sexta-feira, 15 de junho de 2018

Alguém

Ao se entrar na adolescência seu corpo muda, e sua mente também. Você descobre a atração e o desejo pelo outro, despertando uma busca insaciável pelo primeiro beijo. Quando ele finalmente acontece, você se sente feliz e parte de um mundo novo, até descobrir que você ainda é virgem, e busca alcançar um nível superior desse novo mundo. Um dia você perde a virgindade, para alguns sendo bom e para outros não. Você finalmente acha que já provou de tudo na questão de se relacionar com outra pessoa, acha que sua vida mudou e que finalmente se tornou alguém para a sociedade. Eu não posso falar por todos, mas é o que mais vejo acontecendo, e que aconteceu comigo.

A realidade é que o sexo não te muda, é preciso algo a mais, é preciso de amor. Essa palavra tão simples com um significado tão forte, ela sim te muda. Ela sim te faz se sentir um alguém. E a forma que aconteceu comigo foi da maneira mais mágica possível.

Antes de conhecer Ana eu já tinha transado muitas vezes, em relacionamentos passageiros que logo são esquecidos. Mas tudo mudou depois daquele fim de tarde do dia 15 de novembro. Estávamos deitados em sua cama, olhando por sua janela o sol se pôr, enquanto conversávamos sobre as dúvidas e razões que tínhamos sobre a vida. Não posso dizer o que ela pensava, mas ao olhar para seu rosto iluminado pelo tom alaranjado do entardecer, eu consegui sentir uma atração muito diferente do que já havia sentido. Suas curvas delicadas e macias misturadas à luz do sol criavam um jogo de cores com a lingerie vermelha que ela usava. Senti minha pele arrepiar, o sangue gelar e a mão tremer enquanto ela me encarava. Nossos olhos se encontraram, e as bocas se calaram num caloroso beijo. E que beijo. Eu conseguia sentir o calor do seu corpo, sua energia e sua paixão com nossos corpos colados, enquanto a respiração ficava cada vez forte. Eu não sabia o que ela pensava sobre a gente, então decidi decifrar pelo seu corpo. Eu precisá-la o ler com as mãos, e foi o que fiz. Ana se entregou a mim da mesma forma que eu já havia me entregue a ela. Eu apalpava com carinho todos os cantos do seu corpo, beijava todos os seus lábios enquanto ela me arranhava e deixava suas marcas em mim, cada vez mais fortes. Essa mistura de carinho, violência, amor e desejo resultou numa combinação única e perfeita assim como o céu que admirávamos minutos atrás. 

Enquanto nossos corpos eram um, minha mente funcionava de uma maneira estranha, como se estivesse parada no tempo e ao mesmo tempo como se funcionasse rápida como uma máquina. O que eu sentia por Ana, antes confuso para mim, se tornou mais ainda enquanto eu a olhava movimentar seu corpo em cima do meu, para frente e para trás, como as ondas do mar. Ana sussurrou em meus ouvidos seus desejos momentâneos, que se encaixavam nos meus. Ana, que sempre foi uma menina doce e bela como um rio, mostrou seu lado forte essa noite. Me mostrou que esse rio deságua em um mar forte, violento e único. Como o mar, Ana se impusera na cama, me prendia e fazia o que queria comigo. E o que eu mais queria era me afogar em seu corpo. 

Eu também era como o mar, mas na minha mente. Enquanto ela me dominava na cama, eu tentava dominar minha cabeça e meus sentimentos. Como um bom navegador, eu enfrentei a fúria do mar de cabeça erguida, mostrando o motivo e a vontade de estar ali. Em meio as marcas de arranhões, mordidas e chupões pelo meu corpo, o mar finalmente se acalmou da ressaca. E foi ali, naquele momento em que nossos olhos se cruzaram como aconteceu durante o pôr do sol, a minha cabeça achou seu lugar. Eu soube que a amava. Eu a disse que a amava. E como resposta, Ana apenas fala "demorou para falar, eu só estava te esperando. Eu também te amo".

Nesse momento eu senti que tinha subido mais um nível nas relações com outra pessoa. Eu não era mais virgem de amor. Ana me ensinou muita coisa sem ao menos dizer uma palavra. Eu não tinha muitas certezas na vida, mas uma delas é que eu iria mergulhar naquele mar de cabeça, me jogar de vez, e, mesmo não sabendo o que iria encontrar, eu nunca iria me arrepender. Eu finalmente me senti alguém nessa sociedade escassa de amor.

Por Ninguém.

4 comentários:

  1. Ai que gracinha. Adorei o trocadilho do título com o seu pseudônimo. Muito amor, sim!

    ResponderExcluir
  2. Eitaaaaaa! Sensacional a forma como retratou a mudança quando se aprende a amar e a ser amado.

    ResponderExcluir
  3. Sem palavras. Sua crônica mexeu comigo de tantas formas... Consegui sentir sua paixão e desejo. Além disso, suas descrições ficaram fantásticas! Adorei demais esse trecho: "Suas curvas delicadas e macias misturadas à luz do sol criavam um jogo de cores com a lingerie vermelha que ela usava". Fiquei impactada a cada frase dessa crônica. Sem dúvidas, uma das minhas preferidas!

    ResponderExcluir
  4. Ai sério que lindo mano. As metáforas foram certeiras e eu adorei a transformação do ninguém em alguém. Amei.

    ResponderExcluir