sexta-feira, 15 de junho de 2018

Eu e ela

Passei a tarde inteira preparando um jantar romântico. Escolhi suas músicas preferidas: as que enviei quando começamos a namorar e a que ela sempre ouvia pensando em mim. Comprei flores para enfeitar a mesa. Ela ia passar aqui no meu apartamento, no início da noite, para eu cozinhar para ela, como sempre havia prometido.

Após o jantar, sentamos no sofá e conversamos um pouco sobre a vida. Entre uma frase e outra, ela se aproxima, senta no meu colo e envolve a minha cintura com suas lindas pernas. Eu beijo seu pescoço e seus seios, que têm o encaixe perfeito para a minha boca. Em seguida, levanto-me segurando-a em meu colo, e terminamos a conversa na cama, com ela deitada sobre mim, o queixo encostado em meu peito, enquanto me olha. “Como sou sortudo por esses olhos grandes e doces serem só para mim”, penso. 

Perco-me nela, sua voz entranha minha pele, me sinto em êxtase. O único pensamento em minha cabeça é a certeza de quero ser o homem para ela a vida inteira. Aperto sua cintura com força, para checar sua reação. Puxo-a para cima, para alcançar seus lábios vermelhos. Sinto-a nervosa, mas entregue ao beijo, seu corpo aquecendo pressionado ao meu, seus músculos relaxando. Percebo que é verdade quando ela diz derreter ao som da minha voz, após horas seguidas conversando ao telefone. Sinto um calafrio quando suas mãos suaves deslizam pelo meu peito e abdômen. Meu corpo treme junto ao seu.

Tudo ocorre naturalmente. Nós já pertencíamos um ao outro há muito tempo. Ela sabe tudo que gosto. Eu a conheço como ninguém. No final, ela dá um suspiro profundo como quem está ficando sem ar, porque se perdeu no ritmo da respiração. Eu, imediatamente, coloco seu cabelo atrás da orelha, seguro seu queixo e lhe dou um selinho, como quem diz “está tudo bem”. Em seguida, deixo-a cair no sono com uma parte de mim em seu corpo e sua cabeça sobre meu peito.

Ela se vê como uma menina simples e insegura, procurando por carinho e proteção, e me vê como um homem decidido e maduro. Não faz ideia do mulherão que é aos meus olhos e do menino inseguro em que me transformo a seu lado. Fiz de tudo para que se sentisse tranquila, comigo no controle, como se eu a dominasse naquele momento. Mal sabe que quem me domina é ela. Penso nisso antes de acompanhá-la no sono. 

Ao amanhecer, acordo e percebo que ela havia se mexido, durante a noite. Agora, de todo o seu corpo, apenas uma de suas mãos permanecia sobre mim, em meu peito. Tiro-a com cuidado para me levantar e preparar o café da manhã. Queria senti-la novamente, mas me contento com um beijo apaixonado com gosto de café.

Por Kunta Boyd.


Cumpra as ordens e faça-me ser sua.

Pegue duas toalhas, ou melhor, uma. Abra a porta, coloque a nossa playlist, tire a roupa e entre. Ligue o chuveiro e aumente o nível da água. Agora pare e só aprecie cada gota d’água deslizando por todo o meu corpo. Perceba cada gesto meu e siga com os seus olhos as minhas mãos que se deslocam sobre todos os meus contornos. Decifre cada curva do meu corpo. Me olhe de cima a baixo. Repare no jeito que faço os movimentos e foque nos meus olhos que clamam cada vez mais pelos seus toques. Aproxime seus lábios da minha boca e os faça chegar lentamente em meu pescoço do jeito que foi ensinado a você. Sinta o meu desejo. Sussurre em meus ouvidos e me incendeie. Deslize a sua boca por toda a extensão que me compõe e diga o quanto me quer e me beije. Mate a nossa vontade.

Deslize as suas mãos por mim, ao mesmo tempo em que as minhas acariciam partes do seu corpo. Faça com que a minha inconsciência a partir de agora nos conduza. Toque com suavidade nas minhas partes mais sensíveis. Diga o quanto me quer e que só eu que te faço estremecer. Estremeça! Reclame das minhas incertezas sobre nós. Pergunte a mim por que faço isso e ouça atentamente a minha resposta. Demonstre toda a vontade que tem de ser meu e seja. Puxe o meu cabelo. Me agarre pela cintura. Ouça a minha respiração. Analise os sinais que o meu corpo te dá. Perceba o meu olhar e agora ME BEIJA. Beija a minha alma, o meu corpo e a minha boca ao som da água caindo sobre nós.

Feche os olhos e sinta que agora somos apenas um.

Por Ermyniana Valente.

Futuro do pretérito

De repente, uma fragrância nova toma conta daquela sala. Estávamos bebendo, rindo, conversando, dançando, e ela chegou. Com seus olhos de esmeralda. Com seu cabelo curto levemente ondulado. Com sua pele reluzente, que contrastava com o negro de seus cabelos. Com seus lábios levemente carnudos, tão perfeitamente desenhados, que me questiono como poderiam ser reais.

Ela era.

Ela é.

São mais de meio milhão de palavras registradas, mas nenhuma delas, sequer, era capaz de traduzir quem ela era.

Desde o primeiro instante em que a vi, não conseguia focar em mais nada e nem ninguém, além dela. Era como se o mundo estivesse congelado e mudo.

Menos ela.

Ela continuava viva para mim.

Com um copo de uísque na mão, dançando suavemente de olhos fechados, não havia mais dúvidas para mim. Estava apaixonada. Não pelo o que nasceu com ela. Seus olhos eram lindos, de fato. Mas não passavam de um convite para a sua alma, a qual eu ansiava em conhecer.

Tento esconder o que sinto. Agora pouco disse que, para mim, era impossível eu me sentir atraída por uma garota. E, então, ela surge. Bagunça minha mente. Quebra as minhas barreiras. Rasga a minha identidade. Não sei mais quem eu sou e, para ser sincera, não tenho tanto interesse em saber. Meu único desejo, naquele momento, era conhecê-la.

Coragem para falar com ela? Inexistente.

Foi aí que eu peguei meu caderninho sem pauta vermelho, surrado, por carregá-lo sempre comigo, e comecei a escrever.

“Quem é ela?

Quais segredos ela esconde?

Como pôde, em questão de segundos, me conquistar?

Eu sempre fui uma garota incomum

Tenho alma de camaleão

Sem personalidade fixa

Ampla e ondulante como um oceano

Sem bússola de moral

Mas

Se dissesse que estava planejando isso

Estaria mentindo

Se me perguntares quem sou

Não sabereis dizer

Mas, se me perguntares o que desejo

Responderei: “você”

Vamos dançar blues

Com desejo ardente

Sente-me

Cale-me

Deixe-me despir seu corpo

Sem pressa

Como uma primeira vez numa cidade

Um corpo é uma surpresa

Como abrir um presente

Não se pode com as mãos infantis 

Desorientadas

Aflitas

Desesperadas

Ir rasgando invólucros

Um corpo é uma surpresa

Uma mistura de sensações inenarráveis 

As quais devemos saborear lentamente

Ainda que a sede seja ardente

Beberei lentamente

Ainda que a gula arrebente meu ser

Devorarei-te como quem saboreia sua última refeição

Permita-me desnudar-te com destreza

Deixe-me explorá-la selvagemente

E os seus mamilos irão desabrochar como flores na primavera
Irei sugá-la como se fosses uma doce fruta

E quando não aguentares mais

Quando tiveres experimentado tudo

Levarei você ao último céu

Secarei cada gota de suor do seu rosto

Dar-te-ei leves beijos 

Assim provarei que sei te amar

Amar-te não é coisa para amador

Amar-te é uma arte

E eu sou artista”

Quando termino de escrever, com os olhos trêmulos, segurando o choro, levanto meu rosto e lá está ela. Desta vez, em suas mãos, estão outras entrelaçadas. Desta vez, seus lábios conversam com outros, sem dizer palavra alguma. Não consigo mais olhar. Dói. Dói vê-la nos braços de um outro qualquer. Mas, tudo bem. É melhor do que te ver sofrer de saudade de mim como eu tô de você. Saudade daquilo que, na verdade, nunca existiu. 

Já dizia um sábio professor que tive na faculdade: “Não existe nada mais cruel do que o futuro do pretérito”.

Por Andrea Melo.

ATÉ O LIMITE


A noite é calma e o fogo da lareira, acesa por conta do frio do outono, realça perfeitamente o brilho de sua pele morena, tão convidativa. Os vizinhos já conhecem o seu nome. Me culpe por isso. Ou se culpe. Você sabe que não consigo conter meus gemidos ao sentir o paraíso de seus lábios fazendo uma trilha molhada pela minha pele. Seu toque me enlouquece, seu cheiro me inebria e seu corpo me arrebata. Você adora como me afeta e eu me sinto completamente exposta ao seu olhar luxurioso.

Os sussurros, por vezes incompreensíveis, rentes ao meu pescoço fazem com que eu precise de ar e mais ar e que eu sinta meu corpo inteiro se contrair. Que poder é esse que você tem sobre mim? Não para não... Só quero poder te sentir mais, mais quente, mais fundo, mais entregue. Por favor... Eu já te pedi para ser meu, quantas vezes terei que expor minha possessividade? Prender seu corpo entre as minhas coxas parece uma deliciosa forma de dizer, sem dizer.

Seus olhos são capazes de me aquecer inteira. Fixe eles nos meus. Você sabe que eu gosto quando me olha nos olhos enquanto me toca. Eu sei que você pode ver através de mim. Não para, você sabe do que eu gosto... Tire tudo de mim, minha roupa, minha energia, meus gemidos. Me faça me sentir sua como da primeira vez. Isso... Você sabe que eu já era sua desde o começo, desde o nosso primeiro olhar. Não para... Me ame devagar.

