sexta-feira, 8 de junho de 2018

Canção do desejo

“I want you... I want you so bad... I want you... I want you so bad... It’s driving me mad... Driving me mad...”. I Want You (She’s so heavy) – The Beatles.

(Escute a canção antes, após ou durante a leitura) 

Eu te construo nos meus sonhos mais loucos e ilusórios. Você é a canção mais complexa que eu já compus. Uma composição com um quê de Lennon, de loucura e de absurdo. Você é o mistério que eu mesma criei, mas não consigo resolver. Você é tudo o que eu desejo, e tudo daquilo que eu mais fujo. Na minha imaginação, nosso encaixe é perfeito. Nossa química é mística, inacreditável. Nossas conversas duram a noite inteira, os assuntos nunca acabam, os sorrisos flutuam, nossos corpos dançam de acordo com a melodia...

Eu te vejo em todos os lugares, mas no final, você não está em lugar algum. Porque isso é como eu imagino você. Na realidade, sei que você é apenas como eu. Humano. Errante. Tem um sorriso estranho, faz piadas inadequadas, não liga no dia seguinte. Mas ainda assim eu tenho esperança de que você se torne quem eu criei. O meu maior desejo. Digno das minhas palavras confusas e desesperadas... E perdoe-me caso essa loucura não faça sentido.

Eu tento ignorar sua imagem, faço você parecer ninguém importante. Mas a verdade é que eu desejo você por inteiro. Posso tocá-lo, mas preservo minhas mãos apenas nos locais óbvios. Limito meus beijos para alguns poucos. Quero suas mãos por mim, mas as afasto o máximo que posso. Por favor me beije nos lugares sensíveis, mas por favor não prossiga por muito tempo. Acredite quando eu digo que te desejo por uma noite inteira, mas entenda que eu já programei a hora de voltar para casa. “Agora não”, “preciso ir”, “estão me esperando” ...

Sim, eu até te desejo por mais de uma noite. Mas rejeito que dure dias, semanas, meses... Uma vida inteira. Eu o desejo só para mim, como uma escritora que não permite que outros leiam sua obra. Mas a verdade é que jamais poderei ser só sua. Você tem todo potencial do mundo, carregas todas as minhas expectativas, minhas esperanças. Porém eu não posso me entregar. O medo me sufoca, a rejeição me ameaça, me perturba. Então fique aí com o gostinho de quero mais, pois não sei se poderei realmente te entregar algo.

Eu te afasto, desejo outras bocas, outras mãos, mas espero sempre que você continue a me esperar. Egoísta, eu sei, e sou. Mas você também é livre para ir. Apenas volte. E fique enquanto eu quero. Não se assuste com minha aparente insensibilidade, esses pensamentos me assombram também. Eu sei que você jamais deveria ser tratado como um objeto. É quando eu decido acabar com a enrolação, soltar as algemas, acabar com esse vai e vem. Então eu te afasto. Mas isso nunca funciona para mim, pois eu passo a te desejar ainda mais. Porque eu não posso não te ter. A falta desperta o mais profundo desejo.

 E no fundo de meu desejo, apenas gostaria de nunca enjoar de você. Meu desejo é o de que aqui dentro, dentro de mim, eu sinta desejo por você infinitamente. O infinito de uma noite, um mês, um ano, uma vida. Mas desejo que pelo menos por um desses infinitos, eu te deseje sem voltar atrás. Eu quero tanto você. Não me deixe ir. Vamos dançar essa última canção, antes que o medo me leve daqui.

Por Mary-Louise Paris.

3 comentários:

  1. Meu Deus Mary-Louise, seu signo é de água, PORQUE QUE INTENSIDADE EM MINHA AMIGA. Pra alguns pode parecer confuso esse misto de sensações, porque ele é muito próprio de quem sente isso e tem toda licença poética de não contemplar o entendimento de todos. Mas, eu senti e sinto tudo que quis dizer.

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  2. achei muito lindo, a música encaixa perfeitamente, foi uma leitura relaxante eu diria kkkk muito gostoso de se ler, parabens

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  3. crônica linda! adorei o trecho da música no início da crônica e a forma como você expressou seus sentimentos!

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