terça-feira, 30 de outubro de 2018

Tempos Novo Romano

Mais uma vez atrasado, meu ônibus passa pela praia. O mar que outrora esteve calmo,
se revolta, lançando, contra o limo escorregadio que reveste as rochas, sua espuma alva.
Sinto cheiro de mar.
Uma rocha em particular chama minha atenção. Aquele velho índio esculpido pelo
próprio tempo como uma obra de Milo, lança em mim seus olhares aterrorizados. Essa
tribo é atrasada demais. Sinto cheiro de medo.
Cochilei e perdi meu ponto, perdi meu tempo, perderam-se infâncias, criaram-se gênios.
Ó Saturno, porque tanto nos tortura? Tu que arrancas-te, com sua foice, o saco escrotal
de seu próprio pai, deve estar gozando no céu estrelado, assistindo-nos arrancar, com
nossos caninos, os seios de nossa mãe gentil. Sinto o cansaço.
Minhas tamancas estão cada vez mais sujas. Minhas mãos, cada vez mais cansadas.
Minhas frases, cada vez mais curtas. Sinto o próprio tempo me esculpir como fez com
aquela rocha. Sinto as lápides sendo lapidadas. Sinto as perdas e os ganhos. Eu sinto
muito.

3 crônicas, 10 comentários.

Eric Cleptomaníaco

Um comentário:

  1. Achei um pouco confuso, muitas informações talvez acabaram por atropelar um pouco as conexões do texto

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