O suor escorrendo pelas nossas peles é inevitável. Mas ele não nos para. Ninguém nos para. O céu é o limite para nós, meu bem. E eu estou disposta a te levar ao limite esta noite, e em todas as noites. Não vá trabalhar amanhã, vamos continuar aqui fazendo esse amor preguiçoso. Você se importa se eu fizer da sua cama a minha morada e da sua pele meu pecado favorito? Você quer que eu fique? Prove e me prove mais uma vez. 
Me faça repensar se eu devo ou não ir embora amanhã.

Por Dandara Davis.

Quando as estrelas vêm pela manhã

Era uma quarta feira fria, acordamos com a chuva despencando no telhado e com o ótimo barulho que esse contato produzia. Estávamos deitados um de frente para o outro e eu tinha sentido a noite toda a respiração dele. Como era bom saber que seus pulmões se contraiam enquanto o seu coração bombeava o fôlego necessário para sua vida. Eu amava a ideia de ser um dos motivos por ele bater mais rápido e feliz e, ao mesmo tempo, amava quando o sentia calmo por estar perto de mim. Então, ele abriu os olhos, me deu um beijo de bom dia e disse que seria um ótimo dia para aproveitarmos na cama, e sorriu com malícia.

Ele me olhava com desejo, sempre foi assim, olhava no fundo dos meus olhos e sorria, mas tinha diferentes tipos de sorrisos, e aquele dizia aos meus lábios que queria o beijar intensamente, entrelaçar línguas e depois descer para cada parte de mim.

O embalo do som da chuva propiciou minha estadia na cama e os olhos dele me ganharam por inteira, então, meu coração começou a bater mais rápido, como se dissesse para eu responder "sim" àquela investida, porque queria muito amá-lo de novo, como se fosse a primeira vez.

Subi no colo dele enquanto ele se ajeitava para ficar de frente para mim e sorri com a mesma malícia. Estávamos conectados agora. Meu corpo já começava reagir, ele me deixava excitada só de me olhar e eu sentia sua manifestação enquanto rebolava em seu colo.

Então me puxou pelo cabelo com uma pegada monstruosamente incrível. Ele sabia me dominar e sabia que eu adorava ser dominada por ele. Que mãos! A sincronia dele era ótima, beijava meu pescoço enquanto tirava a minha blusa porque ele já tinha calculado que o próximo resultado seria se afogar em meus seios. E assim o fez, deixando-os completamente aflorados e potentes.

Quando ele percebeu que meu corpo já estava todo enrijecido de tesão, passou a língua com delicadeza em meus seios e fez questão de deixar uma marquinha para eu lembrar da nossa manhã chuvosa de amor.

Depois foi minha vez. Beijei seu pescoço enquanto tirava sua cueca, olhei para ele e vi o quanto ele queria que eu o saboreasse todo. Então eu o fiz, comecei com delicadeza e ia aumentando a velocidade a cada gemido que ele dava, queria atiçá-lo e queria que ele me pedisse mais, para não parar e ficar ali para sempre. Então, enquanto eu o acariciava com os lábios, ele murmurou o quanto eu era maravilhosa e o quanto ele queria explodir em mim.

Mas, eu fui malvada e egoísta. Parei e pedi para que agora ele sentisse o meu gosto. E assim o fez sem reclamar, pois gostava mais disso do que eu mesma. A língua dele se mexia na frequência certa e no lugar certo, aí passei a lembrar das aulas de física que ele me explicou e entendi que as ondas eletromagnéticas dos nossos corpos estavam produzindo energia.

E essa energia aumentava a cada movimento produzido, eu sorria enquanto gemia e só conseguia pensar no quanto aquele homem era incrível, já ele olhava de baixo para o meu rosto e me excitava mais, ele queria ser o motivo do meu orgasmo. E foi.

Meu gemido estrondava nosso quarto, fiquei em êxtase, fiquei mole e só queria que aqueles cinco segundos durassem cinco horas. Não tinha forças para emitir palavras, e ele sabia disso, então nos beijamos calorosamente, mais uma vez. Ele me olhava com satisfação, tinha orgulho do seu ato e mais orgulho por me fazer ir conhecer as estrelas sem sair da nossa cama.

Agora eu tinha que recompensá-lo, precisa fazê-lo explodir assim como eu, ou até mais, até porque eu também queria ter orgulho de mim. Então voltamos a posição inicial. Montei nele e comecei a cavalgá-lo delicadamente. Nos olhávamos penetrados, em todos os sentidos da palavra. Mas, eu queria que ele deleitasse para mim e em mim. Aumentei a velocidade e ele fechou os olhos. Queria pegar em meus seios, mas só conseguia sussurrar "eu te amo" milhares de vezes seguidas. Então, no último murmúrio, ele chegou ao ápice e conseguiu ver as estrelas como eu. Sorri feliz por tê-las contemplado comigo.

Depois de termos visto constelações, deitamos um de frente para o outro, como estávamos quando acordados pela chuva, e nos beijamos com paixão. O som da chuva ainda tocava e ele acariciava meu rosto como se ainda estivesse contemplando as estrelas. Fizemos amor naquela quarta feira chuvosa, ao som dos pingos caindo no telhado, e ainda nos derramamos por inteiro um no outro, por amar.

Por Emma Alfie.

Beija eu

O momento do banho sempre foi uma hora sagrada pra mim. A pausa no meio do caos, das cobranças intermináveis. Me coloco debaixo do chuveiro, sempre no morno, fecho meus olhos e imagino toda frustração indo embora junto à água. Me transporto para uma realidade onde não há prazos, chefes exigentes, contas e contas pra pagar... E tem a música, é claro, da minha melhor playlist no Spotify. Às vezes eu me atrevo a cantar, berrar junto à música, para infelicidade dos vizinhos.

Hoje a música está bem alta. Uma música leve e romântica em alto som cura todos os males. Quando é Silva canta Marisa então... Não há dor que esse álbum não cure. Coloco a melhor canção de todas: Beija Eu. Fecho meus olhos, extasiada com os primeiros toques da faixa. Nesse instante de concentração, penso ouvir a porta do banheiro se abrir. Como sempre, a deixei destrancada. Abro um dos olhos, encaro o box de vidro que é apenas neblina. Pode ter sido o gato... Como sempre o espertinho atrapalhando em momentos indevidos. Mas poderia ser alguém muito melhor, com pés no lugar de patinhas.

Me vejo passando minha mão no box, a fim de conseguir enxergar algo além do embaçado. Em seguida, posso ver os cachos desgrenhados e costas nuas com duas lindas covinhas. O invasor lava seu rosto, molhando a ponta de seus cachinhos do topo da cabeça. Seca o rosto atrapalhadamente, então percebe que está sendo observado. Provavelmente vê apenas um par de olhos entre o pequeno espaço visível da porta de vidro. Sua cara amassada esboça o mais lindo sorriso. Minhas bochechas coram sem que eu nem mesmo saiba o porquê. Depois de 6 meses juntos, ele ainda tem o poder de me deixar envergonhada.

Observo a porta de vidro sendo arrastada com lentidão. O invasor primeiro entra, depois me vê, quieta, apenas a música tocando. Sua gargalhada gostosa reverbera pelo banheiro. Meus olhos se perdem nele, nos músculos definidos, nas tatuagens que sempre ficam ocultas pela roupa. Mas agora, naquele banheiro, iluminado pequena luz da janelinha, seu corpo inteiro reluz. "Me beija..." a música diz as palavras que eu simplesmente não consigo dizer. E nem precisa.

Ele não perde tempo. Temos hora para tudo. Pra trabalhar, estudar, reuniões, entregas... Mas para amar não existe hora. Toda hora é hora, e não há como deixar pra depois. O amor pede por mais tempo, e a gente oferece apenas alguns intervalos da vida pra ele. Talvez não seja tudo o que gostaríamos, mas felizmente, são as pequenas pausas que alimentam o sentimento. Queremos sentir inusitadamente o coração palpitar, sentir o desejo crescer, ver a paixão transbordar.

Ele me puxa em sua direção. Todo calor se intensifica e a água se torna menos quente que o encontro entre nossas peles. Seus olhos castanhos encontram os meus. Eles brilham e depois se fecham quando nossos lábios se encontram. Suas mãos envolvem meu corpo molhado e escorregadio. Encontram todas as minhas curvas, minhas tatuagens também escondidas, partes que tanto me deixam insegura. Minhas mãos também brincam, mas escorregadias e inseguras demais.

Fico desnorteada com seus beijos. Estão nos meus lábios, em meu pescoço, e descem... E ardem de forma gostosa. Felizmente, perco a noção do tempo. Seus beijos deslizam... Esqueço que é segunda feira. Suas mãos me erguem sem hesitar... Emprego? Nunca nem vi. Nossos corpos se unem, se encaixam, e eu já não sei de mais nada. Ele é minha pausa em meio ao caos, a correnteza que leva todos os problemas pro ralo. Momentos assim não deviam acabar. Mas infelizmente, se encaixam apenas nos momentos de pausa, como na hora de tomar um belo banho.

A imagem dele sorrindo continua se repetindo em minha mente. Quando abro os olhos, estou sorrindo também, como uma pré-adolescente apaixonada. A água ainda cai, a neblina aqui dentro contínua. Passo a mão pelo box do chuveiro. Olha para o lado de fora, e o gato me encara de volta, miando. Estamos de volta à realidade e cá estamos: só eu e o gato, como eu duvidava.

Me enrolo na toalha e pego o celular. Ignoro as várias mensagens nos grupos de WhatsApp e nem vejo o horário. Tudo o que me resta é mandar uma mensagem para ele. Talvez seja o único momento que eu tenha no dia para enviá-la.


Por Mary-Louise Paris.

Empate

Você não é ela.

Tentei te ver diferente mas você simplesmente não é ela. Bem aqui nessa cama, lembro daquela tarde de Março com riqueza de detalhes, nunca vou esquecer do dia do nosso casamento. A gente com planos de assinar os papéis e entrar direto no avião pra ir pra calma das praias do Havaí curtir a lua de mel e um ao outro. Surpresa: Todos os voos cancelados, chuva torrencial, daquelas de fim de mundo. Recordo como achamos graça da situação enquanto outros casais se desesperariam. Nós sabíamos que ia ser um momento ímpar independente do endereço. Naquele dia estávamos começando a construir a nossa família e isso nem toda tempestade do mundo poderia nos tirar. 

