sexta-feira, 8 de junho de 2018

A - J

Chego tarde em casa. Mais uma vez me encontro cansada de tudo e todos, por isso nem falo com minha mãe na sala. Logo jogo minha bolsa no chão e me afundo na cama. Pego meu celular e abro aquele aplicativo do foguinho. Você sabe qual, aquele que todos baixam, usam e insatisfeitos deletam na mesma semana.

(Pode-se dizer que agora eu estava na fase da insatisfação.)

Durante minha vida, sempre soube que algo me faltava. Não sabia exatamente o que era, mas sabia que faltava. Mesmo assim, mantive meu coração, um vasto oceano de águas claras e cheias de vida, aberto a todos. Foi nisso que eu o encontrei. Me sentia completa, era um sentimento tão forte e intenso que se tornava difícil pensar em qualquer outra coisa que não fosse ele. Porém, ele e esses sentimentos se foram numa manhã nublada e úmida. Estava sem chão. Eu não tinha mais meu coração, o que sobrara era um pequeno lago. Preto com o veneno da perda e da tristeza. 

A ausência pode ser vista por muitas pessoas como um espaço vazio e sem vida. Para mim essa era minha alma depois de sua partida. Mesmo depois de três anos, ainda me afogava em meu pequeno lago preto. Mas há alguns meses, pensei ter encontrado uma saída. Em um simples aplicativo, seus botões verde e vermelho formavam uma combinação simples e dialética para mim: o homem certo e o homem errado. Pronto, agora sabia como seguir em frente depois daquilo. O poder de mudar estava em meus dedos, estava na hora de ser feliz outra vez. 

Foram encontros atrás de encontros, ou melhor, desencontros atrás de desencontros, até porque eles todos me pareciam perdidos. Em todos os sentidos. Mas continuava tentando, afinal precisava continuar com a minha vida. O desejo de encontrar alguém próximo o suficiente de Jonathan me mantinha nesse looping de likes, conversas, encontros e desencontros. Foram necessárias algumas longas semanas para que eu percebesse o que na verdade estava acontecendo. Como pude ser tão imatura de pensar que eles poderiam preencher o vazio que existe em mim? Que preguiçoso da minha parte.

Esse desejo de imaginar que a qualquer momento poderia achar o próximo amor da minha vida me manteve esperançosa por algum tempo. Sentimento esse que pensei não sentir mais. Mas esse aplicativo conseguiu me mostrar algo a mais, na verdade o que a tela branca de botões verde e vermelho me mostrou de verdade foi que não ia fácil assim encontrar O cara. Não, antes disso seria preciso procurar por uma mulher acessível, mas nem por isso fácil, e nela plantar e cultivar esse amor que eu sabia que tinha. Era preciso desejar tanto aquela mulher, mais tanto, que nada mais poderia quebrar aquele laço amoroso. O que a tela me mostrou, foi que durante esse tempo todo, quem eu deveria procurar era eu mesma.

Não é uma caminhada tranquila, nunca foi. Mas o que está em jogo não é meu amor, é minha vida. Naquele dia em que ele me deixou, ele levou parte de mim com ele. Nos dias que eu via um homem diferente a cada noite, eles levavam parte de mim com eles. Eu não posso mais me perder. E se um dia alguém me levar por completo, guarde-me em seu coração, como todos que já foram embora.

Por Aurora Munds.

5 comentários:

  1. Ai Aurora, vamo se abraçar e chorar juntas? Que coisa linda... Tenho nem palavras pra descrever.

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  2. "O que a tela me mostrou, foi que durante esse tempo todo, quem eu deveria procurar era eu mesma." dei um leve sorriso porque isso me lembrou da minha crônica da primeira semana: A busca incansável pelo amor. Ah... que crônica linda! Parabéns pela escrita impecável e sim, você conseguiu MUITO bem transmitir seus sentimentos.

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  3. Que texto belo e forte, muita força pra voce, o amor próprio é a salvação!

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  4. Ahhhhhhhhhh, que crônica maravilhosa!
    Parabéns por ter conseguido expor tão bem seus sentimentos! <3

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  5. Que crônica incrível! Narrativa com uma fácil leitura,e que dá vontade de ler novamente. <3
    Precisamos nos amar mais,e você nos lembrou isso.
    Força,ícone e parabéns! <3

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