sábado, 3 de junho de 2017

A insustentável leveza do ser


Sinto que sua presença é real: a leveza com que as palavras saem de sua boca e seus gestos com as mãos, que vão de baixo para cima como quem brinca com água, são sinceros. Não existe uma barreira sólida entre seu coração, seus sonhos e suas ideias. E não é assim que deveria ser?
Suas ambições são as mais incríveis possíveis: quer continuar vivendo o agora; poder ajudar as pessoas, ou até mesmo contribuir com a história, por meio da fotografia. Arte essa que é um registro da realidade e um auto retrato. Sua sensibilidade é notada e sentida. Meu coração gela e aquece algumas vezes durante sua apresentação.
Os cabelos cacheados lutando contra as cores do tempo, a calça jeans e blusa de malha não refletem mais do que pretende ser; quer ser simples. Não planeja ser vangloriado ou, sequer, lembrado. É um cara comum; magro, alto e com uma risada que, sozinha, preenche uma sala inteira. A informalidade do seu discurso, mesmo na frente de umas dezenas de desconhecidos, torna fácil sentir-se conectado a ele.
O mundo é um grande cenário político. E se admitir enquanto um ser essencialmente político é ter coragem. Seu ambiente de trabalho é um eterno conflito entre medo e paixão. Ou, quem sabe, esses sentimentos são complementares. Uma rotina a céu aberto, sob os perigos da rua e da truculência do poder. Constantemente sente-se sozinho – e não nos sentimos todos? – e, mesmo em momentos de desespero, suas atitudes refletem confiança e lealdade aos seus ideais que um homem sozinho tem de ter.
Felicidade coletiva: dentre as expressões que usou, essa foi a que mais me encantou, não tenho dúvidas. Sentir-se preenchido, eufórico, quase como se a existência fizesse um pouco mais de sentido quando outrem está feliz. Sinto que me tornei um pouco mais feliz no dia em que conheci Alberto.
Eduardo Galeano

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