Lembro da gente chegando no apartamento- antes seu, agora nosso- depois da viagem frustrada, você completamente encharcada de chuva, e rindo. Acho que nunca te amei tanto como naquele momento. Minto, me apaixonei mais ainda quando você saiu do banho e te vi na porta do banheiro vestindo apenas um moletom meu surrado,  daqueles claramente emprestados de tão largo, e de meias coloridas. Ali, tudo que já tinha acontecido comigo de ruim na vida desapareceu, só por ter você ao meu lado, poder te chamar pela primeira vez de esposa.

Fui ao seu encontro como um maratonista antes de cruzar a linha de chegada: quase correndo e com uma sensação de vitória sem igual, te desejava por inteiro. Meu corpo pungiu só de encostar no teu, minha mulher. Parte de mim logo se ascendeu, enrijeci. Entrar em você era como completar um quebra-cabeças, nos encaixávamos. Me senti como uma pedra quicando em seu lago, tudo fluía. Seu prazer era o meu prazer, beijar seus lábios e ouvir seus gemidos quando eu atingia um ponto especial só aumentava minha virilidade. Estar dentro de você, em todos os sentidos, era como ouvir minha música favorita, melodia perfeita.

Antes era só te tocar, a personificação do meu amor, que a excitação se tornava presente. Isso quando você era Ela. Agora minha ereção me causa um quase ódio, me deito com Judas. Tenho raiva de você por ter traído minha confiança, raiva de mim por ter falsamente te perdoado e deixado as coisas chegarem a esse ponto. Se amante significa “aquele que ama” então você compartilha amor com outro que não eu. Penso se não talvez em um de seus encontros já não estiveram nessa mesma cama em que estamos agora. Essa imagem não sai da minha mente, por isso, já não te penetro da mesma forma porque você não esta dentro de mim da mesma maneira.

Estar com você agora é ter o Bono cantando with or whithout you sem parar na minha cabeça, me afeta. Não faço mais amor com você, faço sexo, e daqueles baratos. É puro desejo carnal com um toque de luto ao meu sentimento por você, que é moribundo. Transo com você quase com repulsa, até cuspo. Te amo com força, por você ter matado o amor da minha vida, dentro de mim. Assassina, nunca vou perdoar seu suicídio. Antes a relação era símbolo de paixão, futuro, possíveis filhos e agora é humilhação, fracasso, é triste.

Me meto em você que tem o mesmo sangue, mesma história e anatomia da mulher dos meus sonhos mas agora te vejo com outros olhos. Você não é mais ela, minha esposa não me trairia, eu já não te conheço mais. Entro e saio do teu corpo quase como punição, por impulso. Como em dom Casmurro “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida” então te amo pela última vez lembrando da primeira. Depois dos orgasmos, você sai do banho com as mesmas meias coloridas só que agora enxergo tudo em ti em preto e branco. Só deixo pra trás gavetas vazias, como sua consciência, pra você sentir a mesma dor que a minha, a perda. Empatamos, mas nós dois perdemos o jogo.

Por São Valentin.

Nada bem

Ponho minhas mãos ao seu lado, a prendendo contra a bancada. Elena se vira repentinamente, seus olhos denunciam o misto de confusão e curiosidade que acentua os castanhos deles. Um perfume suave de erva doce se intensifica ao passo que aproximo meu rosto de seu pescoço, deixando-lhes beijos lentos, a fazendo arfar um pouco. Volto minhas mãos para suas coxas, as pegando com firmeza e a colocando em cima da base de granito. Agora, ela que me prende contra seu corpo com suas pernas envolta a minha cintura. É engraçado pensar que até cinco minutos atrás estávamos discutindo por algo extremamente bobo e agora sua pele sendo iluminada com o sol do fim da tarde está me convidando para distribuir beijos por cada parte dela.

Começo a percorrer o caminho de suas costas, me perguntando quantas vezes disse à ela o quanto era macia e suave...Talvez umas centenas? Não sei. Ainda assim repito. 

Seguro seu queixo, deslizando a ponta de meus dedos suavemente pelos seus lábios entreabertos e em seguida a ponta da língua, a provocando antes de finalmente beijá-la intensamente. Elena envolve meu pescoço com seus braços, deslizando suas unhas na minha nuca. A aperto de forma mais forte devido aos arrepios que vão se espalhando pelos meus braços e pernas. Acabo por começar a despi-la, iniciando pela blusa e em seguida o sutiã, deixando-os livres da forma que ambos gostamos.

Apanho seus seios entre minhas mãos e com a língua sinto a maciez de sua pele. Seu cheiro me deixava extasiado, seu toque me fazia ansiar por poder finalmente colocar seu corpo perfeito em mim. Seus suspiros ao pé do meu ouvido me faziam ansiar por tê-la.

O corpo de Elena corresponde a cada toque meu. Podia ver isso a cada movimento mais forte, a cada aperto, a cada suspiro. Não importando onde eu a toque e acaricie, podia ver sua pele vibrar.

Ela agarrou minha camisa e a desabotoou, jogando o restante de nossas roupas longe, me trazendo para mais perto de si. 

As mãos de ambos passaram a explorar um ao outro, sabendo seus carinhos preferidos, nos lugares certos, que nos faziam suspirar. Meus beijos lentos e precisos um dia ensinados por ela acariciavam sua intimidade, fazendo-a se contorcer, em uma sensualidade que me deixava louco.

Agora sobre a superfície macia da cama, cuidadosamente me coloco entre suas pernas, instigando-a e intensificando até que estivesse pronta para o momento de penetrá-la. E assim, tudo ficou em seu lugar exato, certo, perfeito...

Estando sobre mim, nos abraçamos ainda mais forte. Beijo cada parte de seu rosto, ouvindo a doce melodia dos sons que emite. Com o passar do tempo, sentíamos a necessidade de mais prazer, mais intenso, mais forte, mais rápido. 

Além de amá-la, amava fazer amor com ela.

Nossos nomes começaram a ser murmurados entre as falhas respirações. Gotas de suor deslizaram sobre as curvas que eu segurava com força. Nossas mãos estavam fortemente entrelaçadas. Meus pensamentos começaram a se dissolver, a se apagar. Os nós que tinham se formado em nosso ventre, começaram a se desamarrar. Seus olhos se fecharam e eu me juntei a ela. Senti nossos corpos se contorcerem e logo em seguida se desmancharem... O mundo embranqueceu-se, se quebrando em milhares de pedaços e depois se juntando novamente, se recompondo. O mundo nunca mais seria o mesmo.

Elena sorriu satisfeita, pondo seus dedos nos meus lábios, acariciando-os enquanto lhe devolvo com beijos. Ela se deita de costas para mim e eu a abraço. Rindo por tentar entender de como de uma discussão viemos parar aqui. 

Ela respira fundo e sussurra sobre o quanto somos bons juntos. 

Bem, como eu poderia discordar?

Por Safira Audittore.

Posso te fazer sentir?

Feche os olhos e respire fundo. Sinta seu corpo enquanto lhe toco com minhas palavras. 

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Você o encara fixamente enquanto ele se aproxima com os lábios cerrados e um olhar penetrante. Te invade sem pedir licença. 

Depois de alguns passos, para e se projeta em direção a sua face. A mão dele, quente e macia, contorna sua nuca e faz com que nada mais faça sentido além de suas próprias sensações. Certamente vocês trocam alguns cumprimentos. Isso não importa. Ficará esquecido no vão do desejo. 

Adrenalina.

Aquele pretexto. Aquele toque. Seu corpo se arrepia e você não consegue disfarçar. Ele nota seu desconcerto e te faz rir de si mesma. E te puxa pela cintura como quem a tira para dançar. Seus corpos se fundiriam aqui, não fosse o anteparo que os aparta. Por pouco tempo.

O blues que toca ao fundo os reveste e é então que você percebe que tudo foi milimetricamente planejado. Você tenta recuperar, na memória, como isso aconteceu, mas os dedos firmes que acariciam tua pele por sob a camisa esvanecem seu pensamento.

Dopamina.

Com delicadeza, ele desvela seu corpo peça a peça e te entrelaça entre seus braços. A respiração ofegante se mistura com sua pulsação rítmica. Cadências de um desejo impetuoso. 

Enfim, você se permite desmoronar e ambos se entregam. Você se enrijece e se contorce e implora para que esse instante se eternize. 

Endorfina.

Tudo escurece. Tudo se silencia.

De olhos fechados, você se sente por inteiro. 

Em algum tempo, as batidas de seu coração se recompõem. 

Sinta-as. Elas regerão o ritmo do porvir.

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Posso ser eu?

Por Peripatético Peri.

365 dias

Não me recordo agora porque parei pra contar, mas mês que vem faz um ano. Um. Ano. Um ano que você me beijou, me encostou, me puxou daquela roda. Um ano que você me chupou, me acariciou, me abraçou, me mordeu, me bateu, me despiu e me fez acreditar que sairia algo bom dali.

Note que eu falei encostou, não tocou, você já havia me tocado há semanas. Você tinha me tocado nas conversas, nas cantadas, nas promessas, nas piadas, nas imagens, em todo aquele papo de ter medo d'eu enjoar de você, que você não saberia viver, você ficaria mal, você tinha vivido 16 anos infelizes porque não tinha me conhecido ainda. Pois bem, eu vivo infeliz aos 16 anos e você tem sua parcela de culpa nisso.

Eu me lembro dos sorrisos, do tesão, da paixão. Me lembro do gosto dos teus beijos e daquilo. Me lembro do sabor de fazer com você pela tua casa, do prazer de ter a tua língua nos lábios, não os de cima. Me lembro de escrever pra você e de não mandar, mas ler e reler 500x imaginando qual seria a tua reação.

Acho que eu deveria ter parado quando eu percebi que tinha MEDO de te mandar porque eu sabia, eu sempre soube, que sentimentos te assustariam, te afastariam, te levariam embora de mim e eu não queria, meu deus, eu não queria que você saísse daqui.

