O tempo todo nós queremos ser reconhecidos. O tempo todo. Em tudo o que fazemos.
Talvez essa seja uma característica inerente ao ser, mas disso não tenho certeza, é apenas suposição.
Desde pequena, eu sempre quis ser a melhor em tudo. A aluna nota 10, a filha obediente, a amiga fiel, a namorada perfeita e a funcionária que acatava todas as ordens. Eu me esforçava para ser, sempre, a melhor aos olhos dos outros. E sofria quando tal esforço não era reconhecido. Havia, em mim, uma necessidade intensa de colecionar elogios. Para isso, não bastava eu fazer o que todo mundo julgava incrível, eu precisava mostrar todas as coisas boas que eu fazia e ocultar todas as ruins.
Acontece que ninguém é feito só de qualidades – nem a Sandy, acredite. Entretanto, eu não compreendia isso e vivia lutando para esconder os meus defeitos. Não só os defeitos, aliás, mas todas as opiniões, gostos, sonhos e desejos que iam contra ao que as pessoas esperavam de mim. Todas as minhas atitudes eram independentes do que me fazia feliz. Estavam todas, no entanto, interligadas ao que poderiam agregar à minha boa fama.
Grande parte da minha vida foi assim. Cheguei ao ponto de ajudar muitas pessoas... Apenas para me gabar do tanto que eu era caridosa. Quantas vezes eu repensei sobre o que faria com minha carreira de jornalista, porque tudo o que me importava era “ser famosa”. Deixei vários textos, trabalhos e coisas que eu amava de lado, porque não me renderiam “likes”.
Até que, certo dia, li uma reportagem sobre um homem que encontrava muita dificuldade para publicar seus livros. Apesar de escrever boas histórias, elas não eram comerciais. Por isso, ele precisava escrever sobre coisas que não o agradavam, que fugiam do seu estilo... para agradar ao público consumidor. Ele se tornou um grande autor de best-seller, ganhou muitos prêmios... mas nunca foi feliz.
Essa matéria me fez acordar pra vida. Percebi o tanto de mentira que havia em tudo o que eu tentava fazer ou ser; o quanto eu tinha me afastado do que eu realmente gostava e era.
O que eu perderia se minha vida não consistisse em receber elogios e reconhecimentos? E se eu me dedicasse, simplesmente, a buscar a minha felicidade e dar o meu melhor em todas as ocasiões – não só nas que me renderiam aclamações?
Em um desabafo com meu melhor amigo, ouvi: “Laurinha, Machado de Assis dizia que ‘os adjetivos passam, os substantivos ficam’”.
Depois desse sacode, resolvi ser eu mesma.
Resolvi ser a moça que dá o seu melhor, sem precisar mostrar. Que defende seus ideais e não tem medo de errar. Que, vez ou outra, deixa de atender a ligação de uma amiga só porque não “tá a fim” de conversar. Que vai escrever sobre moda, tatuagem ou decoração. E aceita os seus defeitos, seus sonhos bobos e seu corpo fora do padrão.
Resolvi insistir na minha busca pela felicidade e pelo amor próprio. Fazer tudo aquilo que eu realmente amava, ainda que isso não me levasse a conquistar prêmio algum. E confiar no que disse - o meu poeta preferido - Leminski:
“Isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além.”
Resolvi ser o que me levaria além. Sem o intuito de encontrar potes de ouro ou o prêmio Nobel da Literatura. Sendo eu mesma, encontrei minha cura.
Laura Haruna
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