilamente falo sobre rancores, não sabendo se daqui a uns poderei sequer levantar uma palavra. Se eu resisti em cada vocábulo durante meus relatos ontem, convivo com a amedronta agora. Mas, persigo como nunca antes, por cada pausa, pra cada choro que engolimos para que pudéssemos exteriorizar o grito.   
Cada ponto final, vírgula, são como bilhetes ao meu eu, que precisa ser alimentado e se não encontro nas palavras o espelho para o que me torna inteira, afogo. Sempre tive esse encontro terno com a escrita e poder escrever para espectadores sedentos por inovo, é mágico. O uso dos meus referenciais do hoje nas minhas narrações são discretamente minhas linhas mal compreendidas aqui fora, que quando compartilhadas tem uma potência jamais entendida. Me olhar pelos olhos dos que me leem torna tudo ímpar. 

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Lua Cortes

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