Não que isso te importe. Você queria o carnal, queria o boquete, o sexo, o beijo, a putaria escancarada no sofá do teu apartamento e não, eu não vou falar que não queria, óbvio que eu queria, sempre quis, mas não era só isso, entende?

Eu não queria só isso, não era APENAS sexo pra mim! Enquanto você me viu o tempo todo como um corpo, eu te via como uma alma, mas você nunca me permitiu tocar na epiderme da tua alma com a palma da minha mão, e se a Ana Carolina soubesse disso, ela ficaria desapontada.

Eu te amei.

Eu te amo.

Dói me culpar todos os dias. Todos. Os. Dias. Pela tua falta de amor por mim.

Dói analisar conversas e momentos de meses atrás em busca de onde eu errei, onde eu falhei com você pra que você não conseguisse me amar da forma como eu te amo.

Mês que vem faz um ano que nós colidimos. O buraco negro que habita no meu peito saúda o buraco negro que habita no teu.

Mês que vem faz um ano que meu planeta começou a diminuir até ficar menor que Plutão, perto de mim, ele é um enorme planeta. Porque mês que vem faz um ano que você me beijou e você nem se lembra disso.

Por Aza Holmes.

só + uma Silva

Podiam sentir o cheiro de terra molhada, havia chovido mais cedo. ele tentava, a cada movimento, sintonizar seus olhares, sabia que não a veria de novo. ela aceitou. e fotografou sua boca. seus olhos. seu nariz... e mais ainda a tattoo no seu peito: Anúbis, o deus egípcio, aquele mesmo com rosto de felino.

a mão do homem sentia a pele lisa cor de cacau, em contraste com a dele. a mão da mulher apertava e arranhava a maçã do rosto. e as roupas espalhadas pelo chão mostravam como foi tal ato impulsivo de selvageria.

já não conseguia dizer sequer uma palavra, estava ofegante. aos poucos, deixava de sentir os grãos ásperos, como os dedos que a tocavam, de areia em seus pés, anestesiados pela superfície gelada. não há uma maneira de descrever seus seios, pois não houve tempo de tirar a blusa, nem o casaco. e, provavelmente, o homem tatuado não saberia como desfazer aquela cama de gato que era o feixe do soutien.

para ela, era como se estivesse numa fenda temporal, na qual cada tic do relógio em seu pulso demorava mais que o normal. naquela altura, ele já tinha deixado de se importar que alguém, talvez atraído pelo barulho ou apenas de passagem, aparecesse e os flagrassem. 

a mulher, mesmo não conseguindo falar, mantinha-se lúcida e pensava: o que será que fez nós nos encontrarmos? destino ou apenas o acaso? azar ou castigo divino?

sabia que não o veria de novo.

tac

seu corpo foi encontrado na manhã seguinte.

Por Homem de lata.

"Posso te beijar?"

"Posso te beijar?"
Podia. Muito. Como eu queria que nossos lábios se encontrassem, sentir a boca dela, que parecia feita de veludo e relembrar o melhor beijo, o melhor toque, os melhores cachos que eu poderia acariciar.

O meu amor tinha nome, sobrenome e um corpo que eu queria descobrir cada pedacinho mais e se possível, ficar bem perto durante todo o tempo. Não foi uma sintonia qualquer, nossa relação não era banal. Não que eu quisesse que fosse com alguém especial por puro moralismo, mas foi o destino que me colocou ela no caminho. E então lá estávamos nós, encantadas com um encontro nunca antes vivido e cheias de vontades pulsando dentro de nós. Não tinha nada mais naquele momento que eu quisesse do que congelar e relembrá-lo pra sempre. 

A meia luz do quarto deixou tudo mais especial. Quanto tempo eu esperei por esse momento? Uma adolescente com os hormônios a flor da pele por anos desejou aquele dia com todas as forças e cada parte do seu corpo. Os beijos molhados que eu dava todos os dias me faziam contorcer por dentro esperando por aquela noite, e ela tinha chegado.

"Pode." "Tem certeza?" "Bastante..."

As mãos dela, que já não se comportavam mais, foram convidadas a abaixar as alças da minha blusa, o meu short, e quando eu percebi, nada mais na minha frente importava a não ser desvendar todos os caminhos dela. Então seus dedos exploraram cada parte de mim, apertaram a pele que clamava por mais contato, mais atrito, mais força. Meus dedos e minha língua também conheceram ela, os lugares que sentia mais arrepios e de repente os nossos líquidos se misturaram a saliva, suor, excitação, desejo. Os batimentos aceleraram junto com os sons abafados, eu encontrava seus olhos vez ou outra, cheio de verdade. E o momento antes do prazer, a ânsia inexplicável pelos segundos mais preciosos que desejávamos, segundos que parecem imprescindíveis para me dar a vida de novo. Vivemos isso juntas. E ela faz parte das memórias que eu nunca mais vou esquecer.

Por Desproporção sentimental.

Agora eles foram longe demais

Ninguém era capaz de sequer imaginar esta relação. Como conceber a ideia de que uma cantora pop, uma das maiores divas do Brasil, conhecida do Oiapoque ao Chuí, iria se apaixonar por um presidiário viúvo, que teve o país em suas mãos por anos, amado por uns e detestado por outros. Somado a isso, espalhou-se o boato por aí de que seria um dos maiores casais da história do país, de fato, pois a mídia fez questão de abafa-lo por dois motivos: por ser extremamente contra e ter medo da resposta do povo, e por ser um romance que quebraria todas as barreiras existentes no conceito de união estável. Era um amor proibido no país do futebol, nada mais clichê que isso.

Eles se conheceram pelo famigerado Tinder, o impulsionador de relações do século XXI, e trocaram seus perfis nas redes sociais. Seu ar de perigoso, mas ao mesmo tempo protetor a excitava. O primeiro encontro foi na visita à cadeia dele, em Curitiba. Naquele momento, o impacto das almas foi tão forte que estremeceu as vigas de concreto que mantinham o presídio em pé, fazendo com que fosse possível sentir o tremor pelo Paraná inteiro. As mãos da cantora começaram a alisar a barba branca dele, arrepiando-o pelo seu corpo inteiro. Simultaneamente, ele a colocou em seu colo, onde era possível ouvir o som do atrito de seu coberto pênis pela virilha dela, o que só deixava-a com mais tesão. Àquela altura, não havia policial capaz de separá-los, eram um só, e nada mais.

Começaram as retiradas de roupas, isto é, o retorno ao estado natural da vinda ao mundo. O macacão laranja foi rasgado pelas enormes unhas dela, e ele estava totalmente despreocupado com a necessidade de inventar uma desculpa para justificar o ato. Ele era puro libido. A rainha, que revolucionou o cenário musical do Brasil, fez jus a sua autoridade e começou a alisar o órgão sexual dele com as mãos, acostumadas a segurar um microfone na mesma posição. O movimento se repetia viciosamente, até que ela, desprovida de racionalidade em seu estado mental, começa a praticar sexo oral nele. Seus olhos claros faziam o mesmo trajeto: Os olhos entorpecidos do detento e seu membro rígido, com a agressividade necessária para deixa-lo alucinado. Ele queria mais.

O homem levantou sua saia, sem roupas íntimas, e a seduziu para o início da penetração, o clímax da trama. Ela ficou de quatro, apenas à espera da visita dele por seu corpo. A água de sua boca foi o lubrificante ideal para o começo do sexo anal. As mãos dele, que somadas tinham 9 dedos, puxavam o cabelo dela com o equilíbrio entre violência e prazer. Até que, em certo momento, o inesperado ocorre literalmente. Sem a prática do sexo desde a morte de sua ex-mulher e fora do auge de sua juventude, o homem acaba ejaculando antes do previsto. O tesão era tanto que fugiu do controle dele, antecipando o término da relação carnal que foi desenvolvida por eles. No entanto, o amor perdoa. A cantora compreendeu a situação e rapidamente o consolou, pois seu sentimento era intenso demais para ser dizimado por uma causa tão boba e normal.

Após a transição de animais em humanos, o casal se limpou como era possível, visto que estavam em uma sala de visita num presídio, e vestiram suas roupas como se nada tivesse acontecido. A primeira relação sexual pode não ter sido a idealizada por eles, mas teve seu ápice tão intenso que compensou o final mais cedo. Eles sabiam que o acontecido não seria rotineiro, pois ele não costumava ter visitas concedidas com frequência. Contudo, ela aguardaria ansiosamente pelo próximo encontro, imaginando que teria seus desejos sexuais realizados. Dessa vez, eles não foram longe demais, mas quem sabe na próxima...

Por Maria Joana.

Toda nossa história

Nunca pensei que um dia eu pudesse viver sem você ao meu lado. Quando a remota possibilidade desse pensamento veio até mim, não soube o que fazer, nem como reagir. Entrei em choque. Talvez estivesse louca, fazendo mil teorias em minha mente conturbada, e na verdade tudo estava bem. Mas não, dessa vez estava certa do que sentia.

Eu sabia que nosso amor estava se esgotando e, não havia nada que eu pudesse fazer. Hoje eu só queria a prova final. Precisava sentir isso em você, ter a certeza...

O relógio marca uma hora da manhã e eu te acordo no meio da noite de neve. Não quero desperdiçar o precioso tempo que ainda nos resta, não posso. O sono é um tempo perdido que poderíamos passar juntos. Eu então, te acordo no meio dessa noite para expressar meu amor por você, para lembrar a você o quão profundo é meu sentimento, antes que você me deixe e seja tarde demais.

Sob o calor de nosso cobertor, eu acaricio sua pele e saboreio seus toques em resposta. Meu corpo em chamas pulsa em desejo pelo seu. Nu, eu agora posso sentir seu corpo e sua alma. Nu, posso te sentir por inteiro. Seu corpo forte e imponente vem de encontro ao meu num movimento lento, cada célula em meu corpo se alinha para você e minhas pernas se abrem mais uma vez. Seus dedos vão de encontro as curvas de meu corpo e, com macia maestria eles me penetram tirando suspiros de mim. Os movimentos de introduzir e retira-los me levam as alturas. Quando você decide parar e me colocar sobre você, segurando firme em minhas coxas vejo que momento somos um só. Penetrando meu ser, você me deixa em êxtase.

