é amolada, ensaiada e coreografada para atingir em cheio o seio da democracia
tupiniquim. Jovem, frágil e estúpida como qualquer jovem, frágil e estúpido, que usa
camisetas fascistas, que faz sinal de arminha, que dorme na aula de história, que compra
droga do menino da favela e que bate em mulher sempre que pode. Nem sempre com
socos ou tapas, as vezes apenas com um "nossa, ô lá em casa".
Mas são só crianças.
Meninos mimados que regem a nação desde 1500. Enquanto a chuva cai na cidade e
desmancha os arranha céus, ácida e doente, refletindo as almas que circulam por entre
as ruas sujas de papel eleitoral. Enquanto nesse site, falo sobre crescimentos, nesse meio
tempo, eu mesmo cresci. Já falei diversas vezes sobre aquele que não deve ser nomeado,
mas que depois aprendemos que não falar sobre, é pior. Já falei sobre amor, sobre
ausências, escrevi cartas que nunca enviei, chorei dores que nunca tive, escrevi com
meu próprio sangue tantas vezes, que mal consigo me sustentar de pé. Vivo em
constante anemia. O canto da praça perto de minha casa me alimenta. As vezes, é
melhor não ouvir. Sigo escrevendo enquanto escrever é preciso. E sempre é preciso. As
vezes imagino vozes, para não me sentir tão só. Mas assim como escrever e navegar,
estar só, faz parte do caminho. E se tem uma coisa que faço nessa vida, é me entregar.
Envelheço um dia de cada vez, tentando ser um pouco mais forte a cada amanhecer. Um
pouco mais sábio, se eu tiver sorte. Velhos mimados não podem reger a nação por mais
500 anos e eu escrevo isso para me lembrar. E quem sabe, se essas palavras daqui a 500
outros anos insistirem em ecoar: Deus lhe pague.
Ricardo Reis escreveu 8 crônicas
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Ricardo Reis
Gosto das referências às músicas do Criolo e a frase final não pode ser mais acertada. Um conjunto da obra que mostra cansaço e amadurecimento na porrada. Obrigado pelos sempre ótimos textos
ResponderExcluirÓtimo texto. Completo e cheio de referências!
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