sábado, 3 de junho de 2017

Utopia

Utopia

Quanto mais saio da minha zona de conforto, mais sinto o cheiro do diferente, do inesperado, do surpreendente. Digo isto porque dizem o olfato ser mais marcante que qualquer outro sentido. A maioria de nossas memórias sensoriais ficam nele registradas. 

Na fotografia, minha maior paixão, o sentido mais óbvio a ser relacionado é a visão. Para mim não. O simples enxergar é muito limitado. É passivo. A lente da câmera nada mais faz do que aprisionar o nosso já reduzido enxergar. Eu gosto de sentir, de levar tal sensação do infinitivo ao particípio. Sentido.... 

Em cada respiração tento inalar e exalar inspiração. Inspira, clica, respira. Respira, clica, inspira. Foto qualquer um faz. Cheiro de liberdade poucos retratam. Sou o Alberto, o Beto ou o Veiga. Fotojornalista, biólogo, esportista. Retrato a realidade da rua, a natureza da alma, a luta do povo. Devaneio através de imagens. Filosofo no papel. 

Tenho a câmera como constante companheira. Ela faz o ínterim entre o que sinto e o que os outros observam. Como já disse, ver, para mim, é muito pouco. Meu maior sonho? Revelar tudo o que sinto. Utopia, eu sei. Gosto de acreditar nisto. Mesmo tendo a origem grega da palavra como “lugar que não existe”, não me canso de lhe procurar. Ainda que provavelmente nunca o encontre, a busca terá valido a pena.

Thomas More, em sua mais famosa obra, trata do assunto de maneira que muito me agrada. Afirma que “A felicidade (dizem os utopianos) não está em toda espécie de voluptuosidade; está unicamente nos prazeres bons e honestos. É para estes prazeres que tudo, até a própria virtude, arrasta irresistivelmente a nossa natureza; são eles que constituem a felicidade”.

Todo dia ao acordar, após tomar banho, pentear minha rebelde cabeleira cacheada – uma das poucas heranças que ainda mantenho dos tempos de surfista – e fazer o desjejum, visto meu colete de imprensa, calibro minha câmera, a penduro no pescoço e me olho no espelho por alguns segundos, tentando inutilmente não franzir o rosto. Este franzir, resultado imediato de um incômodo interno de saber que é utópico conseguir revelar tudo o que sinto através de imagens, é o que me faz sair; seguir em frente. Me aventurar nos mais diversos campos de batalha que a fotografia me proporcionar. Enquanto eu ainda sentir isto ao ver meu reflexo, continuarei querendo mostrar algo mais que imagens com o meu trabalho, pois esta inquietação é o que realmente me faz feliz. E a felicidade, como já citei anteriormente, “está unicamente nos prazeres bons e honestos”.

Esta sim é a melhor parte da Utopia.

Alunx Wolverine

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