Os movimentos longos e lentos logo dão lugar a uma sequência de investidas curtas e rápidas. Chamas consumiam nossos corpos em meio à noite. As palavras e gemidos que saiam de sua boca me indicavam seu desfecho a caminho.

Assim como a sua vida passa diante de seus olhos antes da morte, nesse momento, cada beijo, cada suspiro que demos juntos se formam em um lapso de tempo. Sinto essa explosão de sentimentos e sentidos de uma vez, cada momento, toque e emoção que compartilhamos vêm até mim, não consigo diferenciar o passado do presente. O tempo se condensa e meus sentidos são aflorados.

Eu desabo sobre meus joelhos e encho a boca de neve. A forma com que ela derrete e entra em meu ser.... queria poder derreter assim em você. E agora vazio de amor, seu corpo esfria, você perde o olhar apaixonado que parecia ter. Sinto que essa, realmente foi nossa última noite.

Eu te amo, te amava, te amei. Em qual indicativo você deixou se sentir o mesmo por mim?

Por AURORA MUNDS.

Alguém

Ao se entrar na adolescência seu corpo muda, e sua mente também. Você descobre a atração e o desejo pelo outro, despertando uma busca insaciável pelo primeiro beijo. Quando ele finalmente acontece, você se sente feliz e parte de um mundo novo, até descobrir que você ainda é virgem, e busca alcançar um nível superior desse novo mundo. Um dia você perde a virgindade, para alguns sendo bom e para outros não. Você finalmente acha que já provou de tudo na questão de se relacionar com outra pessoa, acha que sua vida mudou e que finalmente se tornou alguém para a sociedade. Eu não posso falar por todos, mas é o que mais vejo acontecendo, e que aconteceu comigo.

A realidade é que o sexo não te muda, é preciso algo a mais, é preciso de amor. Essa palavra tão simples com um significado tão forte, ela sim te muda. Ela sim te faz se sentir um alguém. E a forma que aconteceu comigo foi da maneira mais mágica possível.

Antes de conhecer Ana eu já tinha transado muitas vezes, em relacionamentos passageiros que logo são esquecidos. Mas tudo mudou depois daquele fim de tarde do dia 15 de novembro. Estávamos deitados em sua cama, olhando por sua janela o sol se pôr, enquanto conversávamos sobre as dúvidas e razões que tínhamos sobre a vida. Não posso dizer o que ela pensava, mas ao olhar para seu rosto iluminado pelo tom alaranjado do entardecer, eu consegui sentir uma atração muito diferente do que já havia sentido. Suas curvas delicadas e macias misturadas à luz do sol criavam um jogo de cores com a lingerie vermelha que ela usava. Senti minha pele arrepiar, o sangue gelar e a mão tremer enquanto ela me encarava. Nossos olhos se encontraram, e as bocas se calaram num caloroso beijo. E que beijo. Eu conseguia sentir o calor do seu corpo, sua energia e sua paixão com nossos corpos colados, enquanto a respiração ficava cada vez forte. Eu não sabia o que ela pensava sobre a gente, então decidi decifrar pelo seu corpo. Eu precisá-la o ler com as mãos, e foi o que fiz. Ana se entregou a mim da mesma forma que eu já havia me entregue a ela. Eu apalpava com carinho todos os cantos do seu corpo, beijava todos os seus lábios enquanto ela me arranhava e deixava suas marcas em mim, cada vez mais fortes. Essa mistura de carinho, violência, amor e desejo resultou numa combinação única e perfeita assim como o céu que admirávamos minutos atrás. 

Enquanto nossos corpos eram um, minha mente funcionava de uma maneira estranha, como se estivesse parada no tempo e ao mesmo tempo como se funcionasse rápida como uma máquina. O que eu sentia por Ana, antes confuso para mim, se tornou mais ainda enquanto eu a olhava movimentar seu corpo em cima do meu, para frente e para trás, como as ondas do mar. Ana sussurrou em meus ouvidos seus desejos momentâneos, que se encaixavam nos meus. Ana, que sempre foi uma menina doce e bela como um rio, mostrou seu lado forte essa noite. Me mostrou que esse rio deságua em um mar forte, violento e único. Como o mar, Ana se impusera na cama, me prendia e fazia o que queria comigo. E o que eu mais queria era me afogar em seu corpo. 

Eu também era como o mar, mas na minha mente. Enquanto ela me dominava na cama, eu tentava dominar minha cabeça e meus sentimentos. Como um bom navegador, eu enfrentei a fúria do mar de cabeça erguida, mostrando o motivo e a vontade de estar ali. Em meio as marcas de arranhões, mordidas e chupões pelo meu corpo, o mar finalmente se acalmou da ressaca. E foi ali, naquele momento em que nossos olhos se cruzaram como aconteceu durante o pôr do sol, a minha cabeça achou seu lugar. Eu soube que a amava. Eu a disse que a amava. E como resposta, Ana apenas fala "demorou para falar, eu só estava te esperando. Eu também te amo".

Nesse momento eu senti que tinha subido mais um nível nas relações com outra pessoa. Eu não era mais virgem de amor. Ana me ensinou muita coisa sem ao menos dizer uma palavra. Eu não tinha muitas certezas na vida, mas uma delas é que eu iria mergulhar naquele mar de cabeça, me jogar de vez, e, mesmo não sabendo o que iria encontrar, eu nunca iria me arrepender. Eu finalmente me senti alguém nessa sociedade escassa de amor.

Por Ninguém.

Até a eternidade


Naquele momento, a única coisa que nos separava era a fronteira dos nossos lençóis. Deitados sobre a nossa cama, dentro do nosso quarto, eu pensava o quanto nós tínhamos lutado pra estar ali e o quanto merecíamos  passar o resto das nossas vidas ao lado um do outro. Eu o amava incondicionalmente.

Aquela noite para nós, começou em uma troca de olhares. Ele me olhou do jeito que olhava quando tudo começou, e eu não pude evitar de achega-lo para perto de mim, tocando com cuidado o seu corpo que eu tanto conhecia. Ele me beijou docemente enquanto tirava o meu vestido de dormir, até que notou que por baixo dele, eu estava com a lingerie que ele sabia que era a que eu mais gostava, ou seja, aquele dia eu o queria intensamente me dando prazer. Sem dificuldade nenhuma pra tirar meu sutiã, ele passava suas mãos sobre mim, com um toque leve e ao mesmo tempo mágico, que me fazia ir a lugares inimagináveis. Eu o beijava enquanto arranhava suas costas, que era uma das partes do seu corpo que eu mais gostava. Tudo nele parecia se encaixar perfeitamente em mim, a nossa sincronia era notável até mesmo nessas horas. Ele sabia exatamente o que eu queria e gostava, por isso, passou sua boca no meu corpo inteiro e parou no lugar mais sensível e prazeroso possível de um jeito que só ele conseguia fazer, de um jeito que só ele sabia que eu era apaixonada. Não consegui evitar um pequeno gemido, e isso o fez mudar sua feição. Nos olhos que eu vi amor e carinho, eu ainda via tudo isso, mas acrescentado à vontade que ele tinha de me levar a loucura. 

Abrindo minhas pernas, ele veio pra mais perto e adentrou em mim com vontade enquanto beijava o meu pescoço. Eu não pude deixar de gemer e dizer o quanto ele era maravilhoso, o quanto eu o amava. Toda aquela movimentação me excitava ao extremo, eu não queria que ele parasse, e ele não parou. As costas dele já estavam vermelhas de tanto que as minhas mãos o apertavam e minhas unhas arrastavam. Até as mãos dele no meu cabelo deixavam claro o quanto ele me queria por perto. Eu sentia o calor do seu corpo, por mais que o ar condicionado estivesse ligado. Sentia seu corpo colando no meu, seus olhos olhando pra mim com desejo. Nossos sons já eram a música que tocava no momento, e era a única que eu queria ouvir ali. Meus gemidos já não eram nada pequenos. Seus movimentos eram do jeito que deveriam ser, suas vontades eram como as minhas, nós nos completávamos. Naquela noite fizemos como nunca antes, a sensação de êxtase e a nossa respiração ofegante mostravam isso muito bem. Não fizemos sexo, mas amor.

Eu era apaixonada por tudo nele, éramos jovens, recém casados, felizes e continuamos assim até quando ele tinha 75 anos, tempo em que ele teve um problema de coração e me deixou. Hoje a lembrança do seu carinho e seu amor moram comigo, ainda uso a aliança que ele me deu e deixo claro pra todos que ele foi e sempre vai ser o amor da minha vida. 

Por Lady Richie.

SOB A LUZ DO LUAR

Pouco nos conhecíamos. Já tínhamos tido algumas rasas conversas, dessas nas quais ambos ainda não haviam realmente se permitido mostrar quem éramos. Havíamos nos escolhido em meio a uma imensidão de rostos e corpos, naquele vasto universo de pessoas se oferecendo as outras fomos interligados.

Em poucos dias nos vimos. Nossa primeira troca de olhares denunciou nossa inabilidade para encontros do tipo, mas em poucas conversas o nervosismo fora embora e deixara apenas o desejo.  A cada nova sílaba dita em cada uma das diversas palavras trocadas nos emergia mais naquela atmosfera. Cada sorriso, cada risada nos momentos de descontração, cada olhar nos pequenos segundos de silêncio, cada palavra dita denunciava nosso desejo. Naquele momento já estávamos entregues. 

Enquanto conversávamos nos dirigíamos a orla. Naquele local, comum ao dois estudantes de solo niteroiense, encostamos em uma das diversas árvores de tal belo local e observamos a lua. Majestosamente ela se opunha a aquele imenso mar. Aquele era o lugar perfeito para aprecia-la, seu encanto cortava a escuridão da noite em belos tons prateados.

E sob a vigilância da lua, meu companheiro me tocou pela primeira vez. Ao sentir seu leve toque sobre meu braço percebi que aquele era o momento. Já não restavam palavras e nossa excitação nos dominava. O toque de nossos lábios era intenso, como se devêssemos aproveitar aquele momento como o último. Naquela breve eternidade nossos corpos se tornavam um só.

