Fulana

Odeio esperar. 5 minutos na sala de espera do médico e já me questionei se ele não estava maratonando as 14 temporadas de Grey’s Anatomy do outro lado daquela porta. Nunca pensei que fosse sentir tanta falta assim dos % de bateria do meu celular quanto ali naquele lugar, sem nada pra fazer. A moça da recepção deve ter percebido minhas várias reviradas de olho por minuto porque apontou uma mesinha com algumas revistas e livros para “passar o tempo”. 

Uma das capas tinha uma mulher sem rosto aparente e como título uma palavra que nunca tinha visto, O Zahir. Na curiosidade, comecei a ler e descobri que aquela expressão árabe significa “algo que uma vez tocado ou visto jamais é esquecido e vai ocupando nosso pensamento até nos levar à loucura”. Aquilo me pareceu tão surreal porque não achava que alguém pudesse ter esse poder sobre mim, até que conheci Fulana.

Poderia facilmente escrever laudas e mais laudas sobre como a desejo. 

Como sempre compartilho meus pensamentos mais bobos apenas para diverti-la, pois sua risada vale mais que todo o dinheiro que eu não tenho. Como desejo escrever um livro pra eternizar Fulana, que é infinita, dentro e fora de mim. Como vejo prós em todos os seus contras, como eu encontro sanidade em seus delírios, como eu a entendo, mesmo que ela não faça sentido na maioria das vezes. Nunca foi tão bom assim encontrar uma pessoa perdida.

Ela que apareceu pra mim do nada e deixou tudo mais colorido com suas cores tão vivas, é cheia de vida, e uma grande amiga. Fulana tem um relacionamento com outro, ela o ama e eu o respeito, mesmo querendo que ele não existisse. Tento sufocar esse eros e transformar em philia porque é melhor ter Fulana na minha vida, ainda que não da forma que eu desejo, do que não a ter de modo algum.

Às vezes acho que seria mais fácil se fosse tudo platônico e eu a observasse de longe, como se ela fosse todo um Universo e eu um satélite orbitando ao seu redor que mesmo sem poder chegar perto, me conformo com apenas contemplá-la. Só que eu conheço Fulana. Conheço tanto que de alguma forma ouço até o que não fala, ela tem muita coisa a dizer.

Sei que pode ir da chama mais branda até um incêndio completo em questão de minutos. Do rio mais calmo até um tsunami, da brisa mais amena até um verdadeiro furacão. Pode passar de uma semente a ser um planeta Terra inteiro. Esses 4 elementos que não são suficientes pra descrever o elemento X que é Fulana. Se a vida fosse um céu, penso que ela seria um OVNI.

Chego a me assustar com o quanto existe dentro de mim, como cresce a cada conversa, a cada novo detalhe nela que percebo. Agora entendo aquele livro porque me encontro arrastado pra toda essa loucura em forma de pessoa que é Fulana, o meu Zahir, mesmo não sendo minha. Já que não posso a ter penso que meu subconsciente, pra se proteger, tenta me fazer crer que na realidade essa suposta paixão é apenas admiração, uma idealização. Crio também teorias de que não desejo Fulana, e sim aquilo que não posso ter, ela sendo um símbolo dessa limitação, dessa falha.

Por vezes penso que sou de alguém que por agora não tem nome nem rosto, que ainda não conheci. Projeto essa minha falta em terceiros que por ilusão imagino ser a pessoa certa pra mim, questiono se não foi isso que eu fiz com Fulana, já que é mais fácil-na verdade, menos difícil- desejar um rosto que não pode ser meu do que um que nem sequer vi. Reflito se não talvez a espera me consome, me rasga e, por agora, Fulana me costura.

Mas aí ela brilha tanto que ofusca todas essas confusões, já que prego peças a mim mesmo, me confundo, me embaralho. Ela que carrega tantas outras mulheres em si, porque Fulana é muitas dentro de uma só. Pra mim ela é todas, pra ela sou apenas um. E eu me basto pensando nela, sendo dela, sem que ela sequer saiba. Mal sabe Fulana...

Por São Valentim.