De repente, uma fragrância nova toma conta daquela sala. Estávamos bebendo, rindo, conversando, dançando, e ela chegou. Com seus olhos de esmeralda. Com seu cabelo curto levemente ondulado. Com sua pele reluzente, que contrastava com o negro de seus cabelos. Com seus lábios levemente carnudos, tão perfeitamente desenhados, que me questiono como poderiam ser reais.
Ela era.
Ela é.
São mais de meio milhão de palavras registradas, mas nenhuma delas, sequer, era capaz de traduzir quem ela era.
Desde o primeiro instante em que a vi, não conseguia focar em mais nada e nem ninguém, além dela. Era como se o mundo estivesse congelado e mudo.
Menos ela.
Ela continuava viva para mim.
Com um copo de uísque na mão, dançando suavemente de olhos fechados, não havia mais dúvidas para mim. Estava apaixonada. Não pelo o que nasceu com ela. Seus olhos eram lindos, de fato. Mas não passavam de um convite para a sua alma, a qual eu ansiava em conhecer.
Tento esconder o que sinto. Agora pouco disse que, para mim, era impossível eu me sentir atraída por uma garota. E, então, ela surge. Bagunça minha mente. Quebra as minhas barreiras. Rasga a minha identidade. Não sei mais quem eu sou e, para ser sincera, não tenho tanto interesse em saber. Meu único desejo, naquele momento, era conhecê-la.
Coragem para falar com ela? Inexistente.
Foi aí que eu peguei meu caderninho sem pauta vermelho, surrado, por carregá-lo sempre comigo, e comecei a escrever.
“Quem é ela?
Quais segredos ela esconde?
Como pôde, em questão de segundos, me conquistar?
Eu sempre fui uma garota incomum
Tenho alma de camaleão
Sem personalidade fixa
Ampla e ondulante como um oceano
Sem bússola de moral
Mas
Se dissesse que estava planejando isso
Estaria mentindo
Se me perguntares quem sou
Não sabereis dizer
Mas, se me perguntares o que desejo
Responderei: “você”
Vamos dançar blues
Com desejo ardente
Sente-me
Cale-me
Deixe-me despir seu corpo
Sem pressa
Como uma primeira vez numa cidade
Um corpo é uma surpresa
Como abrir um presente
Não se pode com as mãos infantis
Desorientadas
Aflitas
Desesperadas
Ir rasgando invólucros
Um corpo é uma surpresa
Uma mistura de sensações inenarráveis
As quais devemos saborear lentamente
Ainda que a sede seja ardente
Beberei lentamente
Ainda que a gula arrebente meu ser
Devorarei-te como quem saboreia sua última refeição
Permita-me desnudar-te com destreza
Deixe-me explorá-la selvagemente
E os seus mamilos irão desabrochar como flores na primavera
Irei sugá-la como se fosses uma doce fruta
E quando não aguentares mais
Quando tiveres experimentado tudo
Levarei você ao último céu
Secarei cada gota de suor do seu rosto
Dar-te-ei leves beijos
Assim provarei que sei te amar
Amar-te não é coisa para amador
Amar-te é uma arte
E eu sou artista”
Quando termino de escrever, com os olhos trêmulos, segurando o choro, levanto meu rosto e lá está ela. Desta vez, em suas mãos, estão outras entrelaçadas. Desta vez, seus lábios conversam com outros, sem dizer palavra alguma. Não consigo mais olhar. Dói. Dói vê-la nos braços de um outro qualquer. Mas, tudo bem. É melhor do que te ver sofrer de saudade de mim como eu tô de você. Saudade daquilo que, na verdade, nunca existiu.
Já dizia um sábio professor que tive na faculdade: “Não existe nada mais cruel do que o futuro do pretérito”.
Por Andrea Melo.
ANDREA EU TE AMO. A forma como vc construiu a crônica ficou mt original e gostoso de ler. Escrita impecável e descrições mt bem feitas. Senti na pele a sua dor. Sensacional.
ResponderExcluirDigitando com os pés porque com as mãos estou aplaudindo. Deus é poderoso e essa crônica também! Maravilhosa, original e amei a citação do final. Muito boa a sacada.
ResponderExcluirAinda não li todas, mas já é minha favorita. De cara com esse poema no meio. Senti o seu sentimento pulando a cada sílaba.
ResponderExcluirParabéns. Parabéns. Parabéns.
Consegui sentir daqui seu misto de frustração e desejo... Adorei as referências a 5 à seco e à maravilhosa citação do professor ao final haha. Talvez tivesse evitado um pouco o uso de "ela" e suas contrações no começo, mas nada que prejudicasse o texto. Amei!
ResponderExcluireu usei bastante o "ela" propositalmente. Infelizmente esse recurso não agrada a todos :(, mas tô feliz que mesmo assim você gostou hihi obrigada!
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