Os toques gradualmente evoluíam, e a cada nova área descoberta nossa libido implorava para mais. Ali, com nossas pernas entrelaçadas, a evolução dos toques aumentava e nossos corpos imploravam para mais. Nossas mãos adentravam camisas, calças e qualquer veste que nos impedia de nos sentir. Em pouco tempo sentíamos nossos membros mais íntimos tomados pelo outro. Nossos movimentos de ida e volta se tornavam mais constantes e por pouco não gritávamos  de excitação.

Uma festa acontecia durante nossa entrega. Pessoas passavam, DJs tocavam, jovens se beijavam próximos a nós...mas não importava. Aquele era o nosso momento. Aquela era nossa eternidade. Naquele momento apenas nós dois existíamos.

Embriagados de nossos próprios apetites, aquela bela orla já não era suficiente. Sem pensar encontramos o primeiro local no qual pudéssemos consumar nossa conexão. E ali aconteceu. Nos entregamos completamente. Nos preenchemos do mais ardente desejo que nos tomava. Eu o sentia em mim. Ele me sentia nele. Os toques se tornavam mais ásperos, mais profundos e o mais interno vazio em nossas almas fora preenchido ali. Aquele banheiro naquele momento se tornou nosso palácio.

E mesmo ali eu conseguia ver a lua. Naquela pequena janela lá estava ela, com sua clara imponência em meio a escuridão. Ela nos vigiava.

Não tenho palavras para descrever tal acontecimento. Não consigo entender como dois estranhos puderam se sintonizar tão fortemente nesse pequeno tempo. Nunca mais senti aquilo. Naquele momento me senti grande. Me senti pleno. Me senti imponente.
Naquele momento me senti como a lua.

Por JON LUVON.

Luxúria ou paraíso vermelho?

Quando tinha apenas cinco anos, fui sequestrada. Era início de junho. Um moço de capuz e óculos escuros me arrastou para longe da minha mãe enquanto estávamos no mercadinho de esquina perto da minha casa. Ninguém teve sinal de mim por trinta dias.

Meus pais desesperados fizeram diversas promessas à inúmeros santos pedindo a minha volta, até então nenhum tinha surtido efeito. No trigésimo primeiro dia, 13 de junho, a polícia encontrou vestígios do meu sangue seco à porta do esconderijo do sequestrador. Voltei pra casa. Minha mãe afirmou que isso tinha sido obra de Santo Antônio, que é celebrado na igreja católica no mesmo dia da minha volta e que intercede pelas causas perdidas mundanas. Na cabeça de minha mãe, ela só me teve de volta porque prometeu a ele que me colocaria em um convento para me tornar freira e ter uma vida casta. Fazem quinze anos, então, que estou nesse lugar santo. 

Mas não é essa história que vim contar hoje. Eu costumava achar que Deus curava todas as coisas e, por isso, era fiel à promessa de minha mãe. Nunca, nem em sonho, tinha desejado homem sequer além de Jesus. Tadinha de mim. Mal sabia que tinha uma coisa em particular que Ele não tinha como intervir. 

Todo o problema começou quando eu me deparei com aquele cabelo, irritantemente, bem ruivo. Uma parte de mim que eu não fazia ideia que existia começou a pulsar. Sorridente, aquela novata veio, com suas malas e seus milhões de problemas, dividir o quarto comigo. E que sorriso. Parecia uma boneca de porcelana, intocável. Sua pele conseguia ser mais pálida que a parede, menos suas bochechas que estavam rosadas pelo frio que fazia. Os olhos que eram profundos, esverdeados e lembravam o tom do mar, logo chamaram a atenção das irmãs no recinto que começaram com os elogios. Eu acompanhava a cena ao longe, sentada em uma das poltronas de frente para a lareira do convento, escondida por cobertas de lã. O cabelo dela... ah, aquelas ondas ruivas, tão vivas quanto as labaredas do fogo que observava dançar na lareira, chamavam atenção mesmo de longe. E foi, a partir desse dia, que passei a rezar fervorosamente para essa menina sair da minha vida. 

Estava escuro no dormitório. Nossas camas de solteiro foram postas estrategicamente juntas. Seus dedos gélidos passeavam delicadamente sobre a minha boca. Puxei-a para perto. Era a hora da oração no convento, estávamos atrasadas. Não ligava. O seu cheiro inundava as minhas narinas. Doce. Tão doce quanto o pecado. Seu olhar mareado me fazia sentir nauseada pelo desejo. Uma brisa fria nos envolvia, mas não sentíamos frio. Nossos corpos colados, o suor nos unia. Surpreendentemente, me vejo beijando a sua boca, e é possível esquecer, então, de todos os nossos compromissos. Deus me perdoe, mas eu quero descer. Descer pelo seu próprio universo ruivo e rosado. Não quero mais rezar, eu quero ela. Sua língua, tão conhecida, se perdia e se encontrava pelo meu corpo indefeso. Não pensava em mais nada. Literalmente, nada. E nesse vazio existencial, me afoguei de vez nela. 

Piscando na escuridão assustada, acordo e vejo que tudo não se passou de um sonho. Olhei para a cama ao lado e observei a ruiva serena em seu sono. Deus me livre, mas quem me dera. A verdade é que eu sei que vou acabar parando no inferno, mas mal vejo a hora de ir pra esse lugar quente e vermelho. Desculpa mãe, não sei se serei capaz de cumprir a sua promessa. Então, ajoelhei e rezei à Santo Antônio.

Por Lilac Sky.

Contra a parede

Me beije rápido,
Mas mova suas mãos devagar.
Levante minha perna
Segure minha coxa
Respire mais perto.
Cheire minha pele
Envolva minha cintura
Não precisamos deitar.
Segure meu cabelo
Chegue mais perto
Não há nenhum lugar que a sua mão não possa tocar
Não há nenhum lugar em que sua boca não deva chegar.
Trace uma linha reta e chegue até lá
Ajoelhe-se
Mantenha seus lábios em movimento
Você sabe onde sua mão deve estar.
Me pressione contra a parede
Segure o peso do meu corpo
Você pode fazer isso por muito tempo.
Me abrace e me segure
Agora minhas pernas podem falhar.
Rodrigo M. S.

Por Rodrigo M.S.



A primeira vez

Atenção: Proibido para menores de 18 anos.

Tinha chegado o dia, não era mais um dia qualquer e nunca mais iria ser, era o dia da “primeira vez”. Lembro de várias “primeiras vezes” da minha vida; na escola, no primeiro jogo de futebol e até mesmo, o meu primeiro beijo. Mas, essa era completamente diferente, seria a minha primeira relação sexual com a menina que eu sempre fui apaixonado.

Tudo conspirava a favor, meus pais viajaram, os vizinhos fofoqueiros saíram e a casa tinha ficado só pra mim. À hora ia chegando e o coração estava “saindo pela boca”. A verdade é que, todos nós homens, costumamos tirar onda de sermos autoconfiantes em tudo que fazemos, mas, pra falar a verdade, naquele dia, eu era mais uma criança que estava aprendendo a andar. E de repente, um “blim blom”, a campainha tocou, era ela, com aquele vestidinho vermelho colado no corpo, não sei se foi à cor que me lembrou, mas fiquei pegando fogo.

Assim que ela entrou, fiquei sem saber o que fazer. Pensei até em imitar aqueles vídeos eróticos que a gente assistia para não fazer feio, mas, o nervosismo misturado com certo medo era tão grande que, eu não conseguia pensar em nada. Mas, quem não se mexe, perde a vez. Então, tomei coragem, apaguei o meu charuto Romeu e Julieta Short Churchill, que fiquei sabendo de um professor que era um charuto bom e fui beijá-la. Era um beijo quente, assim que nos encostamos, pegamos fogo, era algo incontrolável. O chupão no pescoço já dizia onde iríamos chegar, fomos para o quarto, a cada peça de roupa que iria caindo, era à vontade aumentando. E o medo? Tinha desaparecido assim que olhei aquela mulher com sua calcinha de renda vermelha. Em um piscar de olhos, os dois já estavam sem roupas, os beijos ficaram mais quentes, os arranhões iam aumentando, aquela cama estava completamente incendiada. 

Começamos o ato, o nervosismo de antes, deu lugar a uma vontade absurda. A cama tremia com os movimentos intensos e os seus gemidos em meu ouvido, “pareciam” o hino da Champions League cantado pela Adelle com um toque do gemidão do WhatsApp. Uma primeira vez com classe, pra nunca mais ser esquecido. Uma descoberta de algo extremamente intenso e gostoso. Sem dúvidas, uma realização, até mesmo, porque, envolvia muitos sentimentos. E, é como dizem: “Transar é bom, mas fazer amor é muito melhor.


Por Lispector de Assis.

Delírio de amor

Era uma noite quente de verão. As paredes ainda estavam aquecidas pelo sol forte do dia inteiro. Foi quando eu caminhei em sua direção. Minhas mão deslizaram pelo seu corpo, subindo até sua cabeça, onde tirei sua tiara, e arremessei para qualquer lugar. Não vi. Meus olhos tinham somente uma direção. O arrepio em seu corpo dava o tom no momento em que minha boca agia de forma incosciente. Eu agia de forma incosciente. Nossa sintonia era tamanha que parecia que havia um roteiro pronto pra nós. Estávamos predestinados a viver aquele momento. Era total instinto.

O toque transmitia nosso desejo. Meu tato perpassava e sentia aquela pele inconfunível. Um afago doce. Uma carícia feroz.

O melhor lugar do mundo era ali. Nossa  transpiração se desmanchava como qualquer aborrecimento que me transtornava anteriormente.

O murmúrio de sua voz revelava o prazer. Prazer que me fez desejar que aquele momento não acabasse nunca.

E quando seu corpo desfaleceu, nossa temperatura estava a mesma daquelas paredes.

O mundo real não existia mais. Só o delírio. Nosso delírio.

Por Almirante João Cândido.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Tudo tão certo

Eu não te amo porque te desejo, mas te desejo porque te amo. Talvez você se pergunte como isso pode acontecer. Acho que fomos predestinados a ficarmos juntos, a nos amar e principalmente, a descobrirmos juntos o que que significa o amor. Eu já te amava antes de te conhecer pois sabia o que eu precisava, só não sabia que estava em você. 

Uma vez li que amor é mar. Talvez seja mesmo. Eu só quero mergulhar em seus braços, e o modo que fico quando te vejo me tira o ar e ao mesmo tempo oferece o suficiente para que eu possa viver. É um paradoxo. Eu quero me afogar em você, intensamente. Você é amar, não quero ter que ficar sentada na areia. Correr ao seu encontro é o que quero todos os dias, e aí que está meu desejo.

Não está na "simples" atração, mas na verdade de te querer por perto a todo momento, por sentir saudades no mesmo segundo que você precisa ir embora, de me deitar pensando como seria se eu pudesse ter mais dez minutinhos, que convenhamos, não seriam suficiente, mas qualquer tempo a mais é lucro ao seu lado, e esse lucro eu quero ter e buscar todo tempo. Talvez meu coração seja capitalista em relação ao meu amor por você, talvez ele te queira tanto ao ponto de te desejar cada momento a mais. Te amar é bom, é simples e profundo. Em meio a tantos "talvez", você é minha certeza. 

Por Lady Richie.

OCEANO

Te desejar é estar imerso no oceano.

Quando me permito mergulhar na sutil grosseria de seu abraço me sinto tomado. Há uma amálgama de sensações que apenas esse momento é capaz de me trazer. A imensidão de seus braços se molda a todo meu ser, me tornam gracioso, me tornam leve. Porém tal prazer é inconstante. Quando me entrego totalmente você se vai, e quando volta, suas ondas por vezes me machucam. 

Você é maresia. A névoa que te paira inibe minha aproximação, em meio a tantos pequenos detalhes e questões que te habitam, não conseguimos consumar nossa conexão. Tento me manter próximo, mas lentamente esse desejo me corrói. Me destrói. Me afoga.

Durante a ressaca você me afasta. Nossa excitação é tão avassaladora que nos machuca, e em meio a tragos e beijos nos entregamos completamente. Mas você se vai, me afasta e não permite adentrá-lo. Esses momentos são sempre os piores. 

Te querer em meio a esse oceano de sensações não é bom. Não sou um apaixonado eu lírico declamador de uma das mais belas poesias de Djavan, e sim, uma das diversas vítimas da queda do Titanic.

Te desejar não é estar nadando.

Te  desejar não é estar boiando.

Te desejar é estar naufragado.

Por Jon Luvon.

A tal da Lici

Ela era o amor da minha vida, mesmo que ela não tivesse noção disso. Ou talvez tivesse, eu não sei. Ela era uma nuvem de alegria, seu sorriso sempre contagiava o ambiente. A verdade é que todos amavam a Lici e queriam conquistar o seu interesse. Nunca consegui atrair a atenção dela para mim do jeito que queria.

Eu a via de muito longe, estava sempre acompanhada, mas desejava fortemente sua presença por perto. Mas não esse perto que um dia já possuí, um outro perto que ela parecia não compreender. Temos tanto em comum. Nascemos no mesmo dia e no mesmo hospital, meus pais logo de cara amaram a Lici, e quem não amaria? Desde então não nos desgrudamos. Até o dia que ela me trocou pelo ''bonzão'' da escola. 

Mesmo sendo o completo oposto da alegre Lici, resolvi, então, dar uma chance à Eza que nunca me abandonou. Possuía a aura pesada e deixava qualquer ambiente sombrio. Ela estava presente em todos os meus momentos de maior tristeza e melancolia. Não gostava da Eza da mesma maneira que ela gostava de mim. Apesar de nunca me abandonar, ela acabava sendo um constante lembrete da falta que a Lici fazia na minha vida. Terminei com ela, com muito esforço, pois Eza não queria me deixar ir. Comecei, então, a tentar reconquistar a Lici para mim. Nem que sejamos apenas amigos novamente, tinha que tentar. Eu só queria poder estar de novo com ela e sentir toda aquela alegria. A tal da minha felicidade. 

Por Lilac Sky.

Contos de fadas

Deixei a chave em um dos vasos de planta da entrada e já coloquei comida para o cachorro, sai sem me despedir porque se não perderia a minha passagem.
Na verdade, não. Na verdade, para início de conversa, eu comprei a passagem de trem para essa hora pois sabia que você não estaria em casa, planejava arrumar todas as minhas coisas, deixar um bilhete frívolo e sair, mas, novamente, nada está como eu esperava e esse bilhete virou uma carta.

Eu espero que nesse momento você esteja se perguntando o porquê dos meus cabides estarem vazios, tentando entender como, entre nosso jantar normal de ontem e agora, tudo acabou e eu fui embora. Eu espero que você esteja se perguntando onde errou, se errou, talvez imaginando se eu conheci outra pessoa e estou partindo para viver outro amor... Mas eu conheço bem a distância entre o que eu espero de você e o que você é, e por isso eu sei que você não está chocado e tampouco está criando teorias para explicar tudo, talvez por isso eu esteja escrevendo agora.

Antes de falar com você pela primeira vez no trabalho, eu te observei por meses, já estava mergulhada em uma paixão platônica e achava que sabia tudo sobre você. Depois que tudo isso se concretizou eu acho que me perdi, te amei mais do que qualquer um, mais do que a mim.
Eu te amei tanto que inventei você, e você de verdade não é quem eu amo. Eu amo aquele cara que eu observava e que de repente passou a dormir comigo, mas eu, sempre inventiva, recriava e modificava nossas vivências na minha cabeça. Nossos melhores momentos, nossas melhores conversas, nossas melhores transas... tudo eu inventei. Quando acabava, você dormia e eu virava para o lado para lembrar e mudar uma coisa ali e outra aqui... percebi recentemente que cada vez eu mudava mais e nos últimos tempos mudava tudo.

Talvez você esteja achando que eu estou louca, eu também acho, mas sei que estou certa sobre isso, sabe como? O "você" que eu inventei pegaria o computador que eu deixei para trás e procuraria até descobrir para onde estou indo, antes de terminar o primeiro parágrafo dessa carta já teria me ligado sete vezes, no mínimo, e correria para estação para, talvez, chegar a tempo de me impedir. Mas nós dois sabemos que você vai terminar de ler isso, sentar no sofá, assimilar por alguns minutos e depois ligar a TV, antes de uma semana já vai ter preenchido o espaço que deixei vazio no armário com roupas suas e, provavelmente, vai usar minha caneca para beber café sem se importar minimamente com a simbologia que ela carrega.

Eu não posso mais fingir que você é quem acho que é, eu não estou apaixonada por você, eu não desejo você e não amo você. Todos os meus sentimentos amorosos são em função de alguém que só eu conheço e que não existe. Isso me dói, mas não por ter que deixar você, me dói porque estou te deixando pra ir em busca do nada, da possibilidade de esquecer que eu quero ter alguém que tem seu rosto mas não é você.

O pior desejo é o que é ilusão, o impossível. Eu sofro porque o "você" que eu amo só existe pra mim, você é a minha fantasia e eu estou velha demais para contos de fadas.

Carta da ex namorada de Rodrigo M. S.

Por Rodrigo M.S.

Somos dois

Não sei escrever sobre as belezas da paixão. Tudo que coloco no papel soa clichê e piegas, mas não poderia deixar de escrever sobre as emoções que você me causa. Sinto-me embriagada ao seu lado, quase cambaleando pelos cantos. A sensação de estar caindo preenche todo meu corpo e calafrios sobem pela minha espinha. Eu não compreendo o que acontece e muitas vezes gostaria de não sentir nada, mesmo que significasse nunca mais amar. Cada célula do meu corpo pede para que toda essa paixão acabe, mas, se esse sentimento é passageiro, talvez eu sinta outra coisa. 

Fui tola em pensar que seus erros me afastariam de ti. Achei que meus sonhos cessariam e meu coração não aceleraria por achar que vi você passar. Mas ainda me sinto conectada, mesmo negando sempre que possível. Compreendo que meu desejo é exatamente isso: meu e apenas meu. Você não percebeu minha presença ontem e continuará sem perceber amanhã, enquanto eu não preciso olhar para saber da sua ausência. Quase como um sussurro ao pé do ouvido, meu corpo reage a sua existência e me avisa se estás por perto. Eu te sinto. 

Essa paixão é tão pura que a prefiro assim. Observo-te de longe e finjo indiferença e até desprezo, porque te odeio quase tanto quanto te desejo. Odeio por não poder te sentir, por precisar apenas imaginar teus beijos, teu corpo e tua voz rouca de excitação. Amo-te sozinha em minha cama, em meio aos lençóis. Quero-te em silêncio, sem necessitar de momento efêmeros. Não somos almas gêmeas, fomos feitos para ficarmos separados. Juntos formamos o caos, o Universo não estaria em ordem. 

No entanto, não significará que não te possuo em mim, você sempre estará presente em cada suspiro meu. Suas palavras nunca deixaram de ecoar em minha mente e seu cheiro nunca deixou de chegar em meus pulmões. Você é parte essencial de mim, que tentei por diversas vezes renegar, pois você não me merece. Desprezou cada traço meu, tentou destruir minha essência e pensou que estaria sempre disposta a te servir. Você é céu e inferno, e eu aprendi a aceitar meus próprios anjos e demônios. Por isso, te aceito em mim, mas a distância. Não somos amor nem ódio. Somos os dois. 

Por Jaci Roman.

Em busca do grande sonho

Apaixonar-me nunca foi o meu forte, minha adolescência toda foi baseada na música do Mc Kekel: “Uma vez solteiro, solteiro até morrer”. Sabe aquela fase maluca de não parar com ninguém? Então, já tive uma dessa. Sempre pensei que tinha algum problema, até porque, nunca conseguia namorar com ninguém. E uma das coisas que eu mais escutava era: “Calma, ela não era a pessoa certa”, talvez seja por isso que eu saia distribuindo amor por aí. 
  
Mas, sempre fui uma pessoa movida por sonhos e, um dos maiores, era namorar, casar e ter filhos. Quem nunca sonhou se casando com o amor da sua vida? Ou então, você dentro da sala de parto na espera do tão sonhado filho? Sinceramente, um dos maiores desejos da minha vida. A fase das “ficadas” ia indo embora, os 18 anos iam chegando e a pressão por um namoro aumentava. Não porque a sociedade impõe isso sobre a gente como se fosse uma regra, mas sim, pela realização do meu desejo.

Depois de uma grande espera, o destino tratou de me ajudar, colocou em meu caminho uma menina, mas não era uma simples garota, era A GAROTA. Foi amor a primeira vista, tudo era diferente, até um simples açaí se tornou inesquecível. A cada encontro, a certeza que ela seria a mulher que iria me ajudar a realizar todos os meus desejos ia aumentando. É errado imaginar um casamento no primeiro encontro? Se for errado eu não sei, mas foi o que eu imaginei. Os dias passavam e a minha única vontade era de ficar com a “A GAROTA”, aquela simples menina, que tinha me encantado, parecia ter soldado um feitiço daqueles bem fortes. Após alguns meses, tomei coragem e fui pedir a mão em namoro, no meio do caminho passaram muitas coisas na minha mente, me senti um “Neymar” estreando pelo time do Santos no profissional, pronto pra realizar o grande sonho. Quando cheguei à casa dela, o frio na minha barriga era mais forte que o ar condicionado da sala. Quando olhei para a parede, vi um quadro de fotos, tomei um susto, a foto do meu pai com ela e a mãe... Brincadeira, isso foi em um livro que eu li e podem ficar tranqüilos, não somos irmãos. Voltando ao assunto, deu tudo certo, consegui realizar meu sonho de namorar, e pra ser sincero, a melhor decisão que eu já tomei.

O sonho de casar ainda está distante e de ter filho então... Deixa pra daqui um tempo, por mais que seja meu sonho. Hoje tenho a certeza que meu desejo é essa garota, vulgo: mulher da minha vida. Não consigo mais me ver solteiro, essa menina me completa, consegui encontrar uma namorada e amiga na mesma pessoa, aliás, não posso deixar de agradecer a Deus de ter colocado essa menina em minha vida. Muitas coisas mudaram, até as playlist do meu celular. Antes era Mc Kekel o dia todo com “solteiro até morrer”, hoje em dia é só Jorge e Mateus e Ferrugem. E se você está ai preocupado por não ter ninguém, se acalme, tudo tem o seu tempo.

Por Lispector de Assis.

Esse tema me fez ficar triste

Ai ai

Eu me odeio. Me odeio pra cacete.

Eu demoro tanto pra fazer as coisas, e perceber outras, que quando o tempo passa as coisas ficam sem sentido de serem retornadas.

Se eu não fosse tão tímido as coisas seriam melhores pra mim.

Sou caladão. E observador. Sempre descubro o nome de todo mundo antes de descobrirem o meu.

Com Melissa o negócio foi diferente. Eu conhecia ela de vista, tínhamos um Amigoemcomum. Passamos a frequentar a mesma turma. Almoçávamos juntos. Conversávamos sobre coisa inúteis, e o quanto isso era legal. Novelas turcas, coreranas, mexicanas, disputa de curiosidades históricas - eu me considerava bom em curiosidades bestas, mas ela era imbatível. Ou sobre apresentadores de auditório. Gilberto Barros, Flávio Cavalcanti, João Kléber, Celso Portiolli e Gugu. Ela achava a voz do Jorge Perlingeiro engraçada. Eu disse a ela que o Chacrinha foi o maior de todos os tempos.

Eu percebia o quanto Melissa TAMBÉM era tímida. Totalmente discreta. Ela era muito eu.

Levou uns 3 meses pra então eu PERCEBER que tava gostando dela (inclusive, eu me assumo lento, mas gostaria de saber como vocês são tão rápidos! Bateu o olho e pá, minha nossa).

Houve um bololô que só me faria ela em uma semana. Nesse meio tempo eu viajei total.

Meus desejos eram (por favor não riam) muito fofos. Eu queria passear por aí, de mãos dadas, e comprar um açaí. Ir conhecer os pais dela, e levar ela pra conhecer os meus. Dançar coladinho Falamansa, que ela adorava. Chegar no ouvido dela e dizer, Meli, hoje a noite é nossa...

Cheguei na sala, ela não tava lá. No dia seguinte, e adivinha? Também não. Nem no outro. E no outro. (e na boa, essa semelhança com O Próximo da Fila FOI SEM QUERER, JURO). O Amigoemcomum me disse que Melissa saiu do pré vestibular. Ela ficou chateada que a maioria dos professores abandonou o curso por discordâncias com o coordenador, que resolveu cancelar as aulas por uma semana. Um bololô enorme. E eu me ferrei, por outros e ÓBVIOS motivos. Fiquei triste demais. Ela foi embora e eu nem apresentei a música que eu tinha certeza que ela ia gostar. Eu fui lento e lerdo. Eu odeio a minha lerdeza. Mas bola pra frente. Acontece né.

Continuamos eu e o Amigoemcomum estudando naquela trolha. Até que num não tão belo dia assim, contávamos histórias engraçadas e constrangedoras. Ele me disse que contaria algo que tava se relutando em dizer

- Fala aí pô - Eu disse
- Ih cara - Ele respondeu
- O que
- Meu guerreiro
- Que foi caceta
- Sabe aquela amiga minha que estudava com a gente no início do ano?
- Sei
- A Melissa
- EU JÁ DISSE QUE SEI
- Ela tava muito a fim de você, mas tinha vergonha de dizer

E começou a rir sozinho me dando uns tapinhas pra eu rir também.

Ai ai

Eu tenho motivo pra me odiar, não tenho?

Eu tava fantasiando o fato da menina que ter descoberto meu nome antes de eu descobrir o dela. E eu tava certo!

Timidez é uma porcaria.

Já dizia Chacrinha: quem não se comunica, se TRUMBICA.

Ai ai.

Por Almirante João Cândido.

(Des)encontro


São 22:45 de uma sexta-feira, recebo a última mensagem dele. Na manhã seguinte, pego o avião de volta ao Brasil. Tivemos uma coisa à toa, mais um desencontro do que um encontro, e eu nem tinha levado muito a sério. Estava mais a fim de curtir, interagir e aproveitar a minha viagem. Pelo menos, foi isso que pensei até botar meus pés no avião.

Não sei o que aconteceu no meu inconsciente. Parece que toda a vontade que eu tinha de permanecer em Toronto por mais alguns meses canalizou na figura dele. As lágrimas por deixar a cidade pela qual me apaixonei se transformaram em dor e vazio por ter deixado uma parte de mim lá. E se ele fosse o amor da minha vida? O que estava pensando? Nunca acreditei em amor, quanto mais em amor da vida. Queria trabalhar, viajar ao redor do mundo, morar sozinha, ser independente.

Foram 10 horas e meia de viagem. Assisti a três filmes, não gostei de nenhum. O problema não era os filmes, tenho certeza, mas como fui de cinéfila a não conseguir gostar de filme nenhum (ainda mais esses blockbusters que fica todo mundo comentando nas redes sociais, que preguiça), não fez tanta diferença. Chorei bastante, senti um vazio jamais experimentado antes. Me perguntava o que aquelas pessoas, entre brasileiros e estrangeiros, estavam pensando. Acho que foram as 10 horas e meia mais longas da minha vida.

Quando cheguei ao meu país, senti um alívio: “Agora, vou poder chorar na minha cama”, pensei. Nela, não fiquei uma semana ou um mês, mas meses, quase um ano. Ainda tentei uma conversa, após ter visto uma postagem em que ele dizia estar esperando por mim, mas tudo que consegui foi uma resposta vazia seguida de silêncio. 

O jeito como nos conhecemos e a falta de perspectivas na volta para casa fizeram com que eu romantizasse muito esse desencontro. Não sei se ele foi babaca, como alguns amigos disseram. Entendo seu lado, eu também não pensei bem nas consequências e no futuro daquela situação. Mas sei que ele não foi tão legal comigo, e que, com certeza, não é o melhor para mim.

Por muito tempo, pensei que não me interessaria por mais ninguém, e só conseguiria seguir em frente após voltar para Toronto e reencontrá-lo, nem que fosse para ver que ele estava com outra e nem lembrava mais que eu existia. Assim, pelo menos, daria um ponto final a essa história. Descobri, no entanto, que nem toda história tem que ter fim. Por meses, voltar para ele era tudo que desejava, isso se tornou minha razão de existir. Agora, ele é só uma lembrança.

Já ouviram falar da lenda da linha vermelha? Segundo essa lenda, duas pessoas que estão unidas pela mesma linha vermelha, amarrada no dedo, estão destinadas a se conhecer e, em muitos casos, se apaixonar. É aquela velha história de almas gêmeas. Eu, que não sou muito de romances, fui me apaixonar tão longe do meu país, por uma pessoa que nasceu mais longe ainda, do outro lado do mundo, que acabei acreditando em tudo isso. Acreditei que iríamos nos reencontrar, pois estávamos destinados a ficar juntos. Hoje, após ter me apaixonado de novo, por outra pessoa que mora distante, e que conheci numa situação mais inusitada ainda, acredito que sim, nós estamos destinados a conhecer todas as pessoas que entram em nossas vidas. Elas vão chegar, nos fazer refletir, nos bagunçar, mudar nossas perspectivas, nosso jeito de nos enxergarmos e enxergarmos o mundo (pelo menos, foi o que aconteceu comigo), mas isso não significa que elas estão destinadas a ficar ao nosso lado, pelo resto de nossas vidas. Após essa experiência, tudo que sei é que eu precisava encontrá-lo, e talvez ele precisasse me encontrar também. Agora, espero que ambos sejamos felizes. Ainda não cheguei lá, mas estou tentando, porque isso se tornou meu principal objetivo de vida. Espero que ele esteja tentando também.

Por Kunta